domingo, 22 de julho de 2007

PRA NÃO MINIMIZAR E NEM SE INTIMIDAR COM OS ACONTECIMENTO DE SÁBADO NO ESPETÁCULO SALMO 91

Algo de muito grave aconteceu. Não vou perder isso de vista.
PRIMEIRO
A senhora Karina florido Rodrigues, ex-assessora do deputado Coronel Ubiratan Guimarães na Assembléia Legislativa de São Paulo, postou essa semana em vários blogs na Internet uma acusação contra a peça SALMO 91 dizendo que a peça era uma apologia ao crime e pedindo providências a sociedade. O artigo está no blog.
Sem ter visto a peça!
Foi então democraticamente convidada a assistir ao espetáculo.
No sábado, dia 21.07.2007, esteve à tarde na bilheteria, comprou seus ingressos, e de maneira intimidatória, em altos brados, se dirigiu à bilheteira dizendo que estava ali para comprar ingressos para a peça, que era um crime, e que se manifestaria ao final do espetáculo.
Mais: enviou correspondência à direção da unidade apresentando-se como de dirigente de uma ONG defensora dos direitos humanos, que estaria presente naquela noite assistindo ao espetáculo com pessoas vítimas da violência urbana e que queria da gerência da unidade direito de manifestar-se ao final da sessão.
Gerentes e funcionários da unidade do SESC tomados de surpresa conversaram com atores e direção da peça e de comum acordo foi decidido que ao final a senhora Karina poderia se manifestar.
Vinte minutos antes do inicio do espetáculo, Nilson, funcionário do SESC foi ao camarim levar um recado dado pela senhora Karina e seus acompanhantes:
- Diga ao atores que já estamos aqui!
Sentaram-se na primeira fileira do teatro.
O funcionário, Nilson, nos contou que grupo era composto de várias pessoas dentre elas se destacavam dois, um deles careca tipo isquinred , uniformizados com coletes que tinham nas costas uma caveira com a inscrição em inglês “lobos negros”. Qualquer semelhança com aquelas caveiras do esquadrão da morte não é mera coincidência.
Temendo pela integridade física dos atores, a gerência decidiu colocar seguranças, funcionários, na platéia pra que estivessem atentos caso fosse necessária alguma atitude no caso de algum ato de violência.
O Diretor Geral do SESC, Danilo Santos de Miranda, e outras autoridades do SESC estavam presentes na platéia e foram avisados dos acontecimentos.
Nesse clima tenso, a peça transcorreu sem incidentes.
Ao final, o ator PASCOAL DA CONCEIÇÃO se dirigiu ao proscênio:
- Peço desculpas a todos, mas interrompo para fazer um comunicado. Nós temos um blog da peça e esta semana recebemos algumas manifestações exaltadas contra o espetáculo, todas anônimas, mas uma delas, da senhora Karina Florido Rodrigues que se identificou como assessora do Deputado Coronel Ubiratan Guimarães na Assembléia Legislativa de São Paulo, e que escreveu acusando autor, ator e atores de estarem fazendo apologia ao crime, está aqui na platéia e pediu à gerência do SESC o direito de se manifestar e nós da peça, resolvemos que como espaço democrático, o teatro assegura a todos o direito de livre manifestação.
Houve uma surpresa geral e imediatamente um senhor da primeira fila gritou:
- Cento e onze é um número cabalístico. Deviam morrer cento e onze mil.
Na seqüência, o senhor careca, uniformizado com colete de caveira, sentou-se na beira do palco, dirigindo-se à platéia:
- Alguém aqui teve um parente assassinado por esses criminosos?
Um espectador respondeu:
- Eu tive sim, meu pai foi assassinado. Mas não é por isso que eu vou sair por ai defendendo a pena de morte pra todo mundo.
O skinred fez-se de surdo.
- Eu vou sair daqui com a mesma dúvida com que entrei: quando vocês riram e aplaudiram, vocês aplaudiram os atores ou os criminosos?
A senhora Karina disse que esse acontecimento, o massacre do Carandiru, tinha sido um confronto e que ela, que conhecera e convivera com o capitão Ubiratan sabia que ele sim era um defensor dos direitos humanos.
Nesse momento, 80% da platéia se levantou e saiu.
- Por que é que vocês não fazem peças falando do lado da polícia?
Os que ficaram ouviram a jornalista e pesquisadora Marta Góes retrucar:
- Então escrevam, produzam e façam a sua peça!
O clima foi o tempo todo vitorioso do lado da democracia e da liberdade de expressão.
Um jovem advogado levantou e disse olho no olho do isquinred que o artigo 5º da constituição brasileira falava sobre as garantias individuais de todos os cidadãos brasileiros, sem nenhuma distinção, e que era garantida a todos o direito a vida e que não existe na república nada que legitime a pena de morte, ou alguém que possa fazer justiça por si mesmo.
O Ando me disse que no estacionamento do SESC esse jovem foi ameaçado pelo isquinred mais jovem que disse aos berros que não precisava saber o nome dele porque ele tinha gravado bem a cara do advogado que “ele podia esperar que ele ia levar o dele”.

8 comentários:

luli disse...

Ode ao Salmo 91

Fui. Ri. Chorei. Fiquei com raiva. Senti ódio. Me revoltei. Me apaixonei... Que delícia quando uma peça aflora em mim todas essas emoções!

Parabéns pelo trabalho. O cenário é bárbaro!

Abraços, Luli

P.S Só não recomendo que a moça Karina "vá ler o Estadão" porque vão achar que sou marqueteira...

Unknown disse...

Bom fui ver a peça e saí de lá com a sensação que assisti algo único.... Não vi apologia nenhuma. E sim grandes atores e um grande diretor dando o melhor de si pra contar uma história. Não é pra isso que serve o teatro? Eu também acho que 111 foi pouco. Bandido bom é bandido morto. Mas tanto o livro quanto o filme fizeram enorme sucesso. Vamos torcer para que no teatro aconteça o mesmo. E se puderem assitir não percam! Boa sorte à todos... E por favor. O Lula continua no poder...Isso é muito pior!

Unknown disse...

Sem saber sobre o blog e sem imaginar o que poderia acontecer após o espetáculo, estive sábado no SESC Santana e, a princípio, assisti a um espetáculo impecável. Elenco, texto, direção, cenário, figurinos, iluminação, sonoplastia e técnica. Como disse Ivan Cláudio: "A suspeita de que o potencial do livro Estação Carandiru estivesse esgotado cai por terra". Também tive essa "suspeita" e sim, caiu por terra. Elza Soares com O Meu Guri, de Chico Buarque, anuncia o início do que será dolorido e sensível.
Sim, o tom do espetáculo foi uma excelente surpresa porém. Do pós espetáculo veio o inesperado.
Agora, lendo o blog todo, gostaria de devolver a Karina Florido Rodrigues a pergunta feita por ela em salmocarandiru.blogspot.com/2007/07/era-s-o-que-faltava.html: "o que mais falta acontecer"?
Karina, que o “até quando” está instalado em cada um de nós, concordo plenamente mas... "Apologia ao crime"? "Onde esta o bom senso das pessoas"? "Artistas fazem montagens defendendo os criminosos"?
Não sei quem postou "PRA NÃO MINIMIZAR E NEM SE INTIMIDAR COM OS ACONTECIMENTO DE SÁBADO NO ESPETÁCULO SALMO 91" em 22 de julho, mas ainda bem que "o clima foi o tempo todo vitorioso do lado da democracia e da liberdade de expressão". Era só o que faltava, né? Como disse Marta Góes sobre a criação de um espetáculo abordando o lado da polícia, "escrevam, produzam e façam a sua peça"!
Muito sucesso ao SALMO 91.
Merda!

Nanda Rovere disse...

Bom, que pena que existam pessoas que não compreendam o teor de paz contido na peça e na obra do drauzio....que nao entendem que dar voz aos presos, humanizá-los , não é defender o crime, mas sim frisar que esses seres humanos possuem sentimentos e que, muitos deles, podem mudar de vida...
Nada do que eu escrever aqui vai expressar tudo o que eu penso sobre a situação. O mais incrível é a moça ter se colocado contra a peça antes de assistir...
Creio, ou melhor, tenho certeza, que a opinião dessa moça e de seus colegas, não representam a opinião da maioria que assiste á peça....

A moça fala em apologia ao crime, mas e ela? o que está fazendo ao tentar calar os artistas?

Sempre defenderei que todos têm o direito a uma segunda chance...E quando é necessário prender e longos anos de pena, punir com violência não fará com que esses presos abandonem o mundo do crime!

Tive contato, tenho contato ( pq uma amiga minha foi professora de teatro na Febem) com alguns artistas do projeto religare, que cumpriram as suas penas na Febem e, através do teatro, conseguiram mudar as suas vidas; saíram da Febem com o ideal de estudar e trabalhar. Alguns são administradores do Ponto de Cultura Religare e ajudam outras crianças, através da arte, a enxergarem uma luz no fim de túnel...

Bjs queridos
Muita merda
O Trabalho de todos vcs é maravilhoso e de suma importância ...Ode a paz.à liberdade e ao respeito!

Priscilla Carvalho disse...

Queridos colegas,

Parabéns pelo trabalho sincero, amoroso, dedicado, humano.
Li sobre os eventos de sábado último e percebo que vi um espetáculo ainda mais pertinente do que tinha imaginado: um espetáculo capaz de mostrar a violência do cidadão comum, do "homem de bem". Como queremos um mundo melhor se nos comportamos com intolerância, se ousamos intimidar, agredir. E pasmem, bradando contra homens violentos! Seria uma piada se não fosse triste.
Quero que fique aqui registrado meu carinho e meu apoio a vocês.

Abraços,
Priscilla Carvalho.

Unknown disse...

Acredito que todo o trabalho artístico relacionado a esta monstruosidade da chacina do Carandiru, além de ser meramente ilustrativa, nos faz pensar o que estamos fazendo com a nossa sociedade.

Não nos cabe julgar a pena de morte a ninguém, muito menos nas condições que esta chacina foi realizada.

O que se pode falar em relação a COVARDIA instalada nesta chacina? Homens com armas e cachorros lutando contra pessoas encurraladas e desarmadas? E esta tal Karina vêm defender o queridinho coronel Ubiratan... mais uma vergonha por ser brasileiro... onde quem tem instrução e recurso subjulga e discrimina a falta de recursos mínimos da maioria da população!

Karina e seu grupinho preconceitoso, poderia procurar algo construtivo a sociedade, ao invés de querer tosar o mínimo que ainda nos resta de orgulho nesta nação, a CULTURA BRASILEIRA!

Unknown disse...

Alguém aí pode me dizer o q é "isquinred"????

Alfabetização, taí uma boa luta para vcs......

Guilherme disse...

Eu acho que a Sra. Karina não está realmente preocupada com a sociedade, está preocupada com a memória de alguém que por mais injustiçado que tenha sido nunca foi um grande defensor dos verdadeiros direitos humanos. Nunca entendeu o pensamento de Cristo. Nunca entendeu o que diferencia um bandido de um bom policial. Essas chacinas, essas limpezas, como disse Jorge Coli, só criam mais ódio e violência. Karina, você e os que estão ao seu lado, como o pessoal do www.atequando.com.br, não sabem (e talvez não estejam realmente preocupados com isso) que estão incentivando atitudes que só pioram a crise onde o Brasil se encontra. Se for falta de informação, vá pesquisar o perfil das pessoas que realmente são presas no Brasil (enquanto os políticos estão extorquindo a todos, o que faz com que moradores de favela muito íntegros simpatizem mais com traficantes do que com a polícia, já que os traficantes lhes dão vários serviços, inclusive- pasme!- a segurança pública) Já ouviu falar em Estado paralelo?? É o Estado montado pelo crime organizado enquanto o crime mais organizado que existe, o governo, está preocupado com seus próprios interesses. Eu tenho nojo dessa associação entre direitos humanos e defender bandido.
Agora, se o problema dessas pessoas for má intenção mesmo, então eu desisto de vocês, talvez eu devesse desejar que sofram muito, assim como vocês desejam de outros que cometem erros e destrõem a sociedade por aí, não é? Mas não sou igual a isso, não me igualo àquilo que me enoja. Tenho, na verdade, pena de vocês, assim como tenho de bandidos comuns. Eu inverto o jogo, e pergunto a vocês o que caracteriza um bandido, e se vocês confiam na Segurança Publica desse país a ponto de achar que os verdadeiros bandidos (sejam eles traficantes líderes que nasceram pobres ou criminosos de "colarinho branco) estão na cadeia mesmo. E me pergunto se vocês não estão defendendo bandidos e crimes, falando o que falam. Lamentável! Lamentável! Em pleno século 21. Aonde está o progresso?