sábado, 14 de julho de 2007

Veja São Paulo Recomenda

SALMO 91. A morte de 111 presos no Carandiru em 1992 rendeu farto material para Hector Babenco apresentar sua versão do episódio no cinema e na televisão. Nenhuma das duas adaptações, porém, foi tão fiel ao livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru, quanto a criada por Dib Carneiro Neto para os palcos. Em cartaz no Sesc Santana, o espetáculo dirigido com rara sutileza por Gabriel Villela radiografa em dez personagens o universo de mais de uma centena deles. Cada um dos cinco atores protagoniza dois monólogos e, graças ao despojamento cênico, transforma o espectador no interlocutor personificado por Varella em seu livro. Costuradas por analogias com o futebol, as histórias comovem a platéia pelo tom confessional. Estão ali o pai orgulhoso com a chegada do filho ao presídio, o travesti pragmático e o auxiliar de enfermagem que, livre, sonha exercer a medicina. Em um dos grandes momentos, Pascoal da Conceição incorpora o sofrimento do filho que não seguiu os conselhos da mãe e morrerá sem ler o salmo citado no título da peça. Longe do estereótipo, o ator se destaca no eficiente elenco e leva Villela a dispensar os excessos habituais de suas direções em nome de um bom texto e bons intérpretes.
Dirceu Alves Jr.
14/7/2007

Nenhum comentário: