sexta-feira, 4 de abril de 2008

NOSSA SENHORA DA PAZ

Estamos, aqui no rio,
hospedados em um apart hotel que fica nos fundos da igreja N.S.Paz,
então toda tarde,
às 6 da tarde precisamente,
os sinos da igreja começam a badalar numa euforia religiosa
que parece quer contagiar e acordar toda a cidade do rio de janeiro.
É a nossa hora, a hora dos atores,
porque está perto da hora do nosso encontro
para ir daqui de Ipanema até Botafogo, no teatro poeira.
Todo dia, está marcado, 6:15 todos na porta do hotel.
Então é nossa hora
porque dessas badaladas pra frente nada mais conta
a não ser o desejo do encontro marcado com os enamorados do teatro,
no escuro das nossas almas e do teatro,
pras 9 da noite,
fazer o rito do desconhecido que é cada dia,
neste vale de lágrimas SALMO 91.
Salve, Rainha!

Pascoal da Conceição

LUA-NA PIOVANI

Virei banana de pijama.
Pascoal da Conceição

quinta-feira, 3 de abril de 2008

ULTIMAS SEMANAS

Hoje, 3 de abril, fazemos a última apresentação no teatro poeira desta semana que encerra nove apresentações quase seguidas com intervalo de apenas dois dias.
Tudo muito exaustivo porque implicou em muitas viagens
e mais que tudo nos inúmeros acontecimentos
que a ópera da vida executa independentemente da nossa vontade.

Entramos e saímos de cabeça erguida de todas essas provações.

Quando termina o espetáculo a gente bate uns nas mãos dos outros,
se cumprimenta com aquele tapa na mão
com que a gente sela uma batalha, um jogo.
Toda vez que termina o espetáculo,
ainda no escuro do último blackout,
eu gelo porque vem na minha direção
a mão de um companheiro melado do sangue da última cena,
vem aquela mão vermelha,
aquela cara furada de bala e sangue,
escorrendo e sorrindo na minha direção feito um pesadelo de alegria e morte.
Gelo pensando que queria tomar um banho,
estou com pressa de alguma coisa,
e aquele sangue vai me sujar ainda mais,
me atrasando não sei de que compromisso que eu tenha
(talvez voltar para fazer o espetáculo de amanhã).

Agora que vamos para última semana no rio dengue de janeiro,
está chegando o último dia, me dá um aperto no coração...
Tudo acaba, tudo finda,
até os 120 dias e 120 noites da solitária vivida pelo Véio Valdo.

Ontem o Quick Dias me dizia que ao ver o nosso espetáculo
dava nele uma vontade de fazer Teatro,
queria falar, jogar pra fora, estava fechado, engulindo, precisado, no esgano.
Anteontem o Sérgio Rezende,
que vai dirigir um filme sobre o PCC,
ficou admirado da emoção porque ele não supunha
tanta emoção nova no que ele podia ter de um assunto tão batido, tão conhecido.
Talvez porque a gente não sabe de nada.
Finge que sabe,
finge que viu,
mente descaradamente, se abraça, sorri, se beija, se ama,
fala bem, fala mal, mas não viu nada, não sabe de nada.
Muita coisa ainda vai rolar por baixo dessa ponte.
Últimas semanas?
Acabou?

Começou!

Pascoal da Conceição

HORROR

Estou lendo entre outros o DOM CASMURRO.
Parece que foi o Nelson Rodrigues que disse que na vida a gente devia ler uns dois ou três livros não mais. Pra mim um deles devia ser algum dos livros de Machado de Assis que completa este ano 100 anos de morte.
Estou lendo porque vou dar um curso de interpretação no Movimento Bexigão, uma escola anexa ao Teatro Oficina, base da Universidade Antropofágica, e acho o Machado de Assis uma espécie de Stanislawisky.
Pode ser muito legal pra gente que é ator porque ele mostra seus personagens, com riqueza detalhes, nos oferece sua alma brasileira, sua grandeza e sua mesquinharia, detalhando a minuciosa construção do pensamento e suas ações; coisas como "alguém que sabe opinar obedecendo", um bruxo e mestre na observação da pessoa.
Ator é atleta do coração, atleta das emoções, e ele precisa ir fundo na definição do sentido de cada uma delas. Um grande escritor como o Machado esmiuça isso com profundidade, iluminando nosso pensamento com definições pertubadoras do porque das ações de seus personagens.
Mas o que mais me provoca nessa releitura de agora, é que chego a conclusão que o mais sincero dos humanos, o mais aberto e sincero deles, é também o que mais esconde o que quer mostrar. Essa disposição solar de apresentar seu passado e seu pensamento como faz o personagem acaba cegando os olhos e tapando os ouvidos de quem está por perto.
Muita luz é como jogar escuro quem está olhando e muita falação é como se não tivesse falado nada. Cegueira e surdez.
A menor distância entre dois pontos não é uma reta.
Ontem a folha de São Paulo publicou na primeira página uma foto do lula sorrindo no ombro do sérgio cabral, embaixo a manchete dos mortos do dengue, parecia dizer "eles estão rindo dos mortos", é claro que o editor que juntou aquilo por conta da sua opinião, do seu ódio pelo lula, ou coisa assim. A mentira também é o jeito de se dizer uma verdade que vai pela alma. Tá lá no Machado de Assis...
Passei a pensar em mim, que falo muito e às vezes sou pego de calças curtas pela minha fraqueza, o ser humano é tão complexo, tão rico, tão pobre.
Minha cara está nas ruas, umas fotos minhas nos pontos de ônibus daqui da Zona Sul, eu apontando umas letras e dizendo que é preciso tomar cuidado com a dengue: "dengue mata", dá raiva de pensar no cachê que ganhei pra fazer o comercial, nas crianças que morreram, na hipocrisia da imprensa que não deu destaque a uma coisa que já se sabia o ano passado, na omissão da gente do governo e dos médicos que sabiam que a coisa era grave, nos políticos que vão usar isso para faturar a próxima eleição, da Johnson e Johnson que triplicou as vendas de repelente e no salmo 91: mil cairão a teu lado e nada chegará a tua tenda.
Estou sobrevivente da dengue e é um horror...
Rio, salmo carandiru, Pascoal.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

DENGUE, CRACK E OUTRAS DROGAS

É uma bosta mesmo!
Tô meio mole hoje, será que um mosquito me picou?
Tipo barato de crack, saio de um desejo e vou pra outro querendo gozar o tempo todo, me consumindo e gastando tudo que eu tenho com os traficantes do prazer.
Sol, céu azul, ar de maresia, luz, muita luz...
E Deus e Satanás.
Pra alguns nada disso: solitárias, gororobas disputada com as baratas.
Há alguns anos o PCC parou São Paulo que não podia parar.
Todo mundo correu pra casa e ligou a TV - mas a revolução não será televisionada.
As notícias do jornal continuam falando daquele jeito "quem comeu quem",
Não tenho mais idade pra palavrório jogado fora, conversa de malandro desesperançado.

Pascoal da Conceição