Assisti à peça na noite em que o grupo liderado pela ex-assessora do Coronel Ubiratan esteve presente (21.7.07) Chocaram-me o teor e o tom das manifestações que fizeram, revelando claro propósito de intimidação.
Enfrentando uma quase patológica dificuldade de falar em público, pedi a palavra para, assim como tantos outros espectadores, repudiar a absurda acusação feita pelos integrantes do grupo encabeçado pela sra. Karina. Disseram que a peça faz apologia ao crime. É evidente o despropósito da afirmação, nem merece maiores comentários.
Que ela tenha atribuído -- e, conforme leio agora no blog, disseminado seu protesto na internet -- esse caráter à peça antes mesmo de tê-la visto, revela muito claramente a leviandade da acusação, tão mais grave porque a conduta imputada aos encenadores de “Salmo 91” constitui, em si mesma, conduta criminosa (“apologia de crime ou criminoso”, artigo 287 do Código Penal).
O mal-estar que me causaram as intervenções do grupo da sra. Karina reforça-se agora, ao tomar conhecimento, pelo blog, dos bastidores daquela noite: a forma como aquelas pessoas se dirigiram à equipe do teatro, os recados que mandaram ao elenco. Assustador.
O Parlamento é espaço essencialmente plural, em que as divergências surgem, os pontos de vista se contrapõem, e é natural, e salutar, que seja assim. Lamentavelmente, a experiência que o trabalho parlamentar proporcionou à sra. Karina parece não ter despertado nela a capacidade de aceitar (e conviver com) a existência de visões de mundo diversas, e até mesmo opostas, às suas. Assim não fosse, não teriam, ela e seus companheiros, agido como agiram.
Recebam o autor, o diretor e os atores de “Salmo 91” meus cumprimentos pelo trabalho brilhante, e pelo espírito altamente democrático que demonstraram na noite de 21 julho.
Parabéns!
Glauco Malheiros
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2 comentários:
Glauco...
Tb estive presente na ocasião, e, se me permite, faço das suas minhas palavras. Muito pertinente o seu texto.
Abraços, Milena Neves
Quero registrar meu repúdio contra as tentativas de intimidação à peça e ao elenco de "Salmo 91" por parte de um grupo capitaneado por Da. Karina e por dois "assessores" fantasiados de Hells Angels caboclos, em nome do memória do Coronel Ubiratan, aquele que se locupletou com o massacre do Carandiru. Fiquei sabendo que o SESC pipocou e pretende cortar a temporada da peça, atitude lamentável e própria de avestruz diante da polêmica que só o teatro pode suscitar - quem poderia imaginar que o modorrento SESC Santana pudesse sediar um debate sobre as faces da violência e se assustasse diante do debate que se originou? Aplausos para o grupo e Viva o teatro!!!
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