sábado, 30 de agosto de 2008

NO LANÇAMENTO DO LIVRO 'SALMO 91'


25 de agosto de 2008. Bar Teatrix, Jardins, São Paulo. Lançamento do livro com o texto da peça "Salmo 91", de Dib Carneiro Neto, pela editora Terceiro Nome (comprar pelo site www.terceironome.com.br). Da esquerda para a direita, Pedro Henrique Moutinho, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Dib Carneiro Neto, Rodolfo Vaz, Claudio Fontana, Pascoal da Conceição e Gabriel Villela. Foi uma inesquecível noite de alto astral, bem à altura do sucesso da temporada.

sábado, 23 de agosto de 2008

RECAPITULANDO TUDO: datas e locais de toda a temporada da peça 'Salmo 91'

Teatro do Sesc Santana, em São Paulo, de 6 de julho a 19 de agosto de 2007
Teatro Oficina, em São Paulo, de 31 de agosto a 23 de setembro de 2007
Sesc Presidente Prudente, dia 07 de novembro de 2007
Galpão Oeste do Sesc Campinas, dia 8 de novembro de 2007
Sesc São José do Rio Preto, dia 9 de novembro de 2007
Ginásio do SESC Piracicaba, dia 10 de novembro de 2007
Centro Cultural e Histórico de Itapetininga (Sesc Sorocaba), dia 11 de novembro de 2007
Centro Universitário Senac, no Câmpus Santo Amaro, em São Paulo, dia 12 de novembro de 2007
Teatro do SESC Santos, dia 23 de novembro de 2007
Teatro do SESC Araraquara, dia 24 de novembro de 2007
Teatro Poeira, Rio de Janeiro, 12 de março a 10 de abril de 2008
Festival Internacional de Teatro de Curitiba (Teatro Guairinha), dias 29 e 30 de março de 2008
Centro Cultural Nossa Caixa, Brasília, 6 a 8 de junho de 2008
Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte (teatro da Casa do Conde), dias 29 de junho a 1.º de julho de 2008
Centro Cultural Nossa Caixa, Curitiba, de 24 a 27 de julho de 2008

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

EQUIPE DE 'SALMO 91'


Da esquerda para a direita: o autor Dib Carneiro Neto, o diretor Gabriel Villela, os atores Rodrigo Fregnan, Rodolfo Vaz, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho e Pascoal da Conceição e o diretor assistente Cacá Toledo. Equipe da peça Salmo 91, em Curitiba, domingo, 27 de julho de 2008. Até a próxima, pessoal!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

DESPEDIDA DA TEMPORADA, COM ROSAS NO CHÃO DO PALCO


E AGORA VAI SAIR O LIVRO!!!!


A Editora Terceiro Nome
convida para o lançamento do livro

SALMO 91
de
Dib Carneiro Neto

segunda-feira, 25 de agosto de 2008, a partir das 19h30
no Teatrix Bar e Restaurante
Rua Peixoto Gomide, 1.066 – Jardim Paulista – São Paulo

PRÊMIO SHELL DE MELHOR TEXTO DE TEATRO EM 2007

Assim como no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, no qual Dib Carneiro Neto se inspirou, Salmo 91 dá voz a bandidos inescrupulosos, matadores impiedosos e criminosos revoltantes, e, nas palavras do diretor da primeira encenação da peça, Gabriel Villela, traz em seus monólogos uma urgência trágica, mesmo quando a escrita apóia-se em designers cômicos, patéticos, bizarros.
Este texto impactante estreou no teatro do Sesc Santana, em São Paulo, em julho de 2007, e recebeu os prêmios Shell de Melhor Texto, Shell de Melhor Ator (Rodolfo Vaz), APCA de Melhor Direção e Troféu Qualidade Brasil na categoria Drama: Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Ator (Pascoal da Conceição). Além do Sesc Santana, cumpriu temporadas no Teatro Oficina, em São Paulo, no Teatro Poeira, do Rio. Excursionou por muitas cidades do país e integrou a programação oficial dos festivais internacionais de teatro de Curitiba e de Belo Horizonte, ambos em 2008.
O jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, editor do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, é paulista de São José do Rio Preto. Sua primeira peça encenada é Adivinhe quem vem para rezar (editada em livro pela Terceiro Nome, em 2005), dirigida por Elias Andreato, com Paulo Autran e Claudio Fontana no elenco.

Para Dib, o lançamento de Salmo 91 finaliza uma importante trajetória iniciada em 1999 com a leitura do livro de Dráuzio:
E eis que bandidos inescrupulosos, matadores impiedosos, criminosos revoltantes nos contam histórias. O impacto dessa leitura foi enorme. Fechei a última página absolutamente fascinado. Por isso, não demorei muito tempo: Estação Carandiru foi lançado em 1999 e no fim desse mesmo ano eu já tinha terminado minha adaptação teatral daquele que viria a ser um best seller de marcar época na história do mercado editorial brasileiro.... Armado de certa coragem, mas ainda assim muito tímido e vacilante, telefonei para o autor do livro para pedir que lesse minha adaptação. Teclei o número do consultório do dr. Drauzio Varella, com o coração aos pulos, ciente de que estava tomando uma atitude ousada: até então, eu nunca tinha escrito nada para teatro e achava que já poderia começar assim... adaptando Estação Carandiru.

Dráuzio não apenas aprovou, como escreveu:
O grande mérito do adaptador Dib Carneiro Neto, ao escrever Salmo 91, foi produzir um texto teatral que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos, para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático.

Gabriel Villela, diretor de Salmo 91, assim definiu o conteúdo dramático de Dib:
Com habilidade de escritor/jornalista e seu sensível espírito humanista, [Dib] organizou sua fábula de tal modo a recriar os instantes preliminares da matança e, num final alegórico, registrar o momento daquilo a que passamos a chamar de Massacre do Carandiru. A peça corre numa velocidade estonteante e traz em seus monólogos uma urgência trágica, mesmo quando a escrita apóia-se em designers cômicos, patéticos, bizarros. “Oh, vós! Todos que passais! Vinde e vede se há dor igual à minha dor”.

Salmo 91
Autor: Dib Carneiro Neto
Apresentação: Gabriel Villela
Projeto gráfico: Antônio Kehl
Formato: 160 páginas, 12 x 18 cm, brochura
Preço: R$ 26,00

Assessoria de imprensa:
Claudia Piccazio e Sarah Czapski – imprensa@terceironome.com.br

PÉTALAS DE ROSAS

AQUI SE ENCERRA UM CICLO SALMO 91.
QUEM TIVER A PACIÊNCIA DE PERCORRER NESTE BLOG A ODISSÉIA QUE SIGNIFICARAM OS CAMINHOS A QUE NOS LEVARAM ESTA MÁGICA CRIAÇÃO, VAI RE-VIVER A INCOMENSURÁVEL HISTÓRIA QUE É CONSTRUÍDA NA DURA CRIAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO.
HÁ VITÓRIAS, DERROTAS, FELIZES E INFELIZES, E SEM SOMBRA DE DÚVIDA, HÁ O GANHO DA ARTE DO TEATRO, ENRIQUECIDO PELO AMOR DOS QUE CRIARAM NAS MAIS DIVERSAS POSIÇÕES A POSSIBILIDADE DESTE ACONTECIMENTO.
CHUVAS DE PÉTALAS,
CHUVAS DE LÁGRIMAS,
DE RISOS, DE CONVERSAS, DE NOITADAS,
DE VIAGENS, DE APLAUSOS,
CHUVAS DE TANTAS E TONTAS COISAS,
CHUVAS QUE FIZERAM ESTA TEMPESTADE.
PARABÉNS A TODOS.
AMÉM!

Pascoal da Conceição

quarta-feira, 30 de julho de 2008

TEMPESTADE

Não foi mole.
Curitiba viu cair sobre SALMO 91 uma tempestade que abalou os corações presentes: Em vermelho, amarelo, às vezes branco, os sangues desceram dos céus e inundaram o chão moreno de peroba ou que madeira fosse.
Foi o último instante de um domingo que não prometia mais do que já nos tinham dado todos os outros domingos, todos os outros finais, todos os outros aplausos.
Mas não teve jeito.
Caíu do céu, sobre as costas fatigadas dos mistérios, das cinturas dobradas sobre o peso dos sonhos, o futuro, o presente, o passado. Sobraram os que ficam, fora os feridos que sairam daqui pra não voltar mais.
(pode crê que num vão!)
Depois, abalados, em silêncio, falante ou não, se foram todos para as plagas da praça de espanha, afogar seus destinos em sangrias de comidas e bebidas, choraram as últimas risadas e se foram para suas insônias.

Pascoal da Conceição

P.S. Claudio Fontana ainda ligou para as últimas risadas e me lembrar, mesmo não falando, que esse momento NUNCA MAIS.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

BELO HORIZONTE

Festival Internacional de Teatro em Minas Gerais. Fizemos ontem, 29, São Pedro, a estréia no chão mineiro. Chamada do Gabriel: cadê a musculatura? Tão falando de quê? Com quem? Rever o início do vôo, os primeiros preparativos para a decolagem. Tem razão ele. Vamos voando, atingindo alturas críticas e de repente esquecemos porque voamos e pra quem voamos e pra onde voamos.
Hoje é o segundo dia. Dia de jogo.

Pascoal da Conceição

domingo, 22 de junho de 2008

ESTÔMAGO

Fui ver esse filme aí em cima. O Dib tinha ido ver e me disse que estavam lá muitos dos personagens da peça, então tive um tempinho livre e fui ver.
O filme é muito bem feito, mas quem se destaca mesmo é o João Miguel, que faz com naturalidade cativante o personagem principal e que carrega com toda leveza o filme.
Agora, a questão da comida na prisão realmente... haja estômago!
Leio que a CPI das prisões fez os deputados vomitar, que Minas Gerais está entre as piores do Brasil, pior até que Acre, Roraima, seguida por São Paulo, (aqui em Pinheiros, pertinho dos bares e restaurantes que eu frequento e onde vez em quando vou comer alguma coisinha!)
Vamos para o FIT de Minas onde talvez estejamos a menos de 500 metros da pior prisão do Brasil, a masmorra, o calabouço, o fim de mundo, o oco, o nada.
Piada do filme: Comer merda não é nada, se for a tua merda, o gosto não se sabe, mas dá um bafo de bosta. Não ri.
O Vitor Hugo diz que as prisões da França melhoraram depois que a classe média começou a ser mandada para a prisão.

Pascoal da Conceição

sábado, 7 de junho de 2008

BRASILIA

Do Rio para a capital do poder.
Vejo a esplanada dos Ministérios e dos Mistérios.
Salmo 91 neles.
Pascoal da Conceição

sexta-feira, 4 de abril de 2008

NOSSA SENHORA DA PAZ

Estamos, aqui no rio,
hospedados em um apart hotel que fica nos fundos da igreja N.S.Paz,
então toda tarde,
às 6 da tarde precisamente,
os sinos da igreja começam a badalar numa euforia religiosa
que parece quer contagiar e acordar toda a cidade do rio de janeiro.
É a nossa hora, a hora dos atores,
porque está perto da hora do nosso encontro
para ir daqui de Ipanema até Botafogo, no teatro poeira.
Todo dia, está marcado, 6:15 todos na porta do hotel.
Então é nossa hora
porque dessas badaladas pra frente nada mais conta
a não ser o desejo do encontro marcado com os enamorados do teatro,
no escuro das nossas almas e do teatro,
pras 9 da noite,
fazer o rito do desconhecido que é cada dia,
neste vale de lágrimas SALMO 91.
Salve, Rainha!

Pascoal da Conceição

LUA-NA PIOVANI

Virei banana de pijama.
Pascoal da Conceição

quinta-feira, 3 de abril de 2008

ULTIMAS SEMANAS

Hoje, 3 de abril, fazemos a última apresentação no teatro poeira desta semana que encerra nove apresentações quase seguidas com intervalo de apenas dois dias.
Tudo muito exaustivo porque implicou em muitas viagens
e mais que tudo nos inúmeros acontecimentos
que a ópera da vida executa independentemente da nossa vontade.

Entramos e saímos de cabeça erguida de todas essas provações.

Quando termina o espetáculo a gente bate uns nas mãos dos outros,
se cumprimenta com aquele tapa na mão
com que a gente sela uma batalha, um jogo.
Toda vez que termina o espetáculo,
ainda no escuro do último blackout,
eu gelo porque vem na minha direção
a mão de um companheiro melado do sangue da última cena,
vem aquela mão vermelha,
aquela cara furada de bala e sangue,
escorrendo e sorrindo na minha direção feito um pesadelo de alegria e morte.
Gelo pensando que queria tomar um banho,
estou com pressa de alguma coisa,
e aquele sangue vai me sujar ainda mais,
me atrasando não sei de que compromisso que eu tenha
(talvez voltar para fazer o espetáculo de amanhã).

Agora que vamos para última semana no rio dengue de janeiro,
está chegando o último dia, me dá um aperto no coração...
Tudo acaba, tudo finda,
até os 120 dias e 120 noites da solitária vivida pelo Véio Valdo.

Ontem o Quick Dias me dizia que ao ver o nosso espetáculo
dava nele uma vontade de fazer Teatro,
queria falar, jogar pra fora, estava fechado, engulindo, precisado, no esgano.
Anteontem o Sérgio Rezende,
que vai dirigir um filme sobre o PCC,
ficou admirado da emoção porque ele não supunha
tanta emoção nova no que ele podia ter de um assunto tão batido, tão conhecido.
Talvez porque a gente não sabe de nada.
Finge que sabe,
finge que viu,
mente descaradamente, se abraça, sorri, se beija, se ama,
fala bem, fala mal, mas não viu nada, não sabe de nada.
Muita coisa ainda vai rolar por baixo dessa ponte.
Últimas semanas?
Acabou?

Começou!

Pascoal da Conceição

HORROR

Estou lendo entre outros o DOM CASMURRO.
Parece que foi o Nelson Rodrigues que disse que na vida a gente devia ler uns dois ou três livros não mais. Pra mim um deles devia ser algum dos livros de Machado de Assis que completa este ano 100 anos de morte.
Estou lendo porque vou dar um curso de interpretação no Movimento Bexigão, uma escola anexa ao Teatro Oficina, base da Universidade Antropofágica, e acho o Machado de Assis uma espécie de Stanislawisky.
Pode ser muito legal pra gente que é ator porque ele mostra seus personagens, com riqueza detalhes, nos oferece sua alma brasileira, sua grandeza e sua mesquinharia, detalhando a minuciosa construção do pensamento e suas ações; coisas como "alguém que sabe opinar obedecendo", um bruxo e mestre na observação da pessoa.
Ator é atleta do coração, atleta das emoções, e ele precisa ir fundo na definição do sentido de cada uma delas. Um grande escritor como o Machado esmiuça isso com profundidade, iluminando nosso pensamento com definições pertubadoras do porque das ações de seus personagens.
Mas o que mais me provoca nessa releitura de agora, é que chego a conclusão que o mais sincero dos humanos, o mais aberto e sincero deles, é também o que mais esconde o que quer mostrar. Essa disposição solar de apresentar seu passado e seu pensamento como faz o personagem acaba cegando os olhos e tapando os ouvidos de quem está por perto.
Muita luz é como jogar escuro quem está olhando e muita falação é como se não tivesse falado nada. Cegueira e surdez.
A menor distância entre dois pontos não é uma reta.
Ontem a folha de São Paulo publicou na primeira página uma foto do lula sorrindo no ombro do sérgio cabral, embaixo a manchete dos mortos do dengue, parecia dizer "eles estão rindo dos mortos", é claro que o editor que juntou aquilo por conta da sua opinião, do seu ódio pelo lula, ou coisa assim. A mentira também é o jeito de se dizer uma verdade que vai pela alma. Tá lá no Machado de Assis...
Passei a pensar em mim, que falo muito e às vezes sou pego de calças curtas pela minha fraqueza, o ser humano é tão complexo, tão rico, tão pobre.
Minha cara está nas ruas, umas fotos minhas nos pontos de ônibus daqui da Zona Sul, eu apontando umas letras e dizendo que é preciso tomar cuidado com a dengue: "dengue mata", dá raiva de pensar no cachê que ganhei pra fazer o comercial, nas crianças que morreram, na hipocrisia da imprensa que não deu destaque a uma coisa que já se sabia o ano passado, na omissão da gente do governo e dos médicos que sabiam que a coisa era grave, nos políticos que vão usar isso para faturar a próxima eleição, da Johnson e Johnson que triplicou as vendas de repelente e no salmo 91: mil cairão a teu lado e nada chegará a tua tenda.
Estou sobrevivente da dengue e é um horror...
Rio, salmo carandiru, Pascoal.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

DENGUE, CRACK E OUTRAS DROGAS

É uma bosta mesmo!
Tô meio mole hoje, será que um mosquito me picou?
Tipo barato de crack, saio de um desejo e vou pra outro querendo gozar o tempo todo, me consumindo e gastando tudo que eu tenho com os traficantes do prazer.
Sol, céu azul, ar de maresia, luz, muita luz...
E Deus e Satanás.
Pra alguns nada disso: solitárias, gororobas disputada com as baratas.
Há alguns anos o PCC parou São Paulo que não podia parar.
Todo mundo correu pra casa e ligou a TV - mas a revolução não será televisionada.
As notícias do jornal continuam falando daquele jeito "quem comeu quem",
Não tenho mais idade pra palavrório jogado fora, conversa de malandro desesperançado.

Pascoal da Conceição

segunda-feira, 31 de março de 2008

LEI DO PICADEIRO

Gabriel tem nos acompanhado sempre.
É daqueles diretores presentes, está lá,
na platéia e na coxia,
tendo comentários e direções a dar permanentemente,
após cada espetáculo, sem folga,
trabalhando o tempo todo.

Na noite de quinta feira (27/03), dia do teatro, no teatro poeira,
antevéspera da nossa apresentação no festival,
ele estava na nossa frente com um papel
e anotações sobre o espetáculo do dia anterior.

Sábado, no Festival de Curitiba,
Gabriel não estava na coxia,
foi para minas gerais chorar a ausência de seu pai,
falecido naquela noite.
Não esteve em nenhuma das três lotadas
e inesquecíveis apresentações que fizemos no Guairinha.
que eu saiba,
ouviu pelo celular, lá de minas,
os aplausos curitibanos da última apresentação do domingo.

Noite de sábado, noite da estréia,
minutos antes de começar,
Cacá, que junto com o Guga é assistente de direção,
reuniu todos no palco
para passar a direção deixada pelo diretor.

Garganta amarrada e olhos marejados,
começou, vacilou, quase não conseguiu continuar,
mas respirou fundo
e mandou a deixa do Gabriel:

"- Emoção é só a do espetáculo!
Nem a minha, a tua, nem a de nenhum de nós,
mas aquela que pertence ao espetáculo
e que é a de todo mundo, nos bastidores, no palco e na platéia.
Que a gente não passe ao espectador uma desmesura de emoção incompreensível,
que ele não vê e nem sabe do que se trata.
Tudo é a peça, só a peça."

Cacá estava atuando conforme a direção que nos passava.

Engolimos nossa vontade de berrar os urros desnorteados
que nascem nestas horas e entendemos,
sob as lágrimas silenciosas de cada um,
a lei do picadeiro.

Pascoal da Conceição

IMPRENSA

Comecei o sábado (29/03) nesta Curitiba ensolarada e aniversariante meio cabreiro.
Até que estava bem, mas fomos todos os atores até a sala de imprensa fazer uma coletiva de imprensa e me encabrerei com meus amigos que ficam me gozando, fazendo caras e bocas, enquanto eu falo, porque eu insisto em falar o quanto quero quando dou entrevista.
Prolixismos à parte, não encaro entrevistas com jornalista como a coisa mais normal do mundo, até porque não é fácil chegar até eles e passar alguma coisa do enorme mundo que envolve a criação de um trabalho; nem dá pra em poucos minutos sob a luz tensa de uma tv, ou com a atenção dos ouvidos do jornalista responder perguntas como "por que salmo 91?".
Acontece interesse de jornalista com Salmo 91 principalmente pelas celebridades envolvidas tipo Gabriel, Dráusio e Dib, muitas peças que fiz não tive nem o nome delas no roteiro...
Então fico prolixo querendo falar de tudo, tudo mesmo. Dá um certo trabalho, uma canseira nas nossas mandíbulas tão fatigadas, mas...
é isso.

Pascoal da Conceição

COMENTÁRIO

FIQUEI NA MADRUGADA PROCURANDO REPERCUSSÕES DA PEÇA EM CURITIBA; NÃO ENCONTREI NADA, MAS AQUI, NO BLOG, ACABO HORA DE LER ESSE PEQUENO COMENTÁRIO.

"Sábado, 29 de março. Acabo de sair do Guairinha, em Curitiba, com uma sensação estranha. Sou atriz, produtora teatral, um tanto quanto inconformada com a cena atual do teatro curitibano, um tanto quanto cansada de ver o que acontece por aqui. E vou a uma peça sem esperar demais nem de menos, e saio do teatro completamente desconcertada e completamente apaixonada... foi pra mim que alguém disse "não vale pegar a bola"! O trabalho de todos nesse espetáculo é sensacional! Obrigada por nos lembrar que nossa arte ainda faz sentido e que nossa humanidade ainda não se perdeu..." Thais


quinta-feira, 27 de março de 2008

A NOITE

“Nunca me esquecerei daquela noite, a noite do campo, que fez de minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca me esquecerei daquela fumaça.
Nunca me esquecerei dos rostos daquelas crianças cujos corpos eu vi transformarem-se em rolos de fumaça sob um céu azul e mudo.
Nunca me esquecerei daquelas chamas que consumiram minha fé para sempre.
Nunca me esquecerei daquele silêncio noturno que me privou para sempre do desejo de viver.
Nunca me esquecerei daqueles momentos que assassinaram meu Deus, minha alma e meus sonhos, que se tornaram um deserto.
Nunca me esquecerei daquilo, mesmo que seja condenado a viver tanto quanto o próprio Deus.
Nunca.”
(A noite, Elie Wiesel - escritor e sobrevivente do holocausto)

Pascoal da Conceição

LUA MINGUANTE

Estamos fechando um ciclo de 4 luas aqui no Rio.
Estreamos na Lua Nova,
que não foi possível ver porque o céu estava nublado,
depois passados pela Lua Crescente,
vimos brilhar a gorda Lua Cheia
e agora olho pro céu e vejo a lua começando a minguar.

Esta semana faremos espetáculo terça, quarta e quinta no teatro Poeira,
depois sexta ensaiamos no Guairinha, em Curitiba,
FESTIVAL DE TEATRO,
fazemos sessões sábado e domingo, com duas,
voltamos para São Paulo na segunda feira
e terça embarcamos para mais três terça, quarta e quinta,
e aí já será Lua Nova outra vez.

Do Poeira para o Guairinha,
sairemos de um teatro pequeno, íntimo, tipo 160 lugares,
platéia e atores um dentro do outro,
para um palco italiano com mais de 500 lugares.

Aqui, no Poeira, quase não há distância entre as bocas e os ouvidos,
então sussurramos em bossa nova.
Lá no sul, lá no festival, Vicente Celestino nos espera!

Aqui vai tudo bem, Gabriel é presença viva e constante,
ontem ele disse que assistiria o espetáculo com um caneta e um papel,
anotando tudo.
Hoje teremos preleção.
É bom porque tem essa tensão de fazer bem,
conjugada com um público que todo dia se surpreende com a qualidade do espetáculo,
passa isso pra frente, exigindo mais da gente.

Engraçado é que, como é Rio de Janeiro, pátria brasileira das celebridades,
chegam na coxia, naquela tensão que antecede o espetáculo,
coisas assim: "estão aí o Antonio Fagundes, o Thiago Lacerda, A Thais Araujo, a Eva Tudor e mais umas cem pessoas."

Todo dia tem gente que são nomes e tem a platéia também.

Pascoal da Conceição

terça-feira, 25 de março de 2008

CRÍTICA DA 'TRIBUNA DA IMPRENSA' NO RIO

Terror e lirismo no Poeira
"Salmo 91"
Lionel Fischer
Em uma de suas peças, Pirandello escolheu como título "Seis personagens à procura de um autor". Aqui, estamos diante de personagens reais, dez homens (interpretados por cinco atores) em busca de algo bem diverso: contar um pouco de suas amargas trajetórias e da desesperadora realidade que lhes coube viver.
Baseado no livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, "Salmo 91" chega à cena (Teatro Poeira) com adaptação feita por Dib Carneiro Neto, direção de Gabriel Villela e elenco formado por Pascoal da Conceição (Dadá e Veio Valdo, o primeiro também cumprindo o papel de narrador), Pedro Moutinho (Charuto e Valente), Rodolfo Vaz (Bolacha e Veronique), Rodrigo Fregman (Zé da Casa Verde e Nego-Preto) e Ando Camargo (Zizi Marli e Edelso).
Como se trata de um livro por demais conhecido, e que já gerou um filme esplêndido, não cabe aqui resumir seu enredo. Até porque não temos propriamente um enredo, mas uma série de depoimentos daqueles que padeceram não apenas os horrores inerentes a uma penitenciária, mas que também foram vítimas do mais brutal e injustificável massacre já perpetrado contra detentos.
Para materializar na cena o ótimo texto de Drauzio Varella, convertido em irretocável texto teatral por Dib Carneiro Neto, o diretor Gabriel Villela optou por uma cena praticamente despojada de elementos, a não ser uns poucos, indispensáveis. E apostou tudo na capacidade do elenco de viver intensamente o horripilante contexto. E tal opção revelou-se inteiramente acertada.
Torna-se claro que estamos diante de cinco atores extremamente talentosos, de grande experiência e técnica impecável. Mas o fundamental é sua impressionante capacidade de entrega, a total disponibilidade para mergulhar em um universo sujeito a todas as atrocidades possíveis e imagináveis, tanto por parte dos responsáveis pelo presídio quanto dos próprios detentos.
Ainda assim, há pequenas brechas que permitem a materialização de momentos impregnados de poesia e lirismo, o que torna ainda mais sofrida a experiência do espectador, pois inevitavelmente ele é levado a crer que aquelas pessoas, ou ao menos uma parte delas, poderia ter tido um destino diferente, não fossem tão injustas as condições impostas por aqueles que detêm o poder.
Na equipe técnica, Villela assina cenografia e figurinos inteiramente em sintonia com sua proposta de direção, cabendo também destacar a expressiva iluminação de Domingos Quintiliano, a mesma expressividade presente na trilha sonora de Túnica.
SALMO 91 - Texto de Dib Carneiro Neto, baseado no livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella. Direção de Gabriel Villela. Com Pascoal da Conceição, Pedro Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo. Teatro Poeira. Terça a quinta, 21h.

PARA QUEM NÃO LEU A CRÍTICA DE BÁRBARA HELIODORA

Salmo 91: Gabriel Villela encena espetáculo notável no Teatro Poeira

Imperdível incursão estética pelos descaminhos da humanidade

Barbara Heliodora
O médico não condena o paciente por sua doença. E é essa a atitude que o médico Drauzio Varella tem para com os internos de Carandiru, reconhecendo-os como “diferentes mas iguais”, tão capazes quanto todos nós de uma vasta variedade de sentimentos. Criminosos, há no painel que o médico registrou a mesma essência de humanidade que existe nos que lhes dão tratamento desumano, tanto quanto nos outros que, longe deles, os olham como espécie inferior e repugnante. Não é de espantar que Dib Carneiro Neto tenha sentido, desde logo, a possibilidade dramática do livro "Estação Carandiru", e surpreende que sua adaptação só tenha chegado ao palco depois do cinema e da TV. Em dez monólogos, incluindo neles informações que, no livro, não são parte da experiência de seus personagens, porém podem ser incorporadas a eles, o adaptador encontrou o caminho mais direto para deixar à mostra a tragicomédia da essência humana que se deforma, que luta para sobreviver e, apesar dos pesares, se respeitar, conseguindo ao menos para si mesmo fingir que acredita ser dono de seu destino. Impacto da verdade é atirado sobre a platéia.
O espetáculo em cartaz no Teatro Poeira (de terça a quinta-feira) é produto de uma outra objetividade, a de Gabriel Villela, que reduz a vida na prisão ao subumano que torna indispensável a criação de um estatuto próprio, como de sonhos e lutas pelo poder. Responsável também pela cenografia e pelos figurinos, Villela tem controle total da encenação, e em tudo opta pela objetividade, pela força da verdade de cada um, criando assim o indigente mas complexo universo da prisão. Sua direção é voltada para o impacto da verdade, que é atirada sobre a platéia como instrumento de conscientização da humanidade que ainda existe por trás dos mais assustadores comportamentos.
Pascoal da Coceição (Dada e Veio Valdo), Pedro Moutinho (Charuto e Valente), Rodrigo Fregnan (Nego-Preto e Zé da Casa Verde), Ando Camargo (Zizi Marli e Edelso) e Rodolfo Vaz (Bolacha e Veronique) formam o elenco forte e integrado nessa angustiante incursão pelos descaminhos da humanidade, com destaque para Rodrigo Fregnan e, principalmente, para Rodolfo Vaz, no cinismo de Bolacha como na fragilidade de Veronique, com seu notável número de canto - o ator ganhou o prêmio Shell de teatro por este espetáculo (leia reportagem ao lado). Sem apoios cênicos senão os absolutamente necessários, o elenco atua com um realismo consciente, cuja execução se torna de certo modo simbólica dessa amostragem colhida por Drauzio Varella.“Salmo 91”, que chega de São Paulo coberto de prêmios, é um espetáculo notável, que mostra o teatro exercendo sua mais alta função de investigação de comportamentos humanos por meio da experiência estética. É imperdível.

segunda-feira, 24 de março de 2008

DE ONDE VEM O BAIÃO

DIA SEGUINTE A ESTRÉIA DA PEÇA, NO SESC SANTANA, GABRIEL, NOSSO DIRETOR, MARCOU REUNIÃO PARA CINCO DA TARDE, REUNIU O ELENCO E ASSISTENTES DE DIREÇÃO E MANDOU BALA COM ESTAS PALAVRAS:


"CINCO PONTOS
Primeiro ponto:
o ator tem que ter ir pra cena com a consciência de que está trabalhando com uma dimensão épica do relato e não deve permitir que a máscara tome conta do seu rosto, ou seja, não colocar o personagem, a máscara, entre a sua consciência de estar em cena e a lucidez da platéia de estar assistindo.
Em outras palavras não ficar fazendo careta repetitiva de emoções que já não sente mais; estudar e renovar estas emoções com consciência de que é isso que o diretor quiz quando colocou ele ali e ele concordou com isso.

O segundo ponto
é o ponto de contacto dessas máscaras com outros vários pontos e a relação entre si desses pontos de contato. Ou seja, todos, todo mundo precisa estar consciente de que é responsável por aquela máscara naquele instante da cena e por toda a idéia que está transitando pelo espetáculo inteiro; tendo pontos, contactando-os, unindo cada um deles, ao invés de tornar solitária a sua experiência em cena e com isso abandonar a relação com a idéia maior, perdendo o distanciamento acordado inicialmente e permitindo que a máscara grude no rosto, fora de uma vivência crítica.
Aquela coisa de se defender e pronto, perdendo a ligação com "por que, pra que, pra quem..."

O terceiro ponto
é a dinâmica física do espetáculo.
O ator deve saber que o tempo inteiro de circulação, dentro ou fora, na cena ou nas coxias, ele continua com responsabilidade sobre a cena.
Não é porque ele vai pra coxia, pro chuveiro, pro café, mudar de roupa, conhaque ou pra qualquer lugar, enfim, ele pode se permitir desligar.
É um coletivo, o ator que está em cena tem a percepção, por não estar grudado à máscara, não estar mascarado, que ele está ligado a toda contra-regragem, bilheteria, rua, cidade, mundo, irmanado ao coletivo e não deve abandonar nem ser abandonado pelo todo.

Quanto a contra-regragem, a relação com os objetos de cena, ATENÇÃO:
ator não é um contra-regra, ele exercita a contra-regragem, porque tem uma consciência gigante dos objetos; sabe como foram descobertos, construídos, acompanhou como cada um foi pra cena, tem uma consciência afetiva desses objetos, uma relação inteligentecom eles; acima de tudo vamos usar a musculatura da inteligência.

O penúltimo ponto
é o conceito da qualidade do verbo, feito no presente o tempo inteiro como relato trágico,
Mesmo que no nosso caso específico, ele venha a fundir gêneros, (melodrama, trágico, patético, bizzaro, barra pesada) é preciso manter a consciência de tudo isso no verbo, na musculatura verbal. Uma musculatura que não se afrouxa, se vitaliza.
Na vida cotidiana, a musculatura verbal não é tão exigida como no teatro, e muito dessa musculatura, em repouso, fica esquecida. A boca que fala 'a fala', o que precisa ser dito, refletido, levado adiante, a boca que fala o verbo deste espetáculo, tem que ter seus músculos acionados e exigidos com saúde.
Coisa que o cotidiano ditado pelo estatuto burguês, não pede pra ninguém, aliás, se você entra e fala com musculatura em qualquer ambiente, você derruba esse lugar.

O quinto ponto
é o ponto do futebol, que fez nosso trabalho corporal e que linka tudo.
Eu quero atores em continuidade, em estado contínuo de elaboração.
Que ajam como atores de coletivo. Tem aquele corredor, atrás do palco, (estávamos no SESC Santana) lá onde fica a mesa do lanche e do café. Tirem a mesa, façam dois gols e disputem um futebol entre vocês todo dia.
Daí vocês vão ver que o futebol, que nós achamos intuitivamente lá atrás, no nosso passado de ensaios, como preparação do corpo do ator, como forma de tomarmos conta do espaço, quando nem nos conhecíamos direito, quando éramos estrangeiros vindo de mundos diferentes,
o futebol que nos ligou, é o meio da gente inaugurar a noite de prodígios, que é a noite do espetáculo.
Uma noite de 'prodígios', que tem a mágica do futebol para resgatar brasileiramente essa unidade.
Joguem o jogo, com bola ou sem, exercitem o passe, a disputa, a reação.
Esse nosso teatro é futebol, é ele que unifica os cinco atores em torno de uma bola;
o bate bola, a competição entre os times de atores, é bacana, porque estabelece concretamente um vai e vem de trocas de adrenalina, hormônio, suores, contatos;
daí que quando pára esse futebol da preparação corporal diária, encerrando o esquentamento pra o espetáculo do dia, vocês vão perceber que ele não acaba:
você vai pra sua concentração pessoal, tua maquiagem, passar teu texto, aquecer tua voz, está na sua, mas o futebol já editou vocês, atores, todo mundo, ele já rompeu a relação de todos com o cotidiano de vida burguesa, bundona, enfim, já espatifou esse corpo domesticado pela relação automatizada com tudo que a vida tem e aí sim, nos renova trazendo outro corpo para a cena, para a relação espetacular que se apresenta: o jogo teatral oferecido por aquele dia, o dia único da peça.
Mais ainda, esse futebol diário traz a memória de nossos ensaios, a memória de nosso primeiros momentos, memória afetiva, de coletivo, que restabelece dia a dia o vínculo de continuidade; memória das nossas vitórias, empates e perdas.
Uma pelada jogada que hoje foi 5 a 2, um ganhou outro perdeu, e que amanhã pode virar, isso é muito saudável, uma forma de impedir que a inércia tome conta da rotina do ator.
Acho que é isso."

Pascoal da Conceição

sábado, 22 de março de 2008

EU, AUTOR PREMIADO

Tanto que eu queria dizer naquele microfone da festa do 20.º Prêmio Shell de Teatro. Tanto... Mas a voz sai embargada, a luta para vencer a timidez consome uma energia imensa, e ficou tanta coisa por falar... Agora, 'pós-premium', fico aqui matutanto, matutando, e o que talvez eu também devesse ter falado é sobre o "porquê". Isso mesmo: por que Estação Carandiru? Ouvimos essa pergunta de gente impertinente quando a montagem estava sendo gestada. E até chegou a nos abalar um pouco: como assim?, será que não está tão óbvio o porquê? Mas a pergunta é de certa forma pertinente. Naquele ano de 1999, quando li-devorei o livro 'bíblia do humanismo' do doutor Drauzio Varella, eu sentei pra fazer uma peça como um exercício meu: exercício de minha paixão pelo teatro. Sim. Mas havia outro exercício. Maior. Bem maior. E agora eu sei. O exercício de querer ser mais humano. Ser gente como o Drauzio, como o doutorzão bam-bam-bam, da lavra dos humanistas. Foi um exercício, sim, mas de outro tipo: um exercício de compaixão pelo ser humano enclausurado, encarcerado, de comportamento alterado, violento, gerador de violência. Eu queria aprender a ser tolerante, como o livro do dr. Drauzio ensina a cada página. Como o Drauzio expele por todos os seus poros: basta conviver um pouquinho com ele e se constata isso. E quando eu vejo, hoje, prêmio conquistado, platéias enlouquecidas, depois de tanto tempo do massacre do Carandiru, o quanto essa peça está tendo, ainda hoje, grande ressonância nas pessoas, aí eu fico com um baita orgulho de ter sentido naquele momento da adaptação do livro essa vontade de humanismo, a sede de compaixão que me causou a leitura do livro do Drauzio. Porque todas, todas as platéias do nosso Salmo 91, em todas as cidades por onde já passamos, todas sentem essa mesma sede. São pessoas que querem vencer o quadro de violência deste País sem usar a mesma violência. São pessoas exercitando a tolerância e a compaixão na platéia do teatro. A força do teatro. As palavras! O que mais pode querer um autor? Eu vejo luz no fim do túnel deste país das injustiças, das intolerâncias e dos massacres, quando a platéia do Salmo 91, seja em que cidade for, se levanta completamente tomada e aplaude os cinco magníficos atores, como que dizendo a eles que o recado foi dado, sim, que todos entenderam a força da palavra, o extrato concentrado de humanismo que nasceu no Drauzio, que eu tentei aprender (e apreender) com minha adaptação e que, depois, como eu disse no microfone do Shell e agora repito, o "gênio" diretor Gabriel Villela, esse anjo Gabriel mineiro barroco, soube como ninguém potencializar em cena. Está aí o meu porquê. Escolhi esse livro e fiz essa adaptação porque eu quero para o mundo o humanismo de Drauzio Varella elevado à máxima potência - e adaptar Estação Carandiru foi minha necessidade de expressar isso, de aprender isso. Como eu disse, foi meu exercício de compaixão pelo ser humano. Será que eu aprendi? Me dá um nó na garganta cada vez que penso nisso. Porque agora me deram até prêmio, mas eu sei que ainda falta muito pra eu entender o mundo e me despir de preconceitos e de medos. O que só demonstra o quanto eu, como autor e, sobretudo como ser humano, continuo com sede, muita sede. E eu não me sinto nem quero me sentir pronto. Eu quero é mais!
DIB CARNEIRO NETO

segunda-feira, 17 de março de 2008

PREMIO SHELL

NOITE DO PRÊMIO SHELL EM SÃO PAULO.
SALMO CONCORRE COMO AUTOR, DIRETOR E ATOR.
NÃO SEI AINDA NO QUE VAI DAR ESSA PREMIAÇÃO.
MUITOS SERÃO OS PRÊMIOS DESTA NOITE DO SHELL,
MUITOS ARTISTAS TERÂO MUITO A CELEBRAR E AGRADECER.
EU, DA MINHA PARTE,
GOSTARIA DE RESSALVAR O COISAS DAQUI DO SALMO 91,
ONDE A MÃO DE VOCÊS DOIS,
GABRIEL E DIB, FOI FUNDAMENTAL:
GRAÇAS A VOCÊS O TEATRO BRASILEIRO GANHOU UM ARREPIO,
UMAS LÁGRIMAS, UMAS ANGUSTIAS, UMAS INDIGNAÇÕES,
QUE ULTRAPASSAM OS PARABENS SEMELHANTES A TODOS OS PARABENS.

OUVI AO FINAL DA ESTRÉIA NO RIO A PALAVRA ORGULHO,
ORGULHO DE SER DO TEATRO,
ORGULHO DE ESTAR NA COMPANHIA DA PAIXÃO E DA COMPAIXÃO,
JUNTO AOS SOLIDÁRIOS COM AS VOZES MAIS SUFOCADAS,
QUE TROUXERAM PARA A CENA MAIS QUE O LIVRO,
MAIS QUE O FILME, MUITO MAIS QUE A TV
COMO DISSE O SERGIO BRITO,
ESTOU NA COMPANHIA DAQUELES QUE FAZEM HISTÓRIA PELA MANEIRA COMO SE COLOCAM NA SUA PROFISSÃO.

EU NÃO SOU O TEATRO,
MAS AGRADEÇO COMO ATOR O PRÊMIO DE FALAR EM PRIMEIRA PESSOA
DO QUE EU QUERO FALAR.
OS PRÊMIOS ELES EXISTEM, PREMIAM OU NÃO,
ESTARÃO PREMIADOS SEMPRE NAS VOZES OU SUSSUROS QUE GRITAM NAS PLATÉIAS, ORGULHOSAS DE NÃO FUGIR DA RAIA.

O RODOLFO NOSSA VERONIQUE INDIA PARAGUAIA É SEM SOMBRA NENHUMA A SINTESE DA VOZ MAIS FRACA, MAIS SUFOCADA, MAIS DO RALO, DA PRIVADA NESTES TEMPOS DE TANTA MERDA.

E É MERDA MESMO.

MERDA DIB, GABRIEL E RODOLFO
MERDA A TODOS NÓS
SEM ESQUECER NINGUÉM
AMÉM
PASCOAL

sexta-feira, 14 de março de 2008

GABRIEL ESTÁ BUDA

Quinta feira, 13/03/2008, sentado na varanda do Teatro Poeira, de costas para a rua São João Batista o lado esquerdo virado pra entrada do cemitério São João Batista, frente para o teatro, com um céu nublado em nuvens que não caiam em chuva ainda, muito calor, estávamos em roda de Buda Gabriel e nossos ouvidos de atores bebiam seus comentários, uma parada de mestre em Botafogo.
“nosso ouvido tem na região da nuca umas glândulas que escutam profundamente o que dizemos, é com essa região, trás da nuca, eu quero que seja falado o texto em bossa nova, sem ferir mais com tanto barulho, de carros, de informação e de bala perdida. Há um barulhão de bomba na cabeça da gente e fica uma surdez daquelas onde todos estão se falando mas não ouvindo nada. Então essa nossa história de violência tão dolorida, já tão esganiçada, que em outros tempos exigiram pulmões de Vicente Celestino hoje estão pedindo a intensidade do João Gilberto. Lentamente, suavemente, entrando fundo, rebolando, dervichando dentro da cabeça de cada um.”

pascoal da conceição

PLATÃO
Platão não admitia os atores na sua República, porque como trabalhamos com a cena e trazíamos para ela tudo, o obsceno, inclusive, como agora fazemos no Salmo, então, segundo Platão, iríamos contaminar a pureza da República, dando destaque a criaturas e costumes que a República não devia nem pensar quanto mais mostrar.
Lembrei que, com o Salmo 91 ainda em São Paulo, Gabriel foi convidado para ir até o Senado da nossa República por uma senadora que não lembro o nome, e não quis ir.
Não iria emprestar a dignidade do teatro conseguida ao custo das cabeças dos muitos bobos da corte a uma República que só sabe oferecer a nós todos a sua decadência. E não foi.

terça-feira, 11 de março de 2008

FLORES

Li lá no "wikipedia" a explicação que escrevi ai embaixo para libido.
Tudo porque o Gabriel lembrou muito bem da libido da prisao, muito homem junto, testosterona, eros e tanatos, morte e vida, os cheiros, as carnes, tudo traduzido num tesao sem controle, que se ama encoberto ou aberto, com dor e sem dor, de macho jurado de amor e morte.
Pediu demais isso para amanhã, o dia da estréia.
É o tesão do libidino e sem vergonha do véio macunaíma Valdo/Saturno, é o pau de fogo do Charuto, a noite da Zizi com os sons do gostosão dando com gosto o cu de macho pra Margô Sueli, Veronique, tanto amor, tanta dor...
Lembrou que na prisao há violência, há crueldade, mas sobretudo há tesão, libido solta e presa, bem parecida com a libido do teatro, gerada pelos corpos presentes de tos na sala, com cheiro de gente, olhos e paqueras que nenhuma outra arte tem.
Nosso Deus, Dionizios, aliás, é o deus libidinoso.

Se o Sol está com Apolo, Dionizios está com a Lua, mais que nunca com a Lua preta, sedutora e estranha, escura e atraente, tesuda, que agora está lá em cima no céu do Rio de Janeiro...

Tesão de ensaio...
Toda vez que se comeca a ensaiar tudo se renova, fica todo mundo zerado, voltando lentamente a viver.
Estamos vivendo uma nova floração gracas ao jardineiro Gabriel.
Amanhã, 12 de março, nasce uma nova flor, a flor desta estacão Rio de Janeiro.

P.S. última nota do dia: estou na recepção escrevendo sozinho, eu com os barulhos das teclas, tec tec terec tec, de repente, da rua passa uma fala, um ônibus, uma moto, pneus rodando rápido, tudo vindo misturado com zumbidos que não sei de onde vem, ranger de cadeira, vento...
Mas de repente, veio uma respiração forte, funda, um ronco, que me tirou dessa coisa de escrever aqui e me fez olhar em volta: o seguranca de um lado e do outro o recepcionista dormindo como duas criancas. Tão serenos...
Na certa foram ninados pelas minhas batucadinhas paulistas aqui nestas malfadadas e maravilhosas teclas salmo 91, felizes, de noites deliciosas de ensaio e viagem pelo brasil, tentando comentarios impossiveis de dizer, mas tentando.
Boa noite a eles e a todos.
Que a cidade durma bem, pro dia nascer feliz.
Amém amém.

pascoal da conceição

LIBIDO

Libido (do latim, significando "desejo" ou "anseio") é caracterizada como a energia aproveitável para os instintos de vida. De acordo com Freud, o ser humano apresenta uma fonte de energia separada para cada um dos instintos gerais.
"Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais observados" (1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.)
A libido apresenta uma característica importante que é a sua mobilidade, ou a facilidade de alternar entre uma área de atenção para outra.
No campo do desejo sexual está vinculada a aspectos emocionais e psicológicos.
Santo Agostinho foi o primeiro a distinguir três tipos de desejos: a libido sciendi, desejo de conhecimento, a libido sentiendi, desejo sensual em sentido mais amplo, e a libido dominendi, desejo de dominar

LUA NOVA

No céu do Brasil a Lua está preta, crescendo devagarinho. Quase não se vê a grande Lua Cheia e luminosa que está sendo construída lentamente para deleite de todos os namorados e enamorados de todos os amores.
Dia a dia, noite a noite, nossa lua pequenina, nosso trabalho, mimetizando a lua grande lá em cima no céu, vai sendo construída aqui embaixo embalada na poeira das ruas de Botafogo. Um pulinho na praia, outro pulinho no restaurante e um tantão sem ver o que será do dia porque estamos lá dentro do teatro, lentamente, cevando nossa lua cheia de intuições chamada SALMO 91.
"Lua querida, rege nossos caminhos, com toda aquela bossa que é o seu silencioso desfile no meio das nuvens; rege nossa elegância, pra que a gente fale bossa nova como quer o Gabriel, para que a gente em cena devolva pro Claudio todo o tratamento aristocrático, lotado de realeza, que ele vem nos oferecendo, regendo sua equipe de duques e princezas.
Por fim, que as palavras jogadas no fundo das águas choradas do rio Carandiru, como viu o doutor Drausio Varela, bateadas pelas mãos mais que generosas do Dib, sejam triscadas e virem ouro, diamante, na boca e na lingua morena paulista brasileira do nosso elenco.
Noite ansiosa de pre-estreia.
MERDA!

pascoal da conceição

segunda-feira, 10 de março de 2008

BOSSA NOVA

Estamos dentro do teatro poeira. hoje fizemos o primeiro ensaio. o teatro é bem pequeno então não tem a menor necessidade de você aumentar o volume da fala. é como se fosse o banheiro onde o joão gilberto esteve por muitos meses cantando e se ouvindo até propor uma revolução chamada bossa nova.
Gabriel inspirado veio propor um jeito, outro jeito, de falar cada palavra, um jeito de reafirmar o valor da fala como meio de comunicação inteligente entre as vidas humana, uma comunicação sem o ruído das falas surdas e violentas que regem um cotidiano de maldades, crimes, injustiças...
a sensação que tenho é que os atores quanto menos são ouvidos mais aumentam o volume das suas atuações e como efeito têm um espectador que não nos ouve, não vai ao teatro, nem sabe que gente existe.
bossa nova!
falar bossa nova, mansinho e contundente, o ator como uma máquina de fazer palavras poderosas que como um moinho fazem pó das idéias do que seja essa arte mais antiga que todas as artes.

pascoal da conceição

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

TEATRO BRASILEIRO

Vamos para o Rio de Janeiro em temporada apertada de um mês. Nossos ensaios para a temporada começam dia 10 de março para estréia dia 12. Vai ser muito pouco tempo, talvez possamos compensar esse tempo exíguo que impediu que pudéssemos nos encontrar e discutir mais a peça nesse longo período que vai de novembro até março, talvez possamos compensar isso com o fato de que, ano passado, ensaiamos e apresentamos a peça entre maio e novembro. O Gabriel dizia do alto de uma intuição que se manifestava na mesa de água, cachaça e chopes que estávamos distantes, des-unidos, ia nos trancar numa sala para durante dez dias jogarmos futebol... Uma angústia, uma mágoa, de não poder "amar teatro" o tempo todo como ele diz. Mas o que fazer?
Eu como ator, da minha parte, digo: biscateio. Pulo ali e aqui para fazer umas coisinhas, dar umas facadinhas que juro, apesar das manchas de sangue, não matam ninguém, é só pra sobreviver, ou alguma coisa parecida com isso.
Já discuti, já amei teatro, já virei do avesso minha "pessoa" mas, não é que cansei, é que me perdi não sei em que quebrada e fiquei zanzando, assobiando "na batucada da vida".
Teatro brasileiro? É, dizem que tem, dizem que é isso, aquilo, falm bem de figurões, falam mal de figurões, falam muita coisa, eu também falo, falo, falo...

E por falar em falo lembro da fala do rei Claudio em Ham-let, lá pelo quarto ou quinto ato:

"O que fazer? Tentar o que pode o arrependimento? Mas o que ele pode quando a gente não pode se arrepender? Ah, estado desgraçado, peito preto como a morte, que patinando pra ser livre só se atola cada vez mais!"

pascoal da conceição

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MUDAR

TEXTO DE EDUARDO SOARES NO LIVRO CABEÇA DE PORCO, ESCRITO COM CELSO ATHAYDE E MV BILL:

"É difícil mudar. Muito difícil.
Doloroso e angustiante.
Primeiro, porque a ousadia de mudar-se a si mesmo envolve cortejar a morte. Na mudança, uma parte de nós perece; um modo de sermos nós mesmos entra em colapso.
Segundo, porque enfrentamos a resistência organizada das instituições e a oposição ferrenha de todo mundo que nos cerca.
Unem-se numa brigada contra a mudança aqueles que, de uma forma ou de outra, nos conhecem, dão testemunho de nossa biografia e zelam pela imutabilidade.
Engana-se quem imagina que contará com o apoio alheio ao projeto de transformar-se, mesmo que a mudança seja um imperativo social e um desejo coletivo.
Equivoca-se o sonhador ingênuo que espera estímulo à mudança por parte das instituições supostamente destinadas a promovê-la, por paradoxal que pareça.

Este é o fato: há uma conspiração pela fixação de identidades e pelo congelamento de suas respectivas qualificações, especialmente se tais qualificações forem estigmatizantes.

Mas a pior notícia é a seguinte: nós tomamos parte na conspiração; participamos e contribuímos para a blindagem ontológica que coagula a história e engessa processos biográficos.


A clínica da drogadição é rica em casos surpreendentes, para os quais a abordagem sistêmica oferece explicações plausíveis:
ocorre com muito maior freqüência do que se poderia imaginar que, por exemplo , a esposa, depois de lutar com todas as suas forças contra o alcoolismo do marido, durante anos, se desestruture quando finalmente obtém a cura desejada.
Nesses casos surpreendentes, quando seu marido se recupera, abandona o álcool e retoma sua vida, volta ao trabalho, reencontra uma rotina funcional, a esposa entra em crise, se divorcia, torna-se alcoólatra ou busca o suicídio.
Compreende-se: afinal, um sistema de interações se organizara, alcançara equilíbrio e velocidade de cruzeiro, conquistara autonomia e se enrijecera, reafirmando valores, distribuindo qualidades, responsabilidades, méritos e culpas.
Enquanto seu marido estivera doente, recolhido a casa ou clínica para tratamento, a mulher tornara-se, diante dos filhos, da comunidade e de si mesma, líder da unidade doméstica, chefe da família, portadora de autoridade e responsabilidades especiais, todas cercadas de sinais positivos. Esta valorização de seu papel compensava o sacrifício e a sobrecarga de trabalho.
Tudo isso rui com o retorno à vida útil e saudável de seu marido - retorno que, paradoxalmente, ela tanto almejara. A ruína do arranjo social e psicológico, moral e simbólico, micropolítico e cultural, proporcionado pela patologia do marido, reenvia a mulher a uma posição anterior (qualquer que ela tenha sido), posição com a qual ela não mais se identifica e à qual ela passa a ter grandes dificuldades de adaptação.
O novo sistema, armado pela e para doença, não pode suportar a cura e não está preparado para conviver, admitir, acolher e valorizar a saúde.
É por isso que os psicanalistas esperam crises nas relações de seus novos pacientes com a família e com o círculo de relações intimas, porque a mera possibilidade de mudança real ou imaginária de um dos membros da rede social a coloca em xeque, na medida em que pode vir a significar risco de subversão das condições que a tornam possível, tal como ela existe e se reproduz (com seu equilíbrio e seu desequilíbrio, sua estabilidade e sua instabilidade).
Mesmo que a eventual mudança reduza aspectos negativos das relações e fortaleça características positivas, há sempre em jogo o risco de perdas.
Ou seja, todos os envolvidos numa teia de relações na qual se inocule o DNA da mudança sentem-se, direta ou indiretamente, atingidos, provocados, mobilizados. Há temor de que os lados sombrios de cada um sejam tocados, acionados, desnudados; há expectativa de que se desencadeie um processo fora de controle que ameace certezas e seguranças individuais.

EM UMA PALAVRA: AS PESSOAS NÃO TEMEM APENAS TRANSFORMAÇÕES PARA PIOR. TEMEM TRANSFORMAÇÕES E PRONTO.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

INTELIGÊNCIA

I

Quando ZARATUSTRA completou trinta anos
abandonou tudo o que tinha
e o que não tinha
e foi para a montanha.
Lá, durante dez anos,
alimentou-se do seu espírito e da sua solidão,
sem nunca se fatigar.

Mas um dia,
finalmente,
mudou tudo, até o coração,
e de manhã, ao levantar-se com Aurora
pôs-se diante do sol
e assim falou:

- Grande astro, o que seria da tua felicidade
se te faltassem aqueles a quem iluminas?
Há dez anos ascendes até a minha caverna
e ter-te-ias cansado da tua luz e deste trajeto
se não estivéssemos lá,
eu, minha águia e minha serpente.
Mas, nós te esperávamos todas as manhãs
para tomarmos o teu perfume,
e por isso te bem dizíamos.

Vê:
estou como a abelha que acumulou muito mel.
Quero dar e repartir
até o dia em que os sábios entre os homens
sintam-se alegres de sua loucura
e os pobres de sua riqueza.

Por isso devo descer às profundidades,
como tu durante a noite
quando mergulhas abaixo do mar
para levar a tua luz ao mundo inferior.
E devo “descer” como Sol,
como dizem os homens
pra quem quero baixar.

Bendiz-me, portanto, olho tranqüilo,
que podes ver sem inveja até o excesso de felicidade.
Bendiz o cálice que vai dar de beber,
para que dele fluam as douradas águas,
levando a todos os lados o reflexo da tua delícia.
Olha!
Este cálice deseja esvaziar-se outra vez
e ZARATUSTRA outra vez
quer tornar-se homem!

Assim começou a descida de ZARATUSTRA.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

VIGIAR E PUNIR - MICHEL FOUCAULT

Percorrei os locais onde se julga, se prende, se mata... Um fato nos chama a atenção sempre: em toda parte vedes duas classes bem distintas de homens, dos quais uns se encontram sempre nos assentos dos acusados e dos juízes e os outros no banco dos réus e dos acusados.
...
A prisão, essa REGIÃO MAIS SOMBRIA DO APARELHO DE JUSTIÇA, é o local onde o poder de punir, que não ousa mais se exercer com o rosto descoberto, organiza silenciosamente um campo de objetividade em que o CASTIGO poderá funcionar em plena luz como terapêutica e a SENTENÇA se inscrever entre os DISCURSOS DO SABER.
Compreende-se que a justiça tenha adotado tão facilmente uma prisão que NÃO fora entretanto filha de seus pensamentos. Ela lhe era agradecida por isso.
...
Pode-se dizer que a delinqüência , solidificada por um sistema penal centrado sobre a prisão, representa um desvio de ilegalidade para os circuitos de lucro e de poder ilícitos da classe dominante.
A organização de uma ilegalidade isolada e fechada na delinqüência não teria sido possível sem o desenvolvimento dos controles policiais. Ficalização geral da população, vigilância muda, misteriosa, desapercebida...
é o olho do governo incessantemente aberto e velando indistintamente sobre todos os cidadão, sem para isso submetê-lo a qualquer medida coercitiva... ela não tem necessidade de estar escrita na lei.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

MEDITAÇÃO SOBRE O RIO DE JANEIRO

Estamos a caminho do Rio de Janeiro. Depois de São Paulo temporada na cidade e no interior vamos agora pela primeira vez para fora do estado carandiru.
A produção manda suas primeiras notícias das dificuldades que tem que enfrentar. Nenhuma novidade na dura criação desse enjeitado, O Teatro Brasileiro. Pobre do país que precisa de heróis e estamos precisando de muitos deles faz tempo, sabemos o que isso significa.
Todas as honras para a produção capitaneada pelo Claudio Fontana e os outros que fazem a produção e que não nomeei aqui.
O Claudio é o que mais escreve, e o mais animado, eu quero me contagiar com essa febre!
Vamos ver.
Quem quiser pode entrar na internet e ver o teatro poeira, http://www.teatropoeira.com.br/. Fica na frente, atrás, do lado, do cemitério são joão batista, famoso pelas personalidades criminosas ou não que a gente vê enterradas lá pela televisão. Até na novela das oito aparece o cemitério. Eu fui lá visitar o túmulo do Nelson Rodrigues que ali dorme o seu sono eterno acompanhado dos seus vizinhos. Será que descansa em paz e sem pesadelos?
Quem sabe?
A rua do teatro é rua são joão batista, que também está na internet, é o santo filho da mãe que deu um salve! para maria cheia de graça e a criança pulou de alegria na sua barriga. E é também a cabeça que Salomé pediu e Herodes mandou cortar. Ele era o homem? perguntaram, e ele respondeu que não tinha categoria nem pra tirar o pó da sandália do homem que viria depois dele.
Voz tão linda, tão potente que ficou pra sempre como a voz que clama no deserto e o deserto escuta!
Cabeça arrancada como foi a cabeça do Coronel, depois General, Macbeth Ubiratan, o fudidão da tropa de elite cuja rota era botar pra fuder e fazer jorrar o sangue pelas escadarias, anunciar pro zé povinho que "se correr a rota pega e se ficar a rota mata", e refrescar pra quem tinha esquecido, que o nosso Tempo não dá tempo pro AMOR, que não é coisa de macho, deixou de ser coisa de viado e há muito tempo atrás foi coisa de mulher.
Tudo no mesmo dia em que o Collor foi embora impichado pra sempre na história política do brasil, mesmo dia em que o medo venceu a esperança e o maluf ganhou de novo a prefeitura de são paulo contra o senador suplicy.
Cabezas cortadas!
Estamos indo pro rio de tropas de elite globais, a cidade de Deus, maravilhosa, onde meu nome não é ninguém, nem johny, que no seu cotidiano todo dia faz sempre igual me sacode invandindo minha vida em massacres, rocinhas, alemãoes, caveirão, pesadelos que me fazem sentir uma alice cabacinho indo para o país dos espelhos.
Será que vou chover no molhado, ensinar o padre nosso pro vigário geral?
...
Eu tenho medo... Meu coração está pequeno, é tanta
Essa demagogia, é tamanha,
Que eu tenho medo de abraçar os inimigos,
Em busca apenas dum sabor,
Em busca dum olhar,
Um sabor, um olhar, uma certeza...

É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!

...

"Meditação sobre o Tietê", Mario de Andrade.
...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

MACBETH

Fui ver Macbeth e lembrei do salmo 91 por conta do banho de sangue e do heroi que tem coragem de fazer por nós o banho de sangue.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A VOZ QUE CLAMA NO DESERTO

São João Batista,
voz que clama no deserto:

"Endireitai os caminhos do Senhor...
fazei penitência,
porque no meio de vós está quem não conheceis
e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias",

ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas
para que eu me torne digno do perdão
daquele que vós anunciastes com estas palavras:

"Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo".

sábado, 9 de fevereiro de 2008

KAFKA

"E então começava a execução! Nenhum som discrepante pertubava o trabalho da máquina. Muitos já nem olhavam mais, ficavam deitados na areia com os olhos cerrados. Todos sabiam: agora se faz justiça. No silêncio só se ouviam os suspiros do condenado, abafados pelo feltro... Como captávamos todos a expressão de transfiguração no rosto martirizado, como banhávamos nossas faces no brilho dessa justiça finalmente alcançada e que logo se desvanecia! Que tempos aqueles, meu camarada!"

É a justiça na sua plenitude, sem intermediários: diretamente na pele do sujeito ela grava a sua sentença e o cara vai sentindo a justiça sendo feita e quem está por perto nem precisa ver pra saber o que se cumpre.
Leio hoje sobre prisões em Minas Gerais: ratos que comem até a carne dos cadáveres de presos mortos em rebeliões, baratas pelas paredes e lacraias que entram nos ouvidos, comida azeda, dormir sentado, 90 homens onde cabem 9, alguns a quase um ano: a MAQUINA DA JUSTIÇA funcionando.