segunda-feira, 9 de julho de 2007

Salmo 91 no fanzine Almanaquito, da jornalista Maria do Rosário Caetano

SALMO 91 & RODOLFO VAZ

Sexta passada fui ao Sesc Santana assistir à estréia (para convidados)da peça "SALMO 91", de Dib Carneiro Neto, a partir do livro ESTAÇÃO CARANDIRU, de Drauzio Varella, direção de Gabriel Villela. Primeiro, um dado curioso. Desci do metrô no Jardim Paulista, para de lá pegar um taxi para o novo SESC SANTANA, que eu não conhecia ainda.
Sem achar um táxi, vi uma moça e um garoto, no mesmo rumo. Perguntei se sabiam onde eu tomaria um táxi para ir ao Sesc Santana. A moça respondeu que estavam, ela e o adolescente, indo prá lá. "Então vamos pegar o táxi juntos!". Fomos. Enquanto procurávamos o taxi, perguntei se eles estavam "indo ver a peça do Dib".
Ela respondeu: "estamos indo ver a peça do Paschoal (da Conceição)". Rimos, pois nossas referências chegavam à mesma montagem. Eu citava o adaptador/autor do texto e ela um dos atores (o grande Paschoal da Conceição, de montagens de Zé Celso e nosso "eterno Mário de Andrade"). Ela me contou que o adolescente que a acompanhava era parente de Paschoal e seguimos falando dele.
Aí ela me contou algo curioso: Paschoal nasceu no mesmo dia de Mário de Andrade. A distância do metrô ao Sesc era curta e chegamos. Nos despedimos, ela me contou que se chama Andréia e que é fonoaudióloga.
Assisti à peça e o elenco deu um show. A adaptação do Dib, por incrível que pareça, trouxe novidade até para mim, que li o livro do Drauzio (ESTAÇÃO CARANDIRU) duas vezes (uma por prazer, outra a trabalho) e vi "Carandiru" (Babenco, longa visto por 4,6 milhões de brasileiros) cinco vezes(****pois fiz o press-book do filme: modéstia à parte, um press book completíssimo, com mini-biografia do numeroso elenco, etc, etc, pois Columbia e Pro-Cultura, que o produziram, me deram as melhores condições que tive para realizar tal tipo de trabalho: TODO MUNDO sabe que tenho vocação de Pro-Memória!!!)...
Voltando à peça: fui ver, pois sou amiga do DIB (editor do Caderno 2 do Estadão), mas tinha pouca esperança de deparar-me com alguma novidade. Afinal, depois de ler o livro 2 vezes e ver o filme por 5!!!!... Mas, surpresa, Dib fez um trabalho que mostra o quão fértil é o livro do Drauzio. Misturou histórias/personagens, tirou o médico de cena, foi mais "bárbaro" que o médico-humanista que é Dr. Drauzio, abriu espaço nobre para duas travestis com palavreado riquíssimo-barra pesada, etc, etc. Gabriel Villela nadou de braçada. O público (OK, eram convidados, a maioria atores/gente de teatro) aplaudiu os solos dos intérpretes em cena aberta. Mas o time está mesmo tinindo trincando...
Tudo isto para dizer que, ao final, fui perguntar ao Dib quem eram aqueles atores (só conhecia Paschoal da Conceição de Castelo Rá Tim Bum, das peças do Zé Celso e da minissérie da Globo, na qual ele foi Mário de Andrade).
Dib, muito assediado (como é normal nestas ocasiões), me respondeu: "são atores que Gabriel Villela conhece bem e trouxe para esta montagem" (aliás, despojadísisma e nada parecida com os trabalhos dele que eu conhecia. O que mais amei foi Vem Buscar-Me Que Ainda Sou Teu...).
Apesar da resposta do Dib, continuei encafifada. Havia um ator ali que eu conhecia. Não sabia de onde, mas conhecia. Fiquei quebrando cabeça noite adentro (sou teimosa feito mula) quando a ficha caiu: aquele ator que faz uma das travestis (Veronique) é o protagonista de AS TENTAÇÕES DO BEATO SEBASTIÃO, do cearense-cidadão-do-mundo José "Sertão das Memórias" Araujo, que vi em 2006, no CineCeará.
Houve um maravilhoso debate sobre o filme (((( que -- aliás -- deixara todo mundo perplexo!!!))))) no qual Zé Araújo e RODOLFO VAZ causaram sensação: pela inteligência, pelas respostas complexas e pela sinceridade.
Zé Araújo, que causou sensação em vários festivais com Sertão das Memórias, vinha buscando energias e explicações para enfrentar tal PERPLEXIDADE (quase rejeição!) ao segundo filme... Uma leitura especial da história de São Sebastião, que descobri ali ser um ícone gay. (Confesso que não sabia!!!!!).
VAZ contou que vinha do Grupo Galpão, de Minas, falou de seu trabalho no filme, etc....Zé contou que, nas filmagens, pessoas trabalharam EM TRANSE (o filme soma catolicismo com rituais afro-índio-brasileiros), etc, etc..
TUDO isto para confirmar que eu estava certa: realmente conhecia VAZ de algum lugar!!!
E como vejo centenas de filmes, só podia
ser do cinema, né?? Bjs rô --
E recomendo: vejam o filme (de cabeça aberta!) e a peça.
MARIA DO ROSÁRIO CAETANO, fanzine Almanaquito

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