Salmo 91
por Luiz Carlos Merten, blog no site www.estadao.com.br/blog/merten
Andei (ainda ando) mergulhado no universo de Carandiru – O Filme, por conta de um projeto muito interessante e que, oportunamente, será revelado. Entrevistei toda a equipe do filme de Hector Babenco. Já havia redigido o texto quando senti que seria absurdo não ter o pai da criança, aquele que tudo começou. Conversei com Drauzio Varella na quinta à noite e a entrevista com ele me fez ver que precisava ir atrás de Rita Cadillac, também. Entrevistei-a ontem à tarde. Foi ótima. À noite, fui, como quase toda a equipe do Caderno 2, assistir à estréia de Salmo 91, a peça que Dib Carneiro Neto adaptou do livro de Drauzio. Dib é editor do Caderno 2 e um amigo muito especial. Havia lido o texto, uma série de dez monólogos que penetram naquele universo de violência para mostrar que os detentos de alta periculosidade, vivendo como bichos, são gente. O texto é muito forte, cada monólogo melhor que o outro. Gabriel Vilela potencializou essa força numa montagem muito intensa. Agora, posso dizer. Gabriel tem aquela coisa muito mineira, muito barroca, muito anjinho pro meu gosto. O que ele vai fazer com esse texto, me perguntava? O que o cara fez com a peça não está no gibi. Toda a força está na palavra, desde o espetacular monólogo inicial de Pascoal da Conceição, que vomita seu texto. Gabriel foi na veia – menos é mais, mas o menos dele inclui uma visualização tão forte que aqueles cinco atores, vivendo dez papéis, tornam-se antológicos. Toda tragédia passa pela palavra. Êpa! Já escrevi isso, e foi sobre Joseph L. Mankiewicz, um dos meus autores preferidos – A Malvada, A Condessa Descalça, De Repente no Último Verão, Jogo Mortal. Mankiewicz constrói, na tela, sua mise-en-scène por meio do dinamismo dos diálogos, sempre taco-no-taco. Gabriel cria, sem firulas, um dinamismo muito grande nos monólogos. Fiquei de olho preso. Que elenco! Depois de livro, cinema e série de TV, Carandiru fecha um ciclo no teatro. Vejam. No Sesc Santana, espetáculos hoje, amanhã e segunda (por causa do feriado). Depois, de quinta a domingo, durante um mês e meio.
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Um comentário:
O TEXTO TODO DO DIB É UM ORÁCULO. É ELE TODO UM SALMO 91.
FOI ELE QUE COM SUA INTELIGÊNCIA PROVOCOU ATORES, DIRETOR, CRIADORES TODOS PARA UM OLHAR PARA OS ÌMPIOS, UM OLHAR PRA NÓS MESMOS, UM OLHAR PARA OS DEZ MIL QUE CAEM, OU CAIRÃO, A NOSSA DIREITA E ESQUERDA.
"MIL CAIRÃO A TEU LADO E DEZ MIL A TUA DIREITA MAS TU NÃO SERÁS ATINGIDO. NADA CHEGARÁ A TUA TENDA. APENAS OLHE E VERAS A RECOMPENSA DOS ÍMPIOS"
ESSA FRASE DO ORÁCULO DO SALMO 91, COM QUE O DIB ENCERRA A PEÇA E QUE QUASE PEDE UM URRO GRITANDO MÃE, RESUME BRILHANTEMENTE O GRANDE TRABALHO CRIADOR QUE ELE REALIZOU: SUA PEÇA É UMA CARTA AOS SOBREVIVENTES. A ELES CABE PRIMEIRO CONSTATAR QUE SUA VIDA, SUA SOBREVIVENCIA, CUSTOU MILHARES A DIREITA E ESQUERDA. CONHECE-TE A TI MESMO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DIZ O VERBO GREGO, ESCUTA O QUE O SANGUE DERRAMADO PELOS QUE ESTAVAM A TEU LADO TE FALA AGORA.
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