terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Salmo 91 e o Prêmio Qualidade Brasil 2007




Levamos o de melhor espetáculo, melhor direção e melhor ator - Pascoal da Conceição, que, por incrível que pareça, recebeu seu primeiro prêmio.

domingo, 25 de novembro de 2007

SERTÕES

estou fervendo escrevendo a tudo e a todos porque estas coisas que falo o tempo todo estão pedindo pra ser executadas, estão clamando pra se transformar em vida viva.
vejam essa:
Outro dia li e ouvi uma notícia que envolvia três jovens: dois irmãos que se amavam, seqüestram e matam o irmão mais novo, pedindo resgate pro pai.
Estávamos em Presidente Prudente pra apresentar SALMO 91, o nome é pra homenagear Prudente de Morais, primeiro presidente civil do Brasil, o homem que fez o papel de mandar tropa do exército executar o crime, na significação integral da palavra, do massacre de Canudos, como conta Euclides da Cunha.
Então, li a notícia no jornal do café da manha e fiquei ali meio parado, pensando, fracote, claro chocado pela violência da notícia, mas muito mais pela pobreza do imagiário destas crianças: amar, mudar de vida, crescer, fazer virar ouro as merdas que nos apresentam, sonhar outras possibilidades pra tudo que nos pode acontecer, isso todo mundo quer. Está fácil, filosofada e transmutada na poesia do Sheakespeare, Machado de Assim, Cervantes, Dostoiewisky. Mas uma noticia assim me debilita porque sinto de que quando coisas assim acontecem, e elas tem acontecido tanto, é sinal da cada vez mais urgente necessidade do nosso trabalho, tem muito que se fazer pra fermentar e ampliar os alcances desse imagiário, tendo POESIA e não o crime como fonte inspiradora da ação.
Como ator desejo sempre trabalhos que signifiquem ações nesta direção.

Terra Ignota: Ação

Sob a luz desta lua cheia, 110 anos depois, a companhia de teatro oficina vai encenar num campo de futebol da cidade de Canudos, no sertão da Bahia, do entardecer até a boca da madrugada, durante cinco dias, no mesmo território que recebeu os corpos e o sangue de guerreiros e civis de todos os lados, mortos nesta luta fratricida que foi a Guerra de Canudos, vai encenar os SERTÕES de Euclides da Cunha, cuja grandeza e importância eu nem preciso me esforçar pra lembrar.

Estarei presente para reportar, ‘in loco’, no sertão de Canudos, Bahia, ao JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, as apresentações que fará o TEATRO OFICINA UZYNA UZONA, sob a direção de José Celso Martinez Correia, dias 28, 29 e 30 de novembro e 1 e 2 de dezembro, da encenação em 26 horas que compõem o espetáculo SERTÕES, ensaiado estudado trabalhado ao longo de anos dentro da história do teatro oficina.

A TRÓIA DE TAIPAS,
Nos seus três capítulos do livro, A TERRA, O HOMEM, A LUTA, em mais de 600 páginas, Euclides nos apresenta aquela terra ignota, rememora pra gente a gênese que fez nascer o homem, o seu palco e a luta que foi lá travada, e a ignorância fez brasileiros mandarem pra lá um exército de vinte mil homens armados pra dar um fim em outros brasileiros, nossos irmãos, UM CRIME, NO SENTIDO INTEGRAL DA PALAVRA, como fala Euclides da Cunha.


Euclides esteve lá no Sertão como jornalista, CORRESPONDENTE DE GUERRA DO JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, há 110 anos atrás, enviado por Julio de Mesquita para "'in loco' observar e cobrir as operações militares em Canudos, junto a quarta e última expedição enviada contra o Conselheiro".


Inspirado por isso, e principalmente pelo nosso SALMO 91, escrevi ao jornal e propus pra ser o enviado do jornal pra ser O CORRESPONDENTE DE CULTURA E PAZ desse momento tão fantástico para o teatro do mundo todo. Pedi pra fazer o papel de mensageiro dessa transmutação e pra trazer pras gentes a graça das ações impensáveis, sonhadas pelos artistas, no tesão da imaginação criadora. E pra nossa felicidade guerreira a direção do jornal topou.
Ai, mãe!!!


Nesta segunda feira, pela manhã, embarco para o Sertão. Chego à tardinha e mandarei notícias dessa vitória da transmutação positiva das coisas, que é o nosso trabalho no teatro. Mandarei notícias da minha emoção em presenciar a arte mais uma vez oferecendo ao mundo a generosidade do seu poder criador a serviço da vida. Pensando no quanto isso pode contribuir para fazer crescer a consciência da necessidade da nossa arte, mandarei notícias, espero, do grande significado desse acontecimento que enobrece e honra a luta de todos que acreditam como é maravilhoso este mundo em que vivemos.

Evoé!

sábado, 10 de novembro de 2007

PIRACICABA

"O rio de piracicaba vai botar água pra fora quando chegar a água dos olhos de alguém que chora!"

LUA NOVA

A lua nova nos encontrou em são josé do rio preto, terra do dib.
já são muitas horas principalmente dentro do ônibus conversando o tempo inteiro refletindo sobre teatro e suas ramificações e coincidências.
já passamos por presidente prudente a terra do presidente que ordenou o massacre final de canudos, uma espécie semelhante ao sérgio cabral do rio de janeiro que manda o bope resolver as questões socias.
em presidente prudente como não havia espaço para ensaiar no teatro (estávamos há quase 40 dias sem fazer a peça) a renata alvim achou para nós a casa da palavra: um templo batista vizinho do teatro. o pastor nos deu a sala em que se ensina a palavra de Deus através da bíblia, na lousa estavam escritas algumas frases estudadas pelos presbíteros: o homem de coração puro, de ações dignas verá a Deus.
Em campinas estávamos numa fábrica de balas, não de fuzil, mas doces para cosme damião e doum. a impressão minha é que éramos um recorte naqueles galpões gigantes que faziam a antiga fábrica das balas de campinas. disparamos nossas balas para chegar aos corações daquelas caras que lembravam alunos universitários, professores, mães, gente que eu não conheço ou conheço e não sei. balas, balas, doces balas.
Terceiro espetáculo, o da lua nova, com a chegada do autor, o dib. oferecemos o espetáculo para ele. ele merece. foi o mais visceral, o mais bonito dos nossos espetáculos. noite de platéia cheia, quase lotada, toda de gente de teatro, recebendo e mamando na mão da mamaezinha veronique de milus, aplaudindo zizi marli, quase gozando com o pau do charuto, cheios de espanto da força do nego preto, abençoados pelo véio valdo. merda!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

FALA ARTAUD

abro meus ouvidos pra escutar o mestre do teatro vivo falar forte para que eu me inspire e pire:

"MAIS URGENTE NÃO ME PARECE TANTO DEFENDER UMA CULTURA CUJA EXISTÊNCIA NUNCA SALVOU UMA PESSOA DE TER FOME E DA PREOCUPAÇÃO DE VIVER MELHOR, QUANTO EXTRAIR DAQUILO QUE SE CHAMA CULTURA IDÉIAS CUJA FORÇA VIVA SEJA IDÊNTICA A DA FOME."
extrair daquilo que se chama cultura idéias cuja força viva seja idêntica a da fome, fome de fazer cada vez mais mais. fico triste, deprimido, desanimado, mas reparo que a fome não me abandona, mais cedo ou mais tarde ela desperta e me incomoda e surpreende e de repente me vejo me virando e revirando para viver: viva a força da idéia que dá fome de viver1

"TODAS AS NOSSAS IDÉIAS SOBRE A VIDA TÊM DE SER REVISTAS NUMA ÉPOCA EM QUE NADA MAIS ADERE À VIDA.E ESTA PENOSA CISÃO É MOTIVO PARA AS COISAS SE VINGAREM, E A POESIA QUE NÃO ESTÁ MAIS EM NÓS, E QUE NÃO CONSEGUIRMOS ENCONTRAR MAIS NAS COISAS, REAPARECE DE REPENTE PELO LADO MAU DAS COISAS;E NUNCA SE VIRAM TANTOS CRIMES CUJA GRATUITA ESTRANHEZA SÓ SE EXPLICA POR NOSSA IMPOTÊNCIA EM POSSUIR A VIDA."
li nos jornais desta manhã que dois irmãos que se amavam mataram enforcado um irmão menor para pedir um resgate e fugir. que imaginação mais perversa! é nessa bosta de cultura, de criação fraca, que está o útero que gera estas idéias perversas que depois vão povoar os sonhos e alimentar a ambição que as pessoas tem de mudar suas vidas e viver seus amores. Compreendo voce artaud quando fala da gratuita estranheza dos crimes que só se explica por nossa impotência em possuir a vida. Varre de mim meus pensamentos essa fraqueza, esse nheco nheco sem musculatura, com musculatura burguesa, como diz o Gabriel, que não tem musculos no pensamento para sonhar sonhos de riqueza para a humanidade. Poesia na gente pra revisar nossas idéias com coragem, pra mudar, pra aderir a vida.

"SE O TEATRO EXISTE PARA PERMITIR QUE O RECALCADO VIVA, UMA ESPÉCIE DE ATROZ POESIA EXPRESSA-SE ATRAVÉS DE ATOS ESTRANHOS EM QUE AS ALTERAÇÕES DO FATO DE VIVER MOSTRAM QUE A INTENSIDADE DA VIDA ESTÁ INTACTA E QUE BASTARIA DIRIGI-LA MELHOR."
eu não entendo direito esta frase, mas intuo que está no teatro, no viver a estranheza da poesia do teatro a resposta para isso que me angustia e não entendo. Teatro espaço libertário, pra fazer viver o que mais de oculto, mais encoberto viva fora de mim, em cena e não obsceno.

merda

NA ESTRADA

estamos em Presidente Prudente, chegamos ontem por volta das 11 da noite depois de pelo menos umas oito horas de viagem conversadas e chacoalhadas no micro ônibus. retomamos hoje os ensaios depois da última apresentação da peça no teatro oficina dia 30 de setembro de 2007. Depois de ficarmos sabendo que fomos escolhidos para o prêmio qualidade Brasil, depois do aniversário de 15 anos do massacre e do aniversário de ghandi no mesmo dia 2 de outubro, depois do brasil ser escolhido como sede do futebol mundial para a copa de 2014 e depois de notícias e mais notícias. retomar do zero, inicio de tudo. teatro é cruel: tudo que foi conquistado agora não vale muita coisa, estamos para ser postos a prova novamente.
Nos encontramos na porta do estádio muncipal do pacaembu, três da tarde, ontem 06 de novembro.
hoje recuperamos o futebol da cena. Logo mais tem ensaio.
Presidente Prudente foi fundada em 1917, este ano, em setembro, a cidade completou noventa anos...

domingo, 4 de novembro de 2007

111 NOMES OU "I.M.L.: VIAGEM AO INFERNO"

"Cento e onze é a puta que te pariu! Foi muito mais que cairam seu viado engomadinho! Cento e onze. Cento e onze! Cento e onze! No cu filhos da puta!"
Eu Dadá, Euclides da Cunha, sobrevivente atormentado do massacre cantei/chorei/falei isso tantas e tontas vezes na abertura da peça SALMO 91.
Por isso, neste ano em que se completam 15 anos do massacre do carandiru, quando me perguntaram na entrevista para antologia pessoal do jornal Estado de São Paulo, mandei a relação que está no título ai embaixo com 111 nomes, mas não sei porque a lista foi limada na edição. São nomes de atores que conheço. Todos eu vi representar, todos acompanho, bem ou mal.
Me inspirei pra responder assim com essa lista de nomes, numa foto que vi, e vejo novamente, no jornal da Tarde (foto de Epitácio Pessoa/AE) de 5 de outubro de 1992, na matéria IML: VIAGEM AO INFERNO do jornalista Valdir Sanches. Está lá a foto: uma mãe corre o dedo pela lista de mortos no massacre, pregada com fita crepe nas paredes do IML. Uma lista enorme, datilografada com nomes, sobrenomes, filiação: dá pra ver dois ferreira, deve ter conceição também.

A mãe percorre com a identidade aquela lista interminável, de letrinhas pequinininhas, procurando um nome. Está com a boca arreganhada de choro desesperado, de grito, de dor, de dar dó. O editor ainda fez um recorte do dedo dela na foto passando por cima do papel datilografado. Ai, meu Deus, que dor!
Pegou o momento exato onde o medo vence a esperança.
"Bosta mãe, que porra é essa de SALMO 91?"

ANTOLOGIA PESSOAL

Antologia Pessoal - Teatro

Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
111 NOMES:

Paulo Autran, Marcelo Drummond, Renato Borghi, Ivam Cabral, Fransérgio Araujo, Leona Cavalli, Claudio Fontana, Gustavo Machado, Nilton Bicudo, Georgette Fadel, Eric Novinsck, Ziza Brizola, Ana Guilhermina, Luciana Domschke, Denise Weinberg, Angela Barros, Caca Carvalho, Jairo Matos, Marat Descartes, Flavio Rocha, Raul Barreto, Claudia Missura, Claudia Chapira, Magali Biff, Denise Assunção, Rosi Campos, Zeze Barbosa, Creusa Borges, Maria Alice Vergueiro, Riba Carlovich, André Ceccato, Vagner Luiz Alberto, Ando Carmargo, Emilio Aicua, Sergio Portela, Fabiana Serroni, Otavio Martins, Paula Cohen, Camila Motta, Silvia Prado, Roberto Audio, Luiz Damasceno, Helio Cícero, Lucia Romano, Edgar Castro, Luciano Chirolli, Eucir De Souza, Debora Duboc, Leo Pacheco, Beth Coelho, Ligia Cortez, Brian Penido, Celso Frateschi, Zé Carlos Machado, Haroldo Ferrari, Ney Piacentini, Ailton Graça, Ary França, Maria Do Carmo Soares, Jair Assunção, Emerson Caperbach, Walter Breda, José Rubens Chachá, Walmor Chagas, Juca De Oliveira, Bibi Ferreira, Iara Jamra, Rodrigo Fregnan, João Signorelli, Marilena Ansaldi, Renata Zaneta, Elsio Nogueira, Cassio Escapin, Romis Ferreira, Graça Bergman, Amazyles Almeida, Dan Stulbach, Adão Filho, Dulce Muniz, Marco Antonio Pâmio, Rubens Caribé, Rodolfo Vaz, Pedro Henrique Moutinho, Jave Monteiro, Eduardo Silva, Fernando Neves, Norival Rizzo, Edson Montenegro, Juliana Galdino, Roberto Leite, Flavia Pucci, Mauricio Abud, Patricia Gaspar, Plinio Soares, Olair Cohan, Mariana De Moraes, Fernanda D’umbra, Gero Camilo, Mirtes Nogueira, Caco Ciocler, Roberto Palma, Luáh Guimarães, Jidu Pinheiro, Grace Gianoukas, Beatriz Azevedo, Bel Teixeira, Chiquinho Cabreira, Petronio Gontijo, Eliana Fonseca, Tuna Duek, Celso Sim, Aury Porto,
(Um acompanhamento especial dos atores do Teatro Oficina Uzyna Uzonaque nestes 7 anos eu acompanhei na recriação do massacre dos sertanejos n’Os Sertões de Euclides Da Cunha.
E Tem Mais, Muito Mais.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

PAULO AUTRAN


Hoje dia 12 de outubro de 2007, dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, morre as 4 horas da tarde Paulo Autran.
No filme do Glauber Rocha, vi ele virado no transe do ditador histérico, higienizador, católico, cabelos ao vento, cruz na mão, glauberiano, condenando o povo brasileiro aos porões da ditadura militar. Paulo Autran com coragem ligou pra eternidade seu prestigio de ator já consagrado ao novo cinema brasileiro e nas mãos de Glauber Rocha, no transe da terra, corajosamente esteve ao lado dos muitos atores dessa luta que furaram com sua ação libertária os muros da ditadura, e como pontas de lança atravessaram a noite terrível de pesadelos tirânicos, torturantes, sangrentos, policiais, que fez a América Latina sentir o gosto dos piores momentos da des-humanidade.
SALMO 91
Paulo Autran assistiu a pré estréia de SALMO 91.
Quando terminou foi até o camarim cumprimentar os atores. Tinha saido escondido do hospital e foi ver a peça inspirada na obra do seu médico, Drauzio Varella.
Estava falante, de olhos vivos, úmidos, massacrado, indignado e feliz. Não me lembro exatamente o que ele disse, eu estava como ele, por ele, mimetizando ele. Sei que ele estava honrado, parceiro do teatro que não foge a sua responsabilidade humana.
Dias depois quando a assessora do coronel do massacre ameaçou impedir a continuidade da peça com sua acusaçAO DE APOLOGIA AO CRIME, E FOI PRO ENFRENTAMENTO ASSISTIR NA PRIMEIRA FILA EM COMITIVA A APRESENTAÇÃO DA PEÇA, MESMO QUE A GENTE NÃO SOUBESSE, ELE ESTAVA COM CERTEZA POR TRás DA NOSSA FORÇA PRA VENCER AQUELE MOMENTO, com seu exemplo de ator que não foge de cena.
A próxima vez que fizermos SALMO 91 vamos oferecer pro Paulo Autran.
MERDA!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

QUARESMA

Por 40 dias SALMO 91 não será apresentado.
A última apresentação aconteceu dia 30 de setembro no SESC Santo André.
Agora, volta a ser apresentado em novembro numa pequena viagem pelo interior de São Paulo, mais uma vez pelo SESC.
Até lá nos retiramos.
Será uma quaresma.
Um tempo no deserto.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

FOLHA EDUCAÇÃO

MANDEI ESTE E-MAIL PARA A FOLHA EDUCAÇÃO QUE HOJE (2 DE OUTUBRO) FAZ UM QUESTIONÁRIO/VESTIBULAR SOBRE O MASSACRE:

PARABÉNS POR NÃO DEIXAR EM BRANCO A DATA DE HOJE.
FALA DE ADORNO SOBRE AUSCHWITZ
"A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação."

EM SE TRATANDO DE BRASIL, DE MASSACRES (CARANDIRU, CANDELÁRIA, CANUDOS, VIGARIO GERAL, CARAJÁS, ...)
A FALA ARREPIA DE REALIDADE.

PASCOAL DA CONCEIÇÃO
ATOR

PS. VOCES NÃO CITARAM A PEÇA DE DIB CARNEIRO NETO "SALMO 91" QUE FOI AMEAÇADA DE SER PROCESSADA COMO APOLOGIA AO CRIME PELA ASSESSORA DO CORONEL UBIRATAN GUIMARÃES, MAS ISSO É UMA OUTRA HISTÓRIA.
ESTÃO NO BLOG DA PEÇA:
salmocarandiru@blogspot.com.br

MERDA

2 DE OUTUBRO DE 1992
CARANDIRU
DIA NORMAL. NORMAL?
TINHA ATÉ FUTEBOL. FUTEBOL?
"FLEURY E SUA GANGUE VÃO NADAR NUMA PISCINA DE SANGUE"
VOU FICAR ASSIM OUVINDO RACIONAIS E PENSANDO PENSANDO PENSANDO

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

VIOLÊNCIA NÃO

2 DE OUTUBRO FOI ESCOLHIDO PELA ONU COMO O DIA DA NÃO VIOLÊNCIA PORQUE ESTE É O DIA DO NASCIMENTO DO PACIFISTA GHANDI,
2 DE OUTUBRO, NÃO ESQUEÇAM, É O DIA EM QUE O MASSACRE DO CARANDIRU COMPLETA 15 ANOS.
Theodor Adorno
"Dentre os conhecimentos proporcionados por Freud, efetivamente relacionados inclusive à cultura e à sociologia, um dos mais perspicazes parece-me ser aquele de que a civilização, por seu turno, origina e fortalece progressivamente o que é anticivilizatório. Justamente no que diz respeito a Auschwitz, os seus ensaios O mal-estar na cultura e Psicologia de massas e análise do eu mereceriam a mais ampla divulgação. Se a barbárie encontra-se no próprio principio civilizatório, então pretender se opor a isso tem algo de desesperador."

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

ENTREVISTA

Primeiramente, PARABÉNS pela apresentação de ontem, não tenho nem palavras para descrever, é emocionante, simplesmente SENSACIONAL.
Segundo, falei com você durante a semana por telefone para marcar uma entrevista, lembra? Ontem no final da apresentação de Salmo 91, também, conversei com você e fiquei de mandar as questões.
Bem, aí estão, espero que você possa me responder.
1. Como funcionou o processo de criação, os ensaios? Há aqui no blog um tópico chamado CARENCIA E NECESSIDADE que fala sobre os objetos e um outro chamado PREPARAÇÃO CORPORAL, os dois em julho que falam sobre isso.
2. Como foi a primeira apresentação? Como você se sentiu? E como você sentiu seus parceiros de cena e o público?
Já bem antes da estréia propriamente dita, já haviamos feito algumas. na semana que antecedeu a estréia no SESC, passamos uma semana inteira de terça a segunda dentro do SESC. Então quando fizemos a estréia já tínhamos "estreado" pelo menos umas cinco vezes. Embora afogados pela emoção da estréia creio que conseguimos executar a partitura proposta pelo diretor com muita disciplina, o que rendeu boas apresentações, principalmente por causa da seriedade do assunto que estávamos tratando ali no Sesc Santana, terreno vizinho do Carandiru, palco do massacre, nesse ano de 2007, exatos quinze anos depois.
Quanto ao que eu senti, cuidei o mais possível para realizar minhas ações como ator sem ceder a frivolidades, besteiras. Lembro que no dia da estréia, durante a tarde, fui visitar o local onde por décadas funcionou o presídio, lá na Rua Cruzeiro do Sul, Estação Carandiru do metrô, onde é hoje o Parque da Juventude. Tudo derrubado, uma arquitetura maquiada tomou conta de tudo. Foram derrubados os edifícios todos, foi feita uma cirurgia para eliminar da paisagem qualquer vestígio dessa ferida da sociedade civilizada. Atravessei o Rio Carandiru, que passa entre o presídio feminino e o Carandiru, e colhi algumas flores selvagens que cresceram no terreno onde correu o sangue do massacre e levei para o camarim. Ficaram ali na primeira semana. Pensei muito nisso durante todo o espetáculo.
Quanto aos parceiros de cena e o público, para não me estender muito, eu acho que compartilhar a criação diária do espetáculo, porque ele é feito e logo depois precisa-se fazer tudo de novo, enfim, compartilhar a cena faz-nos obrigatoriamente ter de enfrentar nossas limitações e medos. Há dias maravilhosos em que nos sentimos poderosos, porém no dia seguinte muitas vezes a cena é tão fraca, tão sofrível, tão terrível, que é como se o espetáculo nos recolocasse no nosso devido lugar. Todos nós, atores, assistentes, diretor, todos, compartilhamos dia a dia esse fazer e refazer, alegrias e tristezas, vitórias, vitórias e muitas, inúmeras derrotas.
Nada muito diferente do que se diz o que é a vida.
3. Como é participar de uma peça com histórias tão intrigantes e emocionantes como as de Salmo 91.
O salmo 91 entre outras coisas diz assim (e isso está na peça) "mil cairão a teu lado e dez mil a tua direita mas tu não serás atingido, nada chegará a tua tenda, etc, etc". No começo, quando li isso, tinha certeza de que EU era esse "um", EU era o que sobra, o salvo, o vivo, o cara que vai ver tudo cair e morrer a tua direita e não ser atingido por nada, lá dentro da sua tenda. Mas a peça e a criação artística que a envolveu, teve a ventura de revelar que o lugar da gente pode se também no meio de mil, dez mil, milhões. Então eu e você e todo mundo não somos somente esse "um", que sobra, somos todos. Nós nos "achamos", cremos que nada vai tocar na nossa "pessoa", nosso egoísmo ouve o canto dessa sereia enganosa que nos distancia da compaixão com a vida dos nossos semelhantes e nos mantem salvos dentro da nossa "tendinha". Não é nada disso. Quanto as histórias, são tantas, tantas vidas perto e longe da gente, são muito mais que dez, mil, milhões, são bilhões de histórias, cada cabeça uma sentença. E no teatro isso emociona tanto porque o teatro ama o homem, ama os seres, as coisas, a vida. Teatro não tem nada a ver com esse desprezo que trata gente como conta ou porcentagem ou como mercadoria. Não dá nem pra explicar esse tipo de coisa, que não é de se explicar.
4. Como é interpretar o DaDá?
O Dadá somos nós: os sobreviventes, sobreviventes dos horrores da vida, da ditadura militar brasileira, da bomba de Hiroschima, do massacre da Candelária, dos milhões que morrem assassinados, dos venenos da poluição, dos nossos desesperos, a lista não tem fim, mas ser sobrevivente é mais que tudo ser testemunha para todas as gerações da vitória da vida sobre a morte e aceitar a obrigação humana de expressar isso através dos meios que tiver a seu alcance. É não trair nunca a expectativa de vida dos que morreram antes de nós.
e o Veio Valdo, personagens tão distintos ?O Véio Valdo é o mais velho personagem preso no cárcere chamado Terra. Está preso aqui enquanto as estrelas dos puteiros estelares rrrrrrrrebolam suas bundas de parar a feira. É personagem mítico, interno, enclausurado, solitário da solitária, passou pelos 120 dias de Sodoma e Gomorra oferecidos pela crueldade dos "home", que ele levou no bico comendo sua própria merda. É o Sem-Nada. Sem-Ceu, Sem-Sol, Sem-Ar, Sem-Luz, Sem-Deus-Nem-Satanás. é um Sem-Nada.
Quais as principais diferenças entre eles ? Dentro da prisão não temos diferenças. Afinal estamos todos sobre o mesmo denominador comum. Nada diferente do que estamos vivendo aqui no planeta.
Qual é mais complicado de interpretar ?
Lembrei duma musica do Jorge Mautner: "Na matemática do meu desejo eu sempre quero mais um, mais um, mais um beijo". Complicado como uma conta sem fim de interpretar e solucionar. Daria um teorema falar sobre isso. É como o desejo de mais um mais um beijo. Mas vai virar um livro esta entrevista...
E qual você gosta mais?Já responderam isso antes de mim: gosto de todos.
5. O que mais te impressionou na adaptação de Dib Carneiro ? A fluência e a ligação de uma coisa e outra que a peça tem. O Colar de pérolas que é a ligação de uma cena a outra. É um relógio, tudo ligado, entendido, funcionando. TRepare: Por exemplo, a briga estopim do massacre começou no beco lazarento da rua dez, a peça tem dez personagens, noves fora 1. E se fosse um? Cada celula que você quiser analisar, estudar, pode confiar, ir pro texto que a resposta está lá. Isso é o que se chama de dramaturgia ou a maquinaria, a máquina que faz a peça andar, muito próximo daquilo a que os alquimistas chamam de "moto perpétuo", a identificação com o movimento que mundo faz antes de tudo e de todos. Não é surpreendente?

E na direção de Gabriel Villlela?Já falei isso várias vezes e vou repetir: me impressiona a inteligência, a cultura e a sutileza que com toda firmeza o Gabriel imprime no trabalho. Algumas vezes resisti, duvidei mas tive que ceder às evidências científicas prodigiosas da sua intuição. Ele não é besta nem nada, não fica a dever pra ninguém, a nenhum criador teatral do planeta e nos fez grandes junto com a sua arte. Ele nos elogia muito, decerto fizemos por receber esses elogios mas o fermento veio dele, apodrecemos, fermentamos e saímos vinho desse trabalho como uvas pisadas pelos pés barrocos e cheios de sangue de Gabriel Villela
6. Já tinha trabalhado com eles antes ? Se não , como foi trabalhar ?Eu acho que respondi essa pergunta antes mas vou falar e completar com coisas que escrevi no blog da peça lá também pode-se visitar a polêmica que rodeou a existência do espetáculo e também descobrir entre outros o trabalho luxuoso feito pela categoria de dois artistas, atores, assistentes, Cacá e Guga, sem contar o brilho do produtor ator artista Claudio Fontana. Foi um trabalho muito iluminado pelas luzes dessas estrelas todas. Sem esquecer a nossa Miss Venezuela Renata Alvim, mas isso vai pro livro. Porém, voltando a sua pergunta esclareço:
Logo após as primeiras apresentações, a peça parece que vai empenar, então o diretor retoma o espetáculo, redirige, aprova o que caminha bem e põe no eixo o que se desvia. Gabriel, depois da primeira semana, fez uma reunião em que martelou mais uma vez os cinco pontos de sua direção, que considero primorosos e que são seu sistema de trabalho que tanto admiro. Transcrevo abaixo os cinco pontos deste bate papo com os atores.
“Primeiro ponto: o ator tem que ter a consciência de estar trabalhando com uma dimensão épica do relato e não deve deixar que a máscara tome conta do seu rosto, ou seja, colocar o personagem, a máscara, entre a sua consciência de estar em cena e a lucidez da platéia de estar assistindo.
O segundo ponto é o ponto de contado dessas máscaras, a relação desses pontos de contato. Ou seja, todos, todo mundo precisa ter a consciência de que é responsável por aquela máscara naquele instante e por toda a idéia, ao invés de tornar solitária a sua experiência em cena e com isso abandonar a relação com a idéia maior perdendo o distanciamento acordado inicialmente e permitindo que a máscara grude no rosto, fora de uma vivência crítica.
O terceiro ponto é a dinâmica física do espetáculo. O ator deve saber que o tempo inteiro de circulação, dentro ou fora, ele continua com responsabilidade sobre a cena. Não é porque ele vai pra coxia, pro chuveiro, pra qualquer lugar, enfim, ele pode se permitir desligar. É um coletivo, o ator que está em cena tem a percepção, por não estar grudado à máscara, que ele está ligado a toda contra-regragem, irmanado ao coletivo e não deve abandonar nem ser abandonado pelo todo.
Quanto a contra-regragem, a relação com os objetos de cena, atenção: ator não é um contra-regra, ele exercita a contra-regragem, porque tem uma consciência gigante dos objetos: sabe como foram descobertos, construídos, acompanhou como cada um foi pra cena, tem uma consciência afetiva desses objetos, uma relação inteligente, acima de tudo a inteligência.
O penúltimo ponto é o conceito da qualidade do verbo, presente o tempo inteiro como relato trágico, mesmo que no nosso caso específico, ele venha a fundir gêneros, melodrama, trágico, patético, bizzaro, barra pesada: é preciso manter a consciência de tudo isso no verbo, na musculatura verbal. Uma musculatura que não se afrouxa, se vitaliza.
Na vida cotidiana, a musculatura verbal não é tão exigida como no teatro, e muito dessa musculatura, em repouso, fica esquecida. A boca que fala a fala, o que precisa ser dito, refletido, levado adiante, a boca que fala o verbo deste espetáculo tem que ter seus músculos acionados e exigidos com saúde. Coisa que o cotidiano ditado pelo estatuto burguês, não pede pra ninguém, aliás, se você entra e fala com essa musculatura em qualquer ambiente, você derruba esse lugar.
O quinto ponto é o ponto do futebol que linka tudo. Eu quero atores em continuidade, em estado contínuo de elaboração. Que ajam como atores de coletivo. Tem aquele corredor, atrás do palco, lá onde fica a mesa do lanche e do café. Tirem a mesa, façam dois gols e disputem um futebol entre vocês todo dia. Daí vocês vão ver que o futebol, que nós achamos intuitivamente lá atrás, no nosso passado de ensaios, como preparação do corpo do ator, como forma de tomarmos conta do espaço, quando nem nos conhecíamos direito, quando éramos estrangeiros vindo de mundos diferentes, o futebol que nos ligou é o meio da gente inaugurar a noite de prodígios, que é a noite do espetáculo, uma noite de prodígios que tem a mágica do futebol para resgatar brasileiramente essa unidade.
Joguem o jogo, com bola ou sem, exercitem o passe, a disputa, a reação. Esse nosso teatro e futebol, é ele que unifica os cinco atores em torno de uma bola, a competição entre os times de atores, é bacana, porque estabelece concretamente um vai e vem de trocas de adrenalina, hormônio, suores, contatos, e quando pára esse futebol da preparação corporal diária, ele não acaba, você vai pra sua concentração pessoal, tua maquiagem, passar teu texto, aquecer tua voz mas ele já editou vocês, atores, ele já rompeu a relação de todos com o cotidiano, enfim, já espatifou esse corpo domesticado da relação automatizada com a vida, trazendo outro corpo para a nova relação que se apresenta, o jogo daquele dia.
Ainda, esse futebol diário traz a memória de nossos ensaios, a memória de nosso primeiros momentos, memória afetiva, de coletivo, que restabelece dia a dia o vínculo de continuidade. A pelada que hoje foi 5 a 2, um ganhou outro perdeu, mas amanhã pode virar e isso é muito saudável, é uma forma de impedir que a inércia tome conta da rotina do ator.
Acho que é isso.”

7. Como é dividir o palco com atores tão gabaritados como Rodrigo Fregnan, Pedro Moutinho, Ando Camargo e Rodolfo Vaz? Já tinha trabalhado com algum deles antes ?
Rodrigo Fregnan, pelo que eu sei, passou pelo diretor Antunes Filho, com ele realizou grandes criações e forjou sua seriedade para encarar os personagens. È obssessivo, entra com dois isqueiros na cena pra vencer a hipótese de um dos isqueiros falhar quando acender o baseado e por incrível que pareça, um dia falhou e ele estava lá com o outro. De vez em quando nos estranhamos porque ele é do tipo que apóia mesmo, camaradão, companheiro que vive apoiando e manifestando esse apoio e não hesitava e me dizer coisas como "tamo com você", "agora é contigo", e eu ficava mais inseguro porque isso ele dizia sempre depois de ter feito grandes apresentações. É um poeta, não me esqueço dele falando Fernando Pessoa no camarim, antes de começar o espetáculo, fez-se um silêncio especial e ele mandou inspirado: NUNCA CONHECI QUEM TIVESSE LEVADO PORRADA. Maravilhoso. Naquele dia, nós atores, entramos em cena umidecidos pela seu talento. Foi um belíssimo espetáculo, pelo que me lembro.
Pedro Moutinho. Repare na aura do Pedro. Lembre dele como uma brasa que esquenta, refresca, ilumina qualquer amizade. É pintor. Dele são o Jesus Cristo da peça e o cenário de Veronique de Milus, o sangue dos nossos pés, um luxo. A sua execução da partitura do seu papel, nos dias em que faz pra lá de bem, é de babar. Uma surpresa pra mim que nem sempre tenho oportunidade de conhecer jovens atores assim tão talentosos. Uma curiosidade: é o que mais tem espaço entre os personagens, no entanto você não enxerga ele desconcentrado, andando pela coxia, pra lá e pra cá, ele desaparece, feito anjo e se você precisar ele está lá. Tem uma intuição teatral que é muito rara de se ver. É nosso príncipe da paz.
Ando Camargo é um rio. Um corrimento de ator. Como todos nós tem defeitos mas suas qualidades são maiores. Aliás, pra não ficar uma falação chapa branca, podes crer que trabalhamos muito pras coisas ficarem bem. Mas voltando ao Ando lembro de dias que interpretava tão bem a Zizi Marli que eu me despedia da personagem na coxia e pedia para ela voltar no outro dia. É o nosso fio terra, nossa antena, por isso é que fica lá no alto. É o ator amando o público, tesudo se abrindo e se entregando, molhadinha, queridinha, não nega carinho para o público e isso é uma qualidade dos elegantes. No Edelso teve dias tão felizes com a platéia que os aplausos eram como se pedissem bis, com ele se esquecia tudo, a gente ria e chorava com aquele final NÃO VEJO A HORA!
Rodolfo Vaz. Galpão. Esse é o cara, é o sangue bom! está escrito lá no programa “convidado especial”. Um acepipe, um plus de especialidade dado de bandeja para São Paulo. O publico de São Paulo tem sempre pra ver ótimos atores, mas internacional de Minas Gerais, esse tempão todo com a gente, mais de cinco meses, é raro. não tem ator como ele todo dia não, parabéns principalmente para a produção que nos apresentou essa excelência de criador gerado no útero do galpão mineiro. Eu não pude conhecê-lo tão profundamente antes porque as duas vezes em que nos cruzamos, uma no Romeu e Julieta eu me dissolvi naquela maravilha e me perdi no todo, depois quando fui ver Doente Imaginário, devia ter ido ao hospital pois ele ficou doente nessa apresentação lá na terra do doutor Blumenau. É isso.
8. É mais difícil trabalhar com monólogos ?
É dificil. Mas nesse espetáculo sinceramente nem senti. Nos dias de bons espetáculos, como o Gabriel chamou a atenção, a coxia estava dentro de cena e a cena estava dentro da coxia. Essa peça não é um monólogo. São muitas vozes, muitos timbres juntos.
Qual “estilo” você prefere?
Estilo de verdade.
9. Como foi a última apresentação no Teatro Oficina ?
Não tivemos ainda a última apresentação. Teve sim essa coisa de fazer no teatro Oficina, que é um teatro que agrega valor ao nosso trabalho pelo que significa a sua história na história do teatro do mundo. E isso dá muita responsabilidade. Pedro Moutinho falou muitas vezes disso, da dor de barriga de fazer lá naquele templo. Mas se entendo sua pergunta a última apresentação foi aquele especialidade pelas presenças todas, desde Drausio Varella até você e eu, pelo calor da noite, pela lua cheia no céu, aquele teto se abrindo trazendo aquele fresquinho da noite, as sirenes da polícia, a música brega dos botecos, as luzes das celas dos apartamentos, acendendo e apagando, árvores, estrelas. Numa das nossas primeiras apresentações choveu, choveu muito, depois de muitos dias. Parecia o céu chorando, triste, mas a gente precisava tanto daquelas lágrimas, tava tudo tão seco.
É uma sensação diferente das outras apresentações?
A sensação é diferente sim. Gabriel me contou que na Alemanha, onde a grande maioria das cidades foi construída ao longo dos rios, as cidade não tinham prisões nem manicômios, a loucura ainda não estava catalogado como tal. Mas para os marginais, aqueles inadaptados, inconformados, criaram uns navios-prisões-hospícios que ficavam dia e noite circulando e parando nos portos para abastecimento ou para receber mais um louco, delinquente, marginal, condenado. Era nessa hora que o povo curioso se ajuntava pra ver o espetáculo de degradação, de delírio, de grandeza e vileza que aquelas figuras ofereciam. E isso durou por muitos anos, mais de século! Vindo do SESC CARANDIRU SANTANA nossa nau de loucos aporta no porto do Oficina, vai pro porto de Santo André, Presidente Prudente, um dia pra Brasília, outro em Belo Horizonte. Navegar é preciso.
10. De onde vem a sua inspiração para interpretar tão bem?V
em de muitas paixões: pela vida, pela alegria, pelas crianças, pelo público, os passarinhos, as flores, meus amigos, minhas tristezas, vem das uvas todas que apodrecem dentro de mim, me apertando, socando, sovando, amando. Principalmente amando.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Um resumo de nossa 'fortuna crítica' até agora

NA LINHA DOS MELHORES MOMENTOS, AQUI VÃO TRECHOS DAS CRÍTICAS DE SALMO 91 ATÉ AGORA:

Gabriel Villela despoja a cena, com os cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho e Rodolfo Vaz - cara a cara com a platéia, desfiando a crueza de uma humanidade que procura, desesperadamente, se manter sobrevivente. Com citações bíblicas e rituais religiosos, permeados por referências futebolísticas, o diretor cria atmosfera de pungente finitude que, sem maiores artifícios cênicos, deixa o real exposto. Aí é até possível encontrar poesia na miséria existencial."
Macksen Luiz
Jornal do Brasil, 26-7-2007

O espetáculo dirigido com rara sutileza por Gabriel Villela radiografa em dez personagens o universo de mais de uma centena deles. Costuradas por analogias com o futebol, as histórias comovem a platéia pelo tom confessional. Em um dos grandes momentos, Pascoal da Conceição incorpora o sofrimento do filho que não seguiu os conselhos da mãe e morrerá sem ler o salmo citado no título da peça. Longe do estereótipo, o ator se destaca no eficiente elenco. Villela dispensa os excessos habituais de suas direções em nome de um bom texto e bons intérpretes.
Dirceu Alves Jr.,
Veja São Paulo

A suspeita de que o potencial do livro Estação Carandiru estivesse esgotado cai por terra com a peça Salmo 91, em cartaz em São Paulo. Primeiro porque o texto de Dib Carneiro Neto parece ser o que melhor reproduz o grande trunfo da obra: as histórias pessoais, narradas pelos criminosos em tom humanista. A direção madura de Gabriel Villela reduziu esses quadros à sua essência: o ator entra, dirige-se à frente do palco e conta sua vida. Com roupas comuns, algumas manchas de sangue nas pernas e simbólicos objetos de cena, os atores Pascoal da Conceição, Ando Camargo, Rodolfo Vaz, Pedro Moutinho e Rodrigo Fregnan transformam os monólogos em pequenas peças de "canto-falado". É de arrepiar.
Ivan Cláudio,
revista Isto É Gente

Salmo 91 é um espetáculo de dureza total que consegue ser compassivo. Quando a luz do palco se acende em azul tênue e a voz dolorida de Elza Soares inicia O Meu Guri, de Chico Buarque, algo começa a prender a atenção do público; e assim será até o fim. São dez monólogos, dez situações, dez "des-humanidades". O espetáculo não começa: explode pelo talento de Pascoal da Conceição que, amarrado e imóvel, descreve o que foi o massacre e, furioso com o salmo pregado pela mãe, abre as portas do desespero de outros personagens. O equilíbrio com tensão contagia um elenco exemplar. Alternando os monólogos com Pascoal da Conceição, os atores Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz (Grupo Galpão), Rodrigo Fregnan e Ando Camargo são, no momento, parte do melhor da nova geração dos palcos. Criam um clima de fornalha com uma brecha para a autocrítica da platéia. Serão apenas aqueles indivíduos os únicos cruéis?
Jefferson Del Rios
(Caderno 2, do Estadão)


A necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer. E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana. Gabriel foi na veia - menos é mais, mas o menos dele inclui uma visualização tão forte que aqueles cinco atores, vivendo dez papéis, tornam-se antológicos. Toda tragédia passa pela palavra.
Luiz Carlos Merten,
no site do Estadão

A peça consegue preservar o talento, o frescor e a humanidade com que Drauzio Varella observa o universo sombrio da prisão. Preste atenção em como o espetáculo se diferencia do livro e do filme de Hector Babenco ao apostar no formato de monólogos.
Gabriela Mellão,
revista Bravo!

É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma "pedrada". Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto,
Dicas Culturais (www.menabarreto.com.br)


Cada ator faz dois monólogos e um dos mais tocantes é o do travesti Veronique, interpretado por Rodolfo Vaz.
Gisela Anauate,
revista Época

Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo. Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.
Deolinda Vilhena
(site Terra Magazine)

O trabalho do adaptador Dib Carneiro Neto é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro de Drauzio Varella. Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita. A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas. Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!
Afonso Gentil,
no site Aplauso Brasil

Salmo 91 é uma obra-prima justamente por apresentar fatos sem apontar culpados ou vítimas. Apenas fatos! Afinal, quem é mais assassino: O homem com um revólver ou os homens omissos que brincam com aviões?"
Célia Regina Forte
jornalista e dramaturga

Assisti à peça e o elenco deu um show. O time está tinindo. A adaptação do Dib, por incrível que pareça, trouxe novidade até para mim, que tinha pouca esperança de deparar-me com alguma novidade. Afinal, depois de ler o livro 2 vezes e ver o filme por 5!!!!... Mas, surpresa, Dib fez um trabalho que mostra o quão fértil é o livro do Drauzio. Misturou histórias/personagens, tirou o médico de cena, foi mais "bárbaro" que o médico-humanista que é Dr. Drauzio, abriu espaço nobre para duas travestis com palavreado riquíssimo-barra pesada, etc, etc. Gabriel Villela nadou de braçada.
Maria do Rosário Caetano
(fanzine Almanaquito)


O texto do adaptador Dib Carneiro Neto - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal - encanta o público e flui na boca dos excelentes atores , mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos. Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.
Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação. Um dos personagens chama minha atenção - "O Velho Valdo" que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.
Pamela Duncan,
jornal Ponto de Vista

Neste espetáculo, não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... É um texto com poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
Alcides Nogueira
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries

"Foi uma surpresa contundente, para mim que sou gato escaldado nas águas do livro do dr. Drauzio Varella, ter assistido à montagem que o Gabriel Villela fez do texto do jornalista Dib Carneiro Neto. Encontrei na minha experiência de espectador uma leitura nova, dinâmica e profunda, que me fez em todo instante me esquecer que um dia, há não muitos anos, eu adaptei da mesma fonte um filme chamado Carandiru."
HECTOR BABENCO, cineasta
(Caderno 2, do Estadão)



"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático."
DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru
(em depoimento para o Caderno 2, do Estadão)

Carta a um adaptador, por Alcides Nogueira

Caro adaptador,
Você me disse no saguão do teatro do Sesc Santana: a matriz é muito boa! Não... A matriz, realmente, é muito boa, é semente fértil, mas o seu texto é outra obra! Você encontrou a maneira de contar aquela história tão dolorosa, tão horrenda, tão cruel, sem explicitar a dor, nem o horror, nem a crueldade. Para quê? Ela já é um corte fundo. Para quê bolas de fogo, rajadas de metralhadoras, banhos de sangue, ninjas correndo? Para quê? Para quê? para nada... Seu texto, tão sábio e vigoroso, é um cipó que vai nos amarrando àquelas pessoas – nem melhores nem piores que nós – miseravelmente condenadas ao ralo por nossos atos e omissões... Mais que qualquer outra coisa, é essa fratura assepticamente exposta que me detona. Mesmo que eu quisesse, não havia mais como cortar o cipó e me livrar de tudo aquilo. Sou cúmplice! Você armou a peça de tal forma, que não permite essa fuga, não mostra a porta de saída, não fornece um manual de sobrevivência! Você não deixa clarabóia alguma para que surja um pouco de ar, ou um buraco para o sol entrar. Tudo é contado como uma verdade em si, sem maquiagem, sem nada que se possa questionar... Não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... Você não coloca moldura! Você deixa que os relatos entrem em nossas cabeças, de maneira abrupta... não há como barrar suas palavras. Elas têm o mesmo poder do salmo... Mas é um poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... todas as que, com meu medo e conivência, continuarão a existir! Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
ALCIDES NOGUEIRA
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries

Crítica no jornal Ponto de Vista

Salmo 91 – Um convite Humanista -Para não Esquecer.

Depois da carreira bem-sucedida na literatura (Estação Carandiru,) cinema e na televisão, a obra do médico e escritor Drauzio Varela chega ao teatro. Adaptada por Dib Carneiro Neto, a história é encenada pelo diretor Gabriel Villela.
A obra de Dráuzio Varela é rica em detalhes e sentimentos ocultos, explosivos e comoventes
Segundo texto montado do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, SALMO 91 traz de volta personagens como o malandro Dadá, Nego-Preto, o romântico Charuto, o travesti Zizi Marli, o Bolacha (Sem-Chance), o Véio Valdo, o enfermeiro Edelso, o Zé da Casa Verde e suas duas mulheres, o travesti Veronique, Valente entre outros.Todos sujeitos às normas de controle de comportamento vigentes na instituição na época e a um rígido código penal não escrito, criado pela própria população carcerária. SALMO 91 traz para o teatro essas pessoas tão diferentes de nós, tão iguais a nós: “cidadãos livres”. A peça leva para os palcos crônicas fascinantes sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento. Desvenda também os mistérios da vida no cárcere, a forma de os presos se organizarem, os códigos de conduta, a hierarquia dentro da cadeia.

A obra de Dib Carneiro marca a paixão que o adaptador sentiu ao ler a obra de Varella.

O texto de Carneiro - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal encanta o público e flui na boca dos excelentes atores mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos.

Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.

Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação.

Um dos personagens chama minha atenção - “O Velho Valdo” que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.

Vale a pena assistir a este espetáculo por inúmeras razões:

- Para não nos esquecermos do que aconteceu;

- Para sentir que as pessoas que por alguma razão estão confinadas, são tão iguais e humanas com qualquer ser a quem amamos;

- Pela montagem despretensiosa, baseada simplesmente na arte da representação.

- E pela feliz conjunção de atores técnicos ,diretores e profissionais envolvidos.

Cotação: Bom

Pamela Duncan-
Ponto de vista-jornais associados

www.jbajornaisassociados.com.br- pameladuncan_@hotmail.com
www.duncan-puebla.ato.br

Temporadas

Teatro Oficina
Estréia dia 30/08 até 23/9 sexta e sábado, 21h30, domingo 19 h. R$ 20.
Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista;

Sesc Santo André
Rua Tamarutaca, 302, Santo André
Dias 29 e 30/09. Sábado, às 20hs. Domingo, às 19hs;

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Recomendada no site Dicas Culturais

Salmo 91, recomendada no site Dicas Culturais
O massacre do Carandiru, onde morreram 111 presos em 1992, já virou filme, peças e outras instalações culturais. Quando parecia que não cabia mais nada a respeito, eis que nos aparece Salmo 91, de Dib Carneiro Neto, que também se baseia no livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru. É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma “pedrada”. Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto (Brasileiro, executivo e consultor de empresas, residente em
São Paulo) e Ana Luisa Oliveira (Brasileira, jornalista, residente em São Paulo).



Serviço: Teatro Oficina (350 lugares) Tel. 3106-2818 - Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista - Centro - Sexta e sábado, 21h30; domingo, 19h.. R$ 20,00. Até 23 de Setembro.

5 perguntas de Drauzio Varella para o diretor Gabriel Villela

DE VARELLA PARA VILLELA

Drauzio Varella - Você montou espetáculos com detalhes cênicos minuciosos, com cenários e detalhes distribuídos pelo palco com o requinte do barroco das igrejas mineiras, como elogiam seus colegas. O que o levou a criar pela primeira vez um espetáculo tão despojado?
Gabriel Villela - Acho que a gravidade do tema, a proximidade histórica da chacina, a minha dificuldade pessoal em lidar estritamente com fatos reais, levaram-me a um reposicionamento estético. Assim estou eu; meio contrário de mim.

Drauzio - Quando li o texto do Dib pela primeira vez, confesso que tive dificuldade de ver uma montagem teatral a partir daqueles monólogos. Já na primeira leitura você teve a impressão contrária?Gabriel - Tive. Inicialmente o que me chamou a atenção foi esta peculiaridade dramática: um monólogo não é tarefa fácil para nenhuma pessoa de teatro encarar. Imagina então dez!? É uma provocação fascinante e irresistível.Tive dificuldade em lidar com um texto realista.

Drauzio - Nenhuma de suas peças anteriores abordou a questão da violência urbana. O que o levou a aceitar o desafio de dirigir um espetáculo com temática tão diversa de seu repertório artístico anterior?
Gabriel - Quando o texto do Dib chegou às minhas mãos, eu tinha acabado de ler dois livros de Imre Kertész: A Língua Exilada e Liquidação. Encontrava-me arrebatado, por suas considerações e idéias sobre Auschwitz. No livro Liquidação, lá pelas tantas, uma personagem diz (gritado!) para outra: ''''Auschwitz nunca existiu! Eu estava lá! Eu vi.'''' Lembrei de imediato, embora as circunstâncias fossem outras, do impressionante desespero do presidiário Dadá, que abre e fecha a peça, tentando encontrar palavras para traduzir a Chacina do Carandiru. Em quase toda peça de teatro há uma dose de violência (urbana, ou não), que caracteriza o gênero. Tratei desse assunto, até então, sempre de forma tão metafórica, alegórica. Compreendi que era a minha hora de tocar no tema concretamente. Imre Kertész impressionou-me pela violência em Auschwitz. Drauzio Varella, Hector Babenco e Dib Carneiro Neto, pela violência do sistema carcerário brasileiro. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Ando Camargo, Rodrigo Fregnan e Rodolfo Vaz (o elenco) comoveram-me às lágrimas, pela visceralidade dramática e delicadeza d''''alma com que interpretam os personagens tão violentos, nervosos, cômicos, trágicos que compõem essas dez crônicas de confinamento.

Drauzio - Na cena inicial, o prisioneiro aparece atado com tiras de pano. Nos painéis laterais do cenário é possível ver a imagem de Prometeu acorrentado. Qual a analogia?

Gabriel - Ésquilo reinterpretou alguns mitos gregos para legitimar uma nova ordem social. Através de seus personagens, tratou de destinos coletivos, mas buscou ênfase e relevo para o indivíduo. Fez de Prometeu um símbolo da condição humana. Agrilhoado, condenado à imobilidade e à dor, seu verbo se sobrepõe à ação. Dadá, o nosso protagonista/sobrevivente, que relata o massacre no Salmo 91, brada sua cólera e indignação amarrado por uma ''''tereza''''(corda tradicionalmente usada em cadeias para fugas e enforcamentos) aproximando épocas, combinando estilos, irmanando seu solilóquio dramático ao canto trágico de Prometeu acorrentado.

Drauzio - Em que medida Salmo 91 se transforma com a mudança do Sesc Santana para o Oficina?
Gabriel - O espetáculo foi concebido para palco italiano. Ao transportá-lo para a geografia interna do Oficina, uma enorme passarela com duas platéias margeando a pista, ele ganha contornos míticos, delicados. Fica lá, assim, no meio do desfile, como um carro alegórico quebrado. O que evolui é a voz do ator-mestre-sala e o verbo da personagem-porta-bandeira.


Salmo 91. 100 min. 14 anos. Teatro Oficina (350 lug.). Rua Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 3106-2818. 6ª e sáb., 21h30; dom., 19h. R$ 20. Até 23/9

5 perguntas de Gabriel Villela para Drauzio Varella

DE VILLELA PARA VARELLA

Gabriel Villela - Bem poucos livros brasileiros recentes atraíram tanto e tão imediatamente o interesse de adaptadores. Estação Carandiru já foi para a TV, o cinema e o teatro. Por que esse tema da clausura atrai tanto as artes? E de que forma cada uma dessas adaptações contribuiu para a difusão das idéias do livro?
Drauzio Varella - A Casa de Detenção era um sistema fechado em que viviam mais de 7 mil prisioneiros, visíveis apenas nas tragédias das grandes rebeliões. Se esse caldeirão sujeito a explosões periódicas assustava a cidade, contraditoriamente despertava a curiosidade de todos. Quem seriam aqueles homens?Que leis regeriam seu comportamento? No livro, procurei descrever o ambiente da cadeia, seus personagens, o código penal não-escrito, a rigidez das leis internas e as paixões humanas daquele universo. Tenho a impressão de que o interesse em levar o texto para cinema, teatro e TV veio da ausência de juízo de valores que conferiu dramaticidade ao relato.

Gabriel - Você está há quase um ano trabalhando na penitenciária feminina de São Paulo. É possível estabelecer diferenças no seu trabalho em relação ao presídio masculino?

Drauzio - Um ano é período insignificante para penetrar o universo de um presídio. Ainda mais quando se trata de uma cadeia com cerca de 3 mil mulheres. As leis que regem a conduta parecem semelhantes, mas são muito diferentes das masculinas. Como ao homem é cara a obediência à hierarquia, fica fácil entender as relações de domínio e submissão, a estrutura das coalizões e da organização dos grupos na disputa pelo poder. Embora também exista hierarquia entre as mulheres prisioneiras, não se percebe a mesma linearidade. As relações são mais complexas porque as mulheres funcionam em rede. Apesar de muitas vezes dar a impressão contrária, a mulher é sobretudo contestadora e avessa à submissão hierárquica. Para complicar ainda mais, há a questão sexual: enquanto a homossexualidade masculina denigre socialmente a imagem do homem, a feminina é adotada com naturalidade pelas presas.

Gabriel - Salmo 91 concentra, em seus dez monólogos, muito mais do que apenas dez personagens do seu livro. Como você convive com essa síntese? E de qual dos personagens da peça, você sente mais saudades?
Drauzio - O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático. Ao assistir o espetáculo fiquei com a impressão esquizofrênica de que estava vendo um texto meu e, ao mesmo tempo, outro muito melhor. Quanto ao personagem de que mais me emocionou foi o do Velho Valdo. Primeiro porque lembrei do homem, depois porque a interpretação do Pascoal da Conceição é das mais tocantes que já vi nos palcos.

Gabriel - Como escreveu Dostoievski, em Recordação da Casa dos Mortos, ''''os médicos representam, para os prisioneiros, autênticos refúgios, e nunca estabelecem diferença alguma entre um condenado e um civil''''. Como você avalia hoje, passados tantos anos, a sua atuação/missão/contribuição de médico voluntário dentro do Carandiru? Houve momentos de preconceito seu, na relação com os criminosos?Drauzio - É sempre difícil avaliar experiências que mudam o destino de quem as viveu. Cheguei à Casa de Detenção em 1989, e nunca mais consegui sair das cadeias. É lógico que poderia parar com esse trabalho - talvez fosse até mais sensato -, mas acho que não suportaria a falta de convivência com o barulho das portas de ferro, com os doentes atendidos à moda antiga só com um estetoscópio e me afastar dos agentes penitenciários com os quais me reúno a cada 15 dias para tomar cerveja e contar histórias de cadeia. Se o fizesse, meus horizontes se tornariam mais previsíveis, minha existência mais medíocre. Quanto à frase de Dostoievski, acho que ele foi ingênuo ou deve ter conhecido na Sibéria médicos mais altruístas do que eu. Mais de uma vez tive preconceito contra um preso e fiquei chocado com as perversidades cometidas entre eles. Diante de um corpo esfaqueado mais de 50 vezes, nunca deixei de me revoltar contra a sanha assassina dos que praticaram tal ato.

Gabriel - Houve um período, durante a temporada de Salmo 91 no Sesc, em que uma polêmica se instalou, porque certos setores da sociedade temem o que chamam de ''''apologia do crime'''' no mundo das artes. Em outros momentos da história do País, geralmente diante de algum crime hediondo, até intelectuais de esquerda repensam a pena de morte. Na sua avaliação, qual foi a contribuição de Estação Carandiru para esse debate? E por que o Brasil ainda repete, em tantos outros presídios, os mesmos erros e a mesma falta de humanismo do Carandiru?Drauzio - Mesmo o mais despreparado espectador notará que a peça mostra ladrões, estelionatários e assassinos contando histórias pessoais no centro do palco. Em nenhum momento pretende defender ninguém ou fazer apologia do crime. Acho que essas reações acontecem porque o tema toca no cerne da questão da violência urbana. Gostemos ou não, o pior assassino sente medo, amor pela mãe, alegria, tristeza, tédio, saudades. O fato de o escritor descrever e o ator interpretar as agruras vividas por esse homem não significa justificar seus crimes, muito menos defender a impunidade. No Brasil, o sistema penitenciário continua desumano e repete os erros do Carandiru, por uma simples razão: quem tem dinheiro não vai preso. Quando motoristas bêbados, estelionatários do sistema financeiro, empresários corruptos forem para a cadeia em companhia de deputados, senadores, ministros e juízes ladrões, o sistema se humanizará.

Crítica de Deolinda Vilhena

Salmo 91, mais um espetáculo do "Anjo" Gabriel

Sexta, 27 de julho de 2007, 08h01


Deolinda Vilhena
, para o site Terra Magazine



Gabriel Villela escolheu cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo - para interpretarem os dez personagens que através de dez monólogos contam a história das vidas vividas dentro daquela que foi a maior penitenciária desse país, o Carandiru.

Salmo 91, a adaptação de Dib Carneiro Neto, do best-seller de Drauzio Varella, Estação Carandiru, coloca diante de nós "crônicas sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento" que obrigaram Gabriel Villela, na direção e na criação dos cenários e dos figurinos, a abrir mão de sua natureza, mineiramente e deliciosamente, barroca.

Ainda que o cenário, composto por um palco nu transformado em corredor do Pavilhão 9 - onde foi deflagrada a briga que originou o massacre - com portas ao fundo, indique uma estética realista, a peça parece fugir do realismo. Algo parece avisar, o tempo todo, que estamos no teatro, o público ri muito, um riso nervoso e exala no ar a incômoda sensação de ser um espectador privilegiado da história e do cotidiano desses personagens, ou seria melhor dizer dessas pessoas?

Procuro e não encontro, o Gabriel Villela dos espetáculos anteriores. Desde que vi A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca, com Regina Duarte interpretando o príncipe Segismundo o elegi meu diretor predileto.

Um dos meus espetáculos inesquecíveis é a encenação de Gabriel da adaptação para a rua de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Marco dos anos 90 que tive a ocasião de assistir várias vezes em condições diferentes, no Teatro João Caetano e na Praia do Arpoador. Imaginem o que foi esse espetáculo num final de tarde de sol numa das mais bonitas praias cariocas.

O que dizer de A Rua da Amargura? A bela parceria do Gabriel com o Grupo Galpão fez desse texto de Eduardo Garrido, que explora os ritos da Semana Santa nos circos-teatros, um espetáculo deslumbrante. Assisti meu último Gabriel Villela, em 1995, no teatro do SESC Copacabana, A torre de Babel, de Fernando Arrabal com Marieta Severo.

Posso compreender que Dib Carneiro Neto se sinta honrado por ter sua peça dirigida por Gabriel Villela: "É um diretor que faz parte da minha paixão pelo teatro. Ele é um diretor expansivo, efervescente, fervilhante de idéias - e percebi logo que nada do que ele faz em cena é viagem inconseqüente e puramente delirante, tudo é resultado de muito estudo, muito afinco, muita leitura prévia com os atores, muito embasamento teórico. Por exemplo: de cara, ele conseguiu enxergar em meus monólogos, dez arquétipos, dez figuras-chave do universo das tragédias gregas. Fiquei fascinado por seu nível de compreensão do texto, pela qualidade de sua interpretação daquilo que escrevi. Ele sabe o que quer, ele sabe o que faz e usa sua criatividade com a segurança de um verdadeiro artista".

Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, normal, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo.

Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas continua sendo o meu diretor favorito, se os cenários e os figurinos mudaram, o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.

"Mil cairão à sua direita, e dez mil à sua esquerda, mas a ti nada acontecerá, nada te atingirá", diz o sobrevivente Dadá, citando o Salmo 91 que dá nome a peça e que, em meio a atual situação desse país, deveria ser o mantra do povo brasileiro. Afinal, Gabriel Villela não exagera ao dizer que "a bandeira do Brasil nasceu verde e está morrendo vermelha. O sangue e a barbárie são as imagens que traduzem o Brasil."


PS - Ao começar a escrever a coluna fui informada pela assessoria de imprensa do espetáculo dos problemas, ocorridos na sessão de sábado, decorrentes de uma acusação de que a peça faria apologia ao crime. Lamento a existência de pessoas incapazes de compreender que ao dar voz aos presos, ao humanizá-los, não é o crime que se defende, mas o direito de todo ser humano a uma segunda chance.

Registro aqui meu apoio a todo o elenco e a equipe técnica de Salmo 91. No blog do espetáculo www.salmocarandiru.blogspot.com há um texto de Maria Adelaide Amaral a respeito do ocorrido, que me faz pensar que nem tudo está perdido, "apesar de D. Karina e seus skinheads, achei muito legal o teatro voltar a mobilizar as pessoas. Significa que ele incomoda e subverte, dá conta da sua importância num momento em que o teatro deixou de ter a importância que teve nos anos 60 e 70. Salmo 91 teve seu momento de Roda-Viva, sem as agressões físicas e depredações, porque afinal o público se mobilizou e as instituições bem ou mal garantem o exercício da democracia".


Deolinda Vilhena é jornalista, produtora cultural, mestre em Artes pela ECA-USP, mestre e Doutora em Estudos Teatrais pela Sorbonne Nouvelle-Paris III

ORIENTE-SE PARA IR VER 'SALMO 91' NO OFICINA

SALMO 91

Teatro Oficina - Rua Jaceguai, 520.
De 31 de agosto a 23 de setembro de 2007, sextas às 21h30, sábados, às 21h30; domingos às 19h. . Bilheteria - 3106.2818. Abre uma hora antes do espetáculo. Não aceita cartão Administração - 3106.5300.
Autor - Dib Carneiro Neto, adaptador da obra de Drauzio Varella.
Elenco - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo.
Direção - Gabriel Villela. Cenografia - Gabriel Villela. Figurinos - Gabriel Villela. Assistentes de direção - Gustavo Wabner e o Cacá Toledo. Trilha Sonora - Tunica. Desenho de Luz - Domingos Quintiliano. Produção - Claudio Fontana.

Ingressos - R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (+ 60 anos / estudante / prof. rede pública) Duração: 100 minutos. Censura - 14 anos. Capacidade do teatro - 230 lugares. Assessoria de Imprensa : ARTEPLURAL - Fernanda Teixeira (11) 3885-3671 - 9948-5355 arteplu@uol.com.br www.artepluralweb.com.br

Três depoimentos de peso sobre o Salmo 91

"Foi uma surpresa contundente, para mim que sou gato escaldado nas águas do livro do dr. Drauzio Varella, ter assistido à montagem que o Gabriel Villela fez do texto do jornalista Dib Carneiro Neto. Encontrei na minha experiência de espectador uma leitura nova, dinâmica e profunda, que me fez em todo instante me esquecer que um dia, há não muitos anos, eu adaptei da mesma fonte um filme chamado Carandiru." HECTOR BABENCO, CINEASTA


"Ter um espetáculo concebido por mim no Teatro Oficina é uma grande honra. O Oficina é para mim um dos templos sagrados do teatro universal e era um dos últimos lugares no Brasil onde sempre sonhei em estar. Já fui diretor artístico do inesquecível TBC, fui com o Grupo Galpão encenar um "Shakespeare brasileiro" no Globe Theatre, em Londres, e levei minha montagem de Fausto Zero, de Goethe, ao lendário Teatro Pushkin, em Moscou. Agora, outro sonho realiza-se: Salmo 91 cumprirá temporada no Oficina. Sinto-me realizando um sonho mais uma vez". (Gabriel Villela)


"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático." (DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru)

Crítica no site Aplauso Brasil!

Crítica: Salmo 91 impressiona pela humanidade pungente


por Afonso Gentil*, especial para o Aplauso Brasil (afonsogentil@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO - Ali, na imensa solidão de um minúsculo espaço no centro do palco delimitado pela luz e cercado de paredes cenográficas que remetem à clausura dos condenados à purgação da culpa, frias e indiferentes a qualquer soluço, uivo ou imprecação, e como num “oratório” sem música, mas, de solos impregnados da tragicidade inerente à marginalidade e à morte sorrateira, justamente ali é dado ao público conhecer – sem ilações maniqueístas -, um após outro, um punhado de presos da extinta Casa de Detenção do Carandiru, flagrados na intimidade dos seus próprios sentimentos de revolta, aceitação, vingança, poder, medo ou ódio, denunciadores da, pungente e dolorida, condição existencial a que todos os seres humanos estão submetidos, independente da origem social.

Salmo 91
é de Dib Carneiro Neto, jovem, mas experiente jornalista d’ O Estado de São Paulo (editor do Caderno 2). Debutou no teatro com seu texto Adivinhe Quem Vem Para Rezar (com Paulo Autran e Cláudio Fontana), veículo, a partir daí, da sua irrefutável vocação dramatúrgica. Sobre Salmo 91 , Dib confessa no programa do espetáculo que, ao ler o relato (para nós caudaloso e hipnótico), do médico-escritor Drauzio Varella, Estação Carandiru, ficou “absolutamente fascinado” pelo que lera, decidindo-se pela adaptação ao palco. Ainda era l999, o livro ainda longe do êxito nas carreiras literária, cinematográfica e televisiva.

O trabalho de Dib, agrupando depoimentos e considerações pessoais dos presos ao Dr. Drauzio, ao longo dos anos deste no ambulatório da Casa de Detenção, é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro.

Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita.

A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo, mesmo quando na pele de travesti, por perseguirem com êxito, junto com Villela, a sinceridade dos solilóquios.

Difícil imaginar – até algum tempo atrás- que Gabriel Villela partisse para o outro extremo do estilo barroco a que nos acostumara e incomodara.

Pascoal da Conceição, Pedro Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas.

Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!



* Afonso Gentil é crítico filiado à APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)

Blog do Merten: Reestréia no Oficina

está no blog do Luiz Carlos Merten, em www.estadao.com.br:

01.09.07


Salmo 91
por Luiz Carlos Merten, 16:49:12.
Fui ver ontem a reestréia da peça Salmo 91, que meu editor, Dib Carneiro Neto, adaptou do livro de Drauzio Varella e agora está no Teatro Oficina. Será que o Dib, crítico de teatro infantil, algum dia imaginou ter uma peça montada no templo de Zé Celso Martinez Correia? Quando estava em cartaz no Sesc Santana, Salmo 91 desencadeou uma polêmica que se estendeu por dias, semanas, no blog do Zanin (meu colega Luiz Zanin Oricchio). Não quero polemizar com ninguém, mas quero dizer que ontem quase me acabei de chorar revendo Salmo 91. Não sabia que mudanças o diretor Gabriel Villela ia fazer em sua montagem para adaptá-la ao novo espaço. Afinal, o palco do Sesc Santana era italiano e Oficina tem aquele imenso corredor central - não é uma arena -, no qual o Zé encena seus happenings.

Eu sei o quanto aquilo é longo porque numa das partes de Os Sertões, acho que na Terra, aquela valquíria imensa que integra o elenco do Oficina me catou lá em cima, onde eu me escondia - tenho horror de interação - e me fez cavalgar por todos os pisos daquele teatro, que me pareceram não ter fim.

De volta ao Salmo 91, Gabriel Villela mudou um pouco o espaço, mas não sua concepção, que continua baseada na palavra. Acho que o teatro, no limite, está se revelando um espaço mais adequado (ou privilegiado)para investigar o universo do Carandiru, mas quero dizer que, se a humanidade dos presos já era o tema do Dr.Drauzio no livro e de Hector Babenco em seu filme recordista de público - é a segunda maior bilheteria da Retomada, após 2 Filhos de Francisco -, eles (os personagens) nunca me pareceram tão dolorosamente humanos como desta vez.

Sem o entrave do palco italiano, a peça ficou mais intimista, estabelecendo uma ponte que aproxima mais a gente daquelas figuras. Claro - não é para quem pensa que preso bom é preso morto, mas é para quem acredita, como o Dr. Drauzio, como o Dostoievski de Recordações da Casa dos Mortos - com seu outro médico -, que a necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer.

E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana.
Luiz Carlos Merten

domingo, 2 de setembro de 2007

Pequenos takes do debate com Karina Florido Rodrigues no dia 21/07/07 no SESC Santana.

No dia 21/07 em meio à confusão, produzi pequenos trechos com câmera de celular do tumultuado debate entre artistas, público e a ex-assessora do Cel Ubiratan, Karina Florido Rodrigues, no teatro do SESC Santana, onde o espetáculo cumpriu temporada de estréia. Acabei de publicar os trechos e quero compartilhá-los aqui com vocês:












Cacá Toledo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

LÁGRIMAS DE BOMBEIRO

UMA MENINA DE DEZOITO ANOS QUEIMADA NO SEU CARRO POR DOIS ADOLESCENTES. FICO BESTA COM A MONSTRUOSIDADE DO ATO. O PAI CHORA NO RÁDIO. EU CHORO JUNTO. MINHA VONTADE É ACABAR COM OS CRIMINOSOS, O QUE NÃO SIGNIFICA ACABAR COM O CRIME. E É O CRIME QUE ME HORRORIZA.
ISSO TUDO É ALGO QUE SE CRIA NUM LUGAR DE MUITA MALDADE, UM DESVIO DO PENSAMENTO CRIATIVO SEMELHANTE AOS QUE CRIAM ARMAS QUÍMICAS,
VAMOS TER QUE CRIAR CENAS MAIS EXCITANTES, QUE DÊEM MAIS MORAL, ADRENALINA, MAIS GRANDEZA AOS ATORES DESSAS CENAS TÉTRICAS. OFERECER AO PENSAMENTO ASSASSINO VIAS POR ONDE A VIDA SEJA AMADA.
EM MINAS GERAIS VINTE E CINCO PRESOS MORRERAM QUEIMADOS NA CELA, TALVEZ PORQUE, POR MALDADE, NEGLIGÊNCIA, DIFICULDADE, SEI LÁ, DEMORARAM A CHAMAR OS BOMBEIROS. ENTÃO QUEIMARAM E NÃO TIVERAM ÁGUA NENHUMA PRA ACABAR COM AQUELA FOGUEIRA.
NO SESC SANTANA, DE ONDE FICAVA GARANTINDO A SEGURANÇA, O BOMBEIRO ASSISTIU VÁRIAS VEZES NOSSO ESPETÁCULO DA COXIA. HOUVE ATÉ UM DIA EM QUE O ATOR ANDO CAMRGO SENTIU-SE E MAL LÁ ESTAVA ELE DE PRONTIDÃO PRA SOCORRER.
POIS ENTÃO, O BOMBEIRO FOI VISTO NO FINAL DO ESPETÁCULO COM OS OLHOS CHEIOS D’ÁGUA. PRA USAR UMA METÁFORA: JOGANDO ÁGUA NA FOGUEIRA DA ALMA INCENDIADA POR AQUELAS CENAS DO SALMO 91.
OS BOMBEIROS SÃO SOBREVIVENTES DE FOGUEIRAS E LÁGRIMAS. DOS FILHOS, AMIGOS, MÃES, PAIS, NAMORADAS, PARENTES....
VIVER É MUITO PERIGOSO.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Reestréia no Teatro Oficina

O espetáculo Salmo 91, que vem alcançando sucesso de público e crítica, cumpriu temporada de estréia no teatro do SESC Santana e tem reestréia marcada para o dia 31 de Agosto, sexta-feira, às 21:30h no Teatro Oficina para o qual está sendo adaptado.

Cumprindo curta temporada na nova casa (de 31/08 a 23/09), Salmo 91 é inspirado no livro Estação Carandiru, de Dráuzio Varella e adaptado por Dib Carneiro Neto. A direção é de Gabriel Villela e no elenco estão os atores Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho e Rodolfo Vaz, ator do Grupo Galpão especialmente convidado.

Mais informações no site de nossa assessoria de comunicação http://artepluralweb.com.br

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

VAMOS VIRAR ESTA PÁGINA?!?!

Faça-me o favor!
Pegar o Salmo mais bonito da Bíblia para fazer apologia aos criminosos!
Ora, o Carandiru não existe mais! o Coronel Ubiratan está morto como mortos estão os 111!
Vamos virar essa página!

APOLOGIA AO CRIME

É isso mesmo meus amigos. Peça de teatro fazendo apologia ao crime. Desde a semana passada esta em cartaz a peça “Salmo 91”, que é uma adaptação do livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru. A peça, segundo todos os grandes meios de comunicação, gira em torno dos fatos ocorridos na Casa de Detenção em 2 de outubro de 1992 que terminou com um saldo de 111 criminosos mortos em confronto com a policia.

Não podemos admitir que isso aconteça, enquanto gritamos aos quatro ventos implorando por justiça aos nossos entes queridos brutalmente assassinados, enquanto lutamos para que o código penal seja alterado, enquanto vivemos revoltados com a impunidade de verdadeiros monstros, temos que abrir os jornais e as revistas que circulam em nosso país e ler que existe uma peça em cartaz que conta as atrocidades de que foram vitimas os bandidos que se encontravam presos.
Até quando? Não sei quanto a vocês meus amigos, mas eu não suporto mais!

Karina Florido Rodrigues, 30 anos, ex-assessora do Deputado Coronel Ubiratan Guimarães

DESTAQUES DE JULHO 2

Tratar com dignidade um monstro assassino? não existe desculpa para crimes contra a vida a não ser em legítima defesa. O mínimo que se pode dizer da tal peça é que ela é uma infeliz oportunidade de ficarem calados. Pobre Brasil comandado por bandidos com a cumplicidade de intelectualöides da dita esquerda. Meus filhos vão todos estudar fora e por mim não voltam mais para cá até que o Brasil MUDE.

19 de Julho de 2007 07:03 CATHY

DESTAQUES DE JULHO

Neste "paíszeco" a apologia ao crime, a criminosos esquecendo-se das vítimas é uma prática comum e parece não ter fim e "vira cultura"???.....lamentável iniciativa de vincular o Salmo 91 com os "anjinhos do carandiru"....quem é contra essa apologia ao crime, deve se manifestar!!! Quem é o "autor" ou "produziu" este lixo e esta excrescência? Lá no carandiru só tinha anjo? Alguém desses ai que produzem isso, perguntam quantas vítimas houveram desses "anjinhos" que estavam presos? Garanto que não....ah a hora que um ente querido seu, produtor e autor, padecer na mão de um desses ai que vc considera "anjo de candura" ai eu quero ver sua reação...hipocrisia que não para....
Tenho vergonha disso tudo....
Jorge Até quando? www.atequando.com.br

terça-feira, 14 de agosto de 2007

"DE PASSAGEM MAS NÃO A PASSEIO"

A TEMPORADA DE SALMO 91 FOI CONDENADA A MORTE NO DIA 19 DE AGOSTO DE 2007 DOMINGO ÚLTIMA DIA DAS 17 APRESENTAÇÕES NO SESC SANTANA.

COMENTÁRIO 1: Uma peça para fazer barulho precisa do "boca a boca" do público, muitas vezes esse tempo é insuficiente para fazer a peça acontecer e mudar de endereço também altera e encarece a comunicação da peça com o público, o que pode significar (e muitas vezes significa) o fim o espetáculo.
É a PENA DE MORTE fruto da ausência do poder público com ações que garantam SEDE e VIDA LONGA aos grupos e às peças.

PORÉM, COM A REPERCUSSÃO QUE ALCANÇOU TRAZENDO PRA CENA ESSE VELHO, MAIS QUE REQUENTADO ASSUNTO, A PRÁTICA DO MASSACRE PARA SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS BRASILEIROS,
RECOLOCANDO O TEATRO NO CENTRO DA DISCUSSÃO DAS QUESTÕES DE TODOS NÓS,
A PEÇA ACABA DE GANHAR UMA SOBREVIDA NO TEATRO OFICINA, VINDA DESSAS MÃOS SOLIDÁRIAS E GENEROSAS QUE, COM SORTE, A GENTE ENCONTRA PELA RUA, NO CASO, A RUA JACEGUAI 520 SEDE DA CIA TEATRO OFICINA UZYNA UZONA, QUE SAI EM VIAGEM PELO BRASIL.

COMENTÁRIO 2 Didaticamente a peça veio à luz no SESC Santana vizinho do PAVILHÃO 9, DO PRESIDIO DO CARANDIRU,onde se deu o MASSACRE e agora vai pro território-quarteirão que simboliza duas aspirações distintas: O SHOPPING do Grupo Silvio Santos e o UNIVERSIDADE ANTROPOFÁGICA DA CULTURA BRASILEIRA /TEATRO DE ESTÁDIO, projeto do Oficina.
Do Carandiru para a Universidade.

ENTÃO, AQUELES QUE DERAM VIDA PRIMEIRA A ESTE PROJETO DIB CARNEIRO NETO, O AUTOR, GABRIEL VILLELA, DIRETOR, E O PRODUTOR ATOR CLAUDIO FONTANA
AGORA TÊM PARA CRIAR A NOSSA CRIANÇA, ESSA RUA TÃO FALADA DO TEATRO OFICINA, ABERTA PRO ANHANBAGABAU DA FELICIDADE.

Contra uma cultura de morte, de cadeias de Shoppings:
TODA VIDA À UNIVERSIDADE ANTROPOFÁGICA DA CULTURA BRASILEIRA!

"O homem é o animal que vive entre dois grandes binquedos - o Amor onde ganha e a Morte onde perde. Por isso, inventou as artes plásticas, a poesia, a dança, a música, o teatro, o circo, e enfim o cinema."
PALAVRAS DO ANTROPÓFAGO OSWALD DE ANDRADE:

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

POBREZA & PRISÕES

Há um ano, o francês Loïc Wacquant passou pelo Brasil quase despercebido. Professor de Sociologia da Universidade da Califórnia-Berkeley e pesquisador do Centro de Sociologia Européia do Colégio de França, desta vez Wacquant teve uma semana cheia no Rio, entre palestras e lançamentos de dois livros: As prisões da miséria (Jorge Zahar) e Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos (Freitas Bastos/Instituto Carioca de Criminologia), parte de uma trilogia completada na semana seguinte com o lançamento de Os Condenados da Cidade (Revan), uma análise das novas formas de pobreza que o novo Estado penal está tentando conter. MaisHumana esteve com Wacquant durante uma conferência na Universidade Cândido Mendes, a qual foi dedicada pelo escritor “aos 180 mil presos do Brasil”. “Não por provocação”, ressalvou, “mas para lembrar que fazem parte da sociedade e devem ter acesso aos direitos fundamentais dos homens do planeta”. O sociólogo denuncia a dominância de uma política de mercado onde o crime é não ser consumidor. Ele estuda o processo da privatização das prisões e da criminalização da pobreza nos EUA, e aponta a existência de um caminho perigoso que o Brasil parece estar tentado a seguir.
Em meados de 1970, criminologistas apostavam que os americanos formariam a primeira sociedade humana sem prisões – afinal, as estatísticas evidenciavam queda no crescimento da quantidade de crimes praticados no país. Como explicar que, ao contrário disso, tenha acontecido um crescimento maciço da população carcerária americana nos últimos 25 anos, um fenômeno social sem precedentes e que extrapola até mesmo os índices de aumento da criminalidade no país?

A resposta é que existe um grande interesse no encarceramento em massa da população pobre. É uma política que atende ao mercado, não só isolando os indesejáveis como gerando a lucrativa indústria das prisões, um mercado que dobra a cada dois anos. Consultores de investimento aconselham os clientes, hoje, a investirem em biotecnologia, internet ou... prisões! O que mudou na realidade foi o crescimento do neoliberalismo, caracterizado por uma economia desregulada, com retração do Estado social e desenvolvimento do Estado penal para controlar desordens sociais e urbanas.

O aumento do aparato judicial é flagrante nos EUA, seguido da Europa e também do Brasil. O neoliberalismo postula um Estado mínimo, mas utiliza um Estado penal-policial cada vez maior, uma aparente contradição entre dois princípios que, na verdade, tornam-se complementares.
EUA: Microsoft ou prisões?
Punir os pobres é a nova tecnologia de gestão da miséria nas sociedades desenvolvidas, principalmente os Estados Unidos. De todos os países adiantados, é o que tem o regime econômico mais desenvolvido e mais favorável à ditadura de mercado, junto a um Estado social pouco desenvolvido. Os resultados são desastrosos. Pouco se fala da face oculta do modelo americano: o desenvolvimento extraordinário do Estado penal.

Os EUA são hoje os maiores carcereiros do mundo, com 2 milhões de pessoas atrás das grades e 6 milhões sob controle penal.

Nada disso é teoria, são conclusões comprovadas pelos orçamentos nacionais de muitos países. Para inchar esse Estado penal, os EUA utilizam meios extraordinários de redução dos orçamentos da educação, serviço social, saúde, carreando verba para a justiça, a polícia e as prisões. Há 25 anos, o país tinha 1.500 prisões, hoje tem 4.800. Em 1976, 380 mil presos. Vinte e cinco anos depois há 2 milhões de presos, 650 presos para cada 100 mil habitantes. O Estado da Califórnia tem hoje mais de 200 mil prisioneiros entre seus 33 milhões de habitantes. Desde 1994 gasta mais a cada ano com o setor, e reduz as verbas das universidades. Um guarda de prisão, hoje, ganha mais que um professor.

Esta é a segunda função do novo sistema, guardar num depósito os inúteis, os que não têm mais função na nova economia capitalista de serviços. Seu lugar é em bairros de relegação urbana, os guetos, ou em prisões. O sistema penitenciário americano tornou-se o terceiro maior empregador do país, com 650 mil empregados. Antes dele vêm empresas que prestam serviços terceirizados. Quem não aceita trabalho terceirizado, vai preso e acaba fazendo o trabalho.
Então eu pergunto, o que realmente representa melhor a economia americana? Os 24.000 empregados da Microsoft ou os 650.000 que trabalham nas prisões?
Política penal, um instrumento de mercado
Os ideólogos dizem que esse encarceramento em massa reduziu a criminalidade, mas os dois fatores não têm relação alguma. A política penal tornou-se autônoma, seu discurso desvinculou-se da questão do crime para funcionar como instrumento de regulação do mercado, da mão-de-obra desqualificada, e de cunho ideológico, simbólico, reforçando a discriminação contra os pobres, os negros, fazendo-os crer que estão em situação social inferior por conta de sua própria incapacidade.

O Estado penal americano gasta mais de 50 bilhões de dólares em prisões e gera um custo social gigantesco, desestabilizando bairros pobres, rotinizando a presença da polícia. Hoje, ser preso é um fato banal nos bairros pobres americanos. Desenvolvi um trabalho de campo numa academia de boxe de um gueto negro americano em Chicago. Certo dia, os colegas estranharam a ausência de um dos alunos mais dedicados, e o treinador, tranqüilizando-os, disse que não havia acontecido nada, apenas ele tinha sido preso – como se dissesse que ele fora comprar pão na esquina! Se a prisão é banalizada, doses cada vez mais fortes serão usadas para obter o mesmo efeito.

Dentro das prisões a situação também vem piorando. Os Estados Unidos, com essa política, em 1980 passaram a precisar de uma nova prisão de mil lugares por semana. Assim, por uma razão prática, tiveram que entregar sua construção, e todo seu projeto e administração, ao setor privado, o que antes ainda atende a um motivo ideológico, o de privatizar todos os serviços possíveis e anular cada vez mais o Estado. O setor privado reduz até a comida para cortar gastos e aumentar o lucro. As prisões, que já eram desumanas, agora se tornam inumanas.
A reabilitação de presos deixou de ser um objetivo do sistema, não dá lucro. A única função do sistema carcerário americano atual é punir, punir para que o criminoso “sinta na carne” o mal que teria causado, ou para mantê-lo afastado das ruas. Na verdade, por que se encarcera? Por medo e por desprezo ao pobre. A prisão promete a falsa solução de tornar invisíveis os problemas sociais, mas na verdade ela os concentra e agrava.
“A burguesia brasileira deseja restabelecer uma ditadura?”
O Brasil tem uma economia de desigualdades sociais vertiginosas e pobreza de massas combinadas, que alimenta o crescimento da violência criminal, flagelo social brasileiro. Não desenvolveu um Estado social que proteja o povo da economia de mercado. Os pobres não sobrevivem nas cidades, então se voltam para a economia das ruas ou para o crime. Como fator específico, a violência é agravada pela intervenção das forças da ordem e por um Judiciário que não garante direitos a todos os cidadãos.

Agora, atinge uma encruzilhada, e começa a estudar medidas made in USA de limpar as ruas. Se adotá-las, é certo que vai agravar seus males. A América fascina outras nações do planeta, como grande símbolo da sociedade do século XXI. Todos querem parecer modernos. Assim, para países como o Brasil, que costumam adotar políticas econômicas ditadas pelo FMI, é natural que adotem também as demais políticas. Na Argentina já se faz o discurso da tolerância zero e da demonização dos pobres. Começa-se por importar os discursos, e há tentação de, depois, importar as políticas.

Que alternativa histórica será escolhida pela burguesia brasileira, que hoje controla sozinha a economia, a política, a mídia? Obstruir os princípios da legalidade? Brasil, Argentina, Chile, já experimentaram regular a ordem com polícia e prisão, e têm bem desenvolvido todo o aparato, inclusive o jurídico, usado para controlar a oposição, na época considerada como hoje o é a população indesejada. Não se pode falar de crime e violência sem tratar do problema da justiça social, no sentido mais nobre e geral do termo. Adotar a criminalização da miséria, hoje, pode significar a reanimação de um passado autoritário.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

domingo, 5 de agosto de 2007

DIONIZIOS PRESO: MEMÓRIAS DO CÁRCERE

QUANDO CHEGA A TEBASP PARA VISITAR O TUMULO DE SUA MÃE SEMELE E TRAZER PRA TEBASP SEUS RITOS, DIONIZIOS É PRESO E ACORRENTADO NAS MASMORRAS DO CÁRCERE DE PENTEU. ESTÁ NAS BACANTES DE EURÍPEDES.

sábado, 4 de agosto de 2007

TEATRO

LIGADOS PELO VIVO DOS ACONTECIMENTOS ESTES ÚLTIMOS DIAS FORAM TELEGRAFICOS. TODO O TIME, DO AUTOR AO DIRETOR AO PRODUTOR, ASSESSORES DE IMPRENSA, PRODUÇÃO, TÉCNICA, ATORES, TODOS LIGADOS, NÃO PERDENDO LANCE NENHUM E NESSA LIGAÇÃO LIGANDO AMIGOS IMPRENSA CONVIDADOS A SE MANIFESTAR CHORAR E SORRIR.
FOI ASSIM TODO DIA.
E NÃO SÓ NOS DIAS DE ESPETÁCULO.
TIVE CAGANEIRA, BEBEDEIRA, RESSACA...
DÊ-SE O NOME QUE QUISER, MAS PRA MIM ISSO SE CHAMA TEATRO.
COMO DIZ O OSVALD DE ANDRADE: DO TEATRO QUE É BOM.
FALTAM OITO ESPETÁCULOS PARA FAZER NO SESC, O FUTURO INCERTO APONTA O TEATRO OFICINA E VIAGENS PARA O SALMO 91.
GABRIEL RESPONDE A SAMUEL: TUDO A FAZER!
MERDA
EVOÉ

MEDITAÇÃO

QUEM ACREDITOU
NO AMOR, NO SORRISO E NA FLOR
ENTÃO SONHOU... SONHOU...
E PERDEU A PAZ
O AMOR, O SORRISO E A FLOR
SE TRANSFORMAM DEPRESSA DEMAIS.

QUEM NO CORAÇÃO
ABRIGOU A TRISTEZA DE VER
TUDO ISSO SE PERDER
E NA SOLIDÃO
ESCOLHEU UM CAMINHO E SEGUIU
JÁ DISCRENTE DE UM DIA FELIZ.

QUEM CHOROU... CHOROU...
E TANTO QUE SEU PRANTO JÁ SECOU.

QUEM DEPOIS VOLTOU
AO AMOR, AO SORRISO E A FLOR
ENTÃO TUDO ENCONTROU,
POIS A PRÓPRIA DOR
REVELOU O CAMINHO DO AMOR
E A TRISTEZA ACABOU.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

SOBREVIVENTE

O VIVO É UM SOBREVIVENTE, SOBREVIVENTES SOMOS TODOS NÓS:
SOBREVIVEMOS À PESTE QUE ASSOLA NA ESCURIDÃO,
SOBREVIVEMOS ÀS ARMADILHAS DAS QUEBRADAS,
À MORTE QUE NOS ESPREITA ESTEJAMOS NO CÉU E OU NA TERRA.
MILHÔES JÁ CAIRAM A NOSSA DIREITA: DO HOLOCAUSTO À BOMBA ATÔMICA, DO IRAQUE À ÁFRICA, DE FOME, DE GUERRA, DE PESTE.
CAIRAM AOS MILHARES DO NOSSO LADO:
CONHECIDOS E DESCONHECIDOS DOS MASSACRES, DAS CHACINAS, DOS ASSASSINATOS DOS GOVERNOS E DESGOVERNOS.
E NÓS NÃO FOMOS ATINGIDOS,
ESTAMOS AÍ DE OLHO NA RECOMPENSA DOS ÍMPIOS.
AO VIVO SOBRA A INESQUECÍVEL LEMBRANÇA DE TANTA MALDADE, TANTO SANGUE, TANTA MORTE QUE TRANSBORDAM O CORAÇÃO.
GANHAMOS UMA VIDA LONGA.
E O QUE FAZER COM ELA: SER OU NÃO SER.
SALMO 91.
QUEM TA VIVO, LEVANTA, TIRA A ROUPA E SAI PELADO!

SALMO 91

Aquele que habita na proteção do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confio.
Porque ele te livrará do laço do caçador e da peste mortífera.
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas encontrarás refúgio; a Sua verdade será o teu escudo e tua armadura.
Não temerás o terror da noite nem a seta que voa de dia. Nem a peste que anda na escuridão, nem a mortandade que assola ao meio-dia.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. Apenas olhe, e verás a recompensa dos malfeitores.
Porque fizeste do SENHOR teu refúgio, e do Altíssimo a tua habitação, nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua casa.
Pois Ele dará a seus anjos autoridade sobre ti, para que te protejam em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Tu caminharás sobre leões e serpentes; pisarás o filho do leão e o dragão.
Porquanto tão encarecidamente me amou, eu o libertarei; leva-lo-ei para a segurança do alto, porque conheceste o meu nome. Ele me invocará, eu lhe responderei; estarei com ele nas adversidades, e dela a retirarei, e o glorificarei.
Sacia-lo-ei com a longevidade, e lhe mostrarei a minha salvação.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

CARANDIRU: ABELHA DA CARNAÙBA

origem Tupi-guarani,
Combinação das palavras CARANDÁ IRU:
Carandá = Carnaúba (espécie de palmeira)
Iru = Abelha (Fonte: Prof. John Monteiro, Unicamp)
Carnaúba Iru = Recipiente (Fonte: Luis Caldas Tibiriçá, Traço Editora)
O nome do presídio foi dado pelo Rio Carandiru, afluente do tietê que passa nos fundos do presídio.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Nota na seção A Semana, da revista ISTO É

A PLATÉIA E O CORONEL
Na fervura ideológica dos anos 60, viam-se platéias se insurgirem contra atores – tudo era política. O tempo passou e mudou, e assim causou surpresa o fato de Karina Rodrigues e dois jovens de casacos com caveiras se insurgirem contra os atores na peça Salmo 91, em cartaz em São Paulo. Baseia-se no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varela, e fala do massacre de 111 presos comandado em 1992 pelo coronel Ubiratan Guimarães – morto há cerca de um ano. Karina é ex-assessora e ex-vizinha do coronel que se tornou deputado. Não há notícia de que ela tenha queimado o livro em praça pública quando Ubiratan estava vivo.

(nota publicada na seção A Semana, da revista ISTO É)