terça-feira, 26 de junho de 2007

Recordações da Casa dos Mortos - Dostoiévski

"...Os prisioneiros em toda a Rússia sabem que só os médicos podem ter compaixão por eles. Os médicos nunca estabelecem diferença alguma entre um prisioneiro e um civil, como é comum outras pessoas estabelecerem, com excessão, talvez, do povo....Desse modo, os médicos representam, para os prisioneiro, autênticos refúgios.
“Nunca me esquecerei daquela noite, a noite do campo, que fez de minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca me esquecerei daquela fumaça.
Nunca me esquecerei dos rostos daquelas crianças cujos corpos eu vi transformarem-se em rolos de fumaça sob um céu azul e mudo.
Nunca me esquecerei daquelas chamas que consumiram minha fé para sempre.
Nunca me esquecerei daquele silêncio noturno que me privou para sempre do desejo de viver.
Nunca me esquecerei daqueles momentos que assassinaram meu Deus, minha alma e meus sonhos, que se tornaram um deserto.
Nunca me esquecerei daquilo, mesmo que seja condenado a viver tanto quanto o próprio Deus.
Nunca.”
(A noite, Elie Wiesel - escritor e sobrevivente do holocausto)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

DIA 07 DE JULHO - ESTRÉIA

GABRIEL VARELLA X DRÁUZIO VILLELA
POR
DIB CARNEIRO NETO
"SALMO 91".

domingo, 24 de junho de 2007

"MAIS URGENTE NÃO ME PARECE TANTO DEFENDER UMA CULTURA CUJA EXISTÊNCIA NUNCA SALVOU UMA PESSOA DE TER FOME E DA PREOCUPAÇÃO DE VIVER MELHOR, QUANTO EXTRAIR DAQUILO QUE SE CHAMA CULTURA IDÉIAS CUJA FORÇA VIVA SEJA IDÊNTICA A DA FOME.
TODAS AS NOSSAS IDÉIAS SOBRE A VIDA TÊM DE SER REVISTAS NUMA ÉPOCA EM QUE NADA MAIS ADERE À VIDA.
E ESTA PENOSA CISÃO É MOTIVO PARA AS COISAS SE VINGAREM, E A POESIA QUE NÃO ESTÁ MAIS EM NÓS, E QUE NÃO CONSEGUIRMOS ENCONTRAR MAIS NAS COISAS, REAPARECE DE REPENTE PELO LADO MAU DAS COISAS;
E NUNCA SE VIRAM TANTOS CRIMES CUJA GRATUITA ESTRANHEZA SÓ SE EXPLICA POR NOSSA IMPOTÊNCIA EM POSSUIR A VIDA.
SE O TEATRO EXISTE PARA PERMITIR QUE O RECALCADO VIVA, UMA ESPÉCIE DE ATROZ POESIA EXPRESSA-SE ATRAVÉS DE ATOS ESTRANHOS EM QUE AS ALTERAÇÕES DO FATO DE VIVER MOSTRAM QUE A INTENSIDADE DA VIDA ESTÁ INTACTA E QUE BASTARIA DIRIGI-LA MELHOR."

ANTONIN ARTAUD

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Em primeira mão, texto do autor no programa da peça


Clausura no palco

E eis que bandidos inescrupulosos, matadores impiedosos, criminosos revoltantes nos contam histórias. O impacto dessa leitura foi enorme. Fechei a última página absolutamente fascinado. Por isso, não demorei muito tempo: o livro foi lançado em 1999 e no fim desse mesmo ano eu já tinha terminado minha adaptação teatral daquele que viria a ser um best seller de marcar época na história do mercado editorial brasileiro (460 mil exemplares vendidos desde então). Armado de certa coragem, mas ainda assim muito tímido e vacilante, telefonei para o autor do livro para pedir que lesse minha adaptação. Teclei o número do consultório do dr. Drauzio Varella, com o coração aos pulos, ciente de que estava tomando uma atitude ousada: até então, eu nunca tinha escrito nada para teatro e achava que já poderia começar assim... adaptando Estação Carandiru??!!
Drauzio também não demorou nada. Pouco mais de uma semana depois de receber meu texto, telefonou-me de volta para dizer que se sentia muito honrado com a adaptação, que não imaginava que seus escritos pudessem resultar em peça de teatro, que a retumbante acolhida do livro ainda era recente e de certa forma o assustava, e que ele era “apenas” um médico e não entendia dessas coisas de direitos de adaptação etc. etc. etc.
A reação de Drauzio Varella ao meu texto inegavelmente invasivo – que reconta suas histórias, despreza algumas delas, faz cada personagem da peça conter em si várias passagens do livro, suprime sem cerimônia a figura do médico-narrador, alinhava as ações a partir da presença pesada de uma Bíblia martelando versículos na cabeça de confinados pecadores – foi a reação típica de um ser humano de sua estirpe: generoso de antemão e respeitoso por princípio.
E eis que agora, em 2007, minha adaptação de aprendiz chega ao palco. Depois de oito anos na gaveta. Depois de um grandioso filme que, como o livro, também marcou época, visto por mais de 4,5 milhões de pessoas no Brasil, além da carreira no exterior. Depois de uma série para a TV impecavelmente produzida e com invejáveis índices globais de audiência. Depois que os dois produtos (filme e série) venderam como água no formato de DVD. Depois de uma inusitada adaptação para a rádio BBC, de Londres, feita por Paul Heritage e Kate Howland, em 2002. Depois de mais livros lançados pelo grande escritor Drauzio Varella, que continua achando que é “apenas” um médico. Depois de duas ótimas peças teatrais baseadas em seu antológico conto Bárbara, também remetendo ao complexo do Carandiru.
E mais: Depois da implosão do presídio, ocorrida numa espetaculosa ação de mídia ­– cena barulhenta e plástica, própria para subirem os letreiros finais de todos os ‘fantásticos shows da vida’. Depois que os ataques do PCC escancararam para populações em pânico o que toda a poeira mítica daquela implosão não conseguiu encobrir: a crise, sem solução à vista, do sistema penitenciário brasileiro. Depois que crimes hediondos (João Hélio, 6 anos, arrastado pelas ruas do Rio) fizeram intelectuais humanistas repensarem a legitimidade da pena de morte, tingindo páginas e mais páginas de jornais com a tinta indulgente de seus artigos cultos sobre civilização e barbárie. Reeducar ou punir? Recuperar ou castigar? Vigiar ou... eliminar? Quais pensadores ou quais governantes, livres de culpas, hipocrisias e interesses, terão alternativas a propor? Que justa sociedade será um dia capaz de resolver o dilema da clausura?
Enquanto isso, que toque o terceiro sinal. E que o expansivo mineiro Gabriel Villela faça abrir as cortinas e as asas de seu efervescente talento, alimentando-se da sabedoria das tragédias gregas para reerguer os muros arquetípicos de uma estação chamada Carandiru. E que 111 homens caiam de novo à nossa direita ou à nossa esquerda, sem que nada (nada mesmo?!) nos aconteça, como apregoa o salmo de número 91. E que, então, a pungência dos relatos de Drauzio Varella, unindo-se finalmente à contundência artística de uma encenação teatral, ressoe em todos nós, cúmplices-sobreviventes, a importância de continuar sonhando com um mundo melhor.

Dib Carneiro Neto, julho de 2007

terça-feira, 19 de junho de 2007

Salmo 91 - Em julho no SESC Santana


Estréia no dia 06 de julho de 2007 no teatro do SESC Santana a peça Salmo 91, de Dib Carneiro Neto, com direção de Gabriel Villela. Baseada no livro "Estação Carandiru", de Dráuzio Varella, a peça reconta as histórias e modos de vida dos massacrados e as seqüelas deixadas nos sobreviventes do terrível massacre do ano de 1992, onde, segundo os números oficiais, 111 presos foram mortos pelo pelotão de choque da polícia militar em uma incursão para conter um confronto entre detentos no pavilhão nove.

O espetáculo e sua equipe, que inaugura aqui um espaço para reflexões e trocas de idéias sobre o episódio, suas problemáticas ou quanto ao fazer teatral com o público e interessados, tem sua estréia confirmada para o dia 06 de Julho de 2007 no SESC Santana e conta com a seguinte ficha técnica:

Texto: Dib Carneiro Neto (Baseado em "Estação Carandiru", de Dráuzio Varella) / Elenco: Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho / Ator convidado: Rodolfo Vaz / Direção, cenário e figurino: Gabriel Villela / Diretores assistentes: Cacá Toledo e Gustavo Wabner / Iluminação: Domingos Quintiliano / Trilha sonora: Tunica / Fotos: João Caldas / Programação visual: Daniel Maia / Cenotecnia: Márcio Vinícius / Assistente de figurinos: Maria do Carmo Soares / Assessoria de imprensa: Arteplural - Fernanda Teixeira / Assistente de produção: Elisa Faria / Produção executiva: Renata Alvim / Direção de produção: Cláudio Fontana / Produção: BF Produções.