quinta-feira, 3 de abril de 2008

HORROR

Estou lendo entre outros o DOM CASMURRO.
Parece que foi o Nelson Rodrigues que disse que na vida a gente devia ler uns dois ou três livros não mais. Pra mim um deles devia ser algum dos livros de Machado de Assis que completa este ano 100 anos de morte.
Estou lendo porque vou dar um curso de interpretação no Movimento Bexigão, uma escola anexa ao Teatro Oficina, base da Universidade Antropofágica, e acho o Machado de Assis uma espécie de Stanislawisky.
Pode ser muito legal pra gente que é ator porque ele mostra seus personagens, com riqueza detalhes, nos oferece sua alma brasileira, sua grandeza e sua mesquinharia, detalhando a minuciosa construção do pensamento e suas ações; coisas como "alguém que sabe opinar obedecendo", um bruxo e mestre na observação da pessoa.
Ator é atleta do coração, atleta das emoções, e ele precisa ir fundo na definição do sentido de cada uma delas. Um grande escritor como o Machado esmiuça isso com profundidade, iluminando nosso pensamento com definições pertubadoras do porque das ações de seus personagens.
Mas o que mais me provoca nessa releitura de agora, é que chego a conclusão que o mais sincero dos humanos, o mais aberto e sincero deles, é também o que mais esconde o que quer mostrar. Essa disposição solar de apresentar seu passado e seu pensamento como faz o personagem acaba cegando os olhos e tapando os ouvidos de quem está por perto.
Muita luz é como jogar escuro quem está olhando e muita falação é como se não tivesse falado nada. Cegueira e surdez.
A menor distância entre dois pontos não é uma reta.
Ontem a folha de São Paulo publicou na primeira página uma foto do lula sorrindo no ombro do sérgio cabral, embaixo a manchete dos mortos do dengue, parecia dizer "eles estão rindo dos mortos", é claro que o editor que juntou aquilo por conta da sua opinião, do seu ódio pelo lula, ou coisa assim. A mentira também é o jeito de se dizer uma verdade que vai pela alma. Tá lá no Machado de Assis...
Passei a pensar em mim, que falo muito e às vezes sou pego de calças curtas pela minha fraqueza, o ser humano é tão complexo, tão rico, tão pobre.
Minha cara está nas ruas, umas fotos minhas nos pontos de ônibus daqui da Zona Sul, eu apontando umas letras e dizendo que é preciso tomar cuidado com a dengue: "dengue mata", dá raiva de pensar no cachê que ganhei pra fazer o comercial, nas crianças que morreram, na hipocrisia da imprensa que não deu destaque a uma coisa que já se sabia o ano passado, na omissão da gente do governo e dos médicos que sabiam que a coisa era grave, nos políticos que vão usar isso para faturar a próxima eleição, da Johnson e Johnson que triplicou as vendas de repelente e no salmo 91: mil cairão a teu lado e nada chegará a tua tenda.
Estou sobrevivente da dengue e é um horror...
Rio, salmo carandiru, Pascoal.

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