Primeiramente, PARABÉNS pela apresentação de ontem, não tenho nem palavras para descrever, é emocionante, simplesmente SENSACIONAL.
Segundo, falei com você durante a semana por telefone para marcar uma entrevista, lembra? Ontem no final da apresentação de Salmo 91, também, conversei com você e fiquei de mandar as questões.
Bem, aí estão, espero que você possa me responder.
1. Como funcionou o processo de criação, os ensaios? Há aqui no blog um tópico chamado CARENCIA E NECESSIDADE que fala sobre os objetos e um outro chamado PREPARAÇÃO CORPORAL, os dois em julho que falam sobre isso.
2. Como foi a primeira apresentação? Como você se sentiu? E como você sentiu seus parceiros de cena e o público?
Já bem antes da estréia propriamente dita, já haviamos feito algumas. na semana que antecedeu a estréia no SESC, passamos uma semana inteira de terça a segunda dentro do SESC. Então quando fizemos a estréia já tínhamos "estreado" pelo menos umas cinco vezes. Embora afogados pela emoção da estréia creio que conseguimos executar a partitura proposta pelo diretor com muita disciplina, o que rendeu boas apresentações, principalmente por causa da seriedade do assunto que estávamos tratando ali no Sesc Santana, terreno vizinho do Carandiru, palco do massacre, nesse ano de 2007, exatos quinze anos depois.
Quanto ao que eu senti, cuidei o mais possível para realizar minhas ações como ator sem ceder a frivolidades, besteiras. Lembro que no dia da estréia, durante a tarde, fui visitar o local onde por décadas funcionou o presídio, lá na Rua Cruzeiro do Sul, Estação Carandiru do metrô, onde é hoje o Parque da Juventude. Tudo derrubado, uma arquitetura maquiada tomou conta de tudo. Foram derrubados os edifícios todos, foi feita uma cirurgia para eliminar da paisagem qualquer vestígio dessa ferida da sociedade civilizada. Atravessei o Rio Carandiru, que passa entre o presídio feminino e o Carandiru, e colhi algumas flores selvagens que cresceram no terreno onde correu o sangue do massacre e levei para o camarim. Ficaram ali na primeira semana. Pensei muito nisso durante todo o espetáculo.
Quanto aos parceiros de cena e o público, para não me estender muito, eu acho que compartilhar a criação diária do espetáculo, porque ele é feito e logo depois precisa-se fazer tudo de novo, enfim, compartilhar a cena faz-nos obrigatoriamente ter de enfrentar nossas limitações e medos. Há dias maravilhosos em que nos sentimos poderosos, porém no dia seguinte muitas vezes a cena é tão fraca, tão sofrível, tão terrível, que é como se o espetáculo nos recolocasse no nosso devido lugar. Todos nós, atores, assistentes, diretor, todos, compartilhamos dia a dia esse fazer e refazer, alegrias e tristezas, vitórias, vitórias e muitas, inúmeras derrotas.
Nada muito diferente do que se diz o que é a vida.
3. Como é participar de uma peça com histórias tão intrigantes e emocionantes como as de Salmo 91.
O salmo 91 entre outras coisas diz assim (e isso está na peça) "mil cairão a teu lado e dez mil a tua direita mas tu não serás atingido, nada chegará a tua tenda, etc, etc". No começo, quando li isso, tinha certeza de que EU era esse "um", EU era o que sobra, o salvo, o vivo, o cara que vai ver tudo cair e morrer a tua direita e não ser atingido por nada, lá dentro da sua tenda. Mas a peça e a criação artística que a envolveu, teve a ventura de revelar que o lugar da gente pode se também no meio de mil, dez mil, milhões. Então eu e você e todo mundo não somos somente esse "um", que sobra, somos todos. Nós nos "achamos", cremos que nada vai tocar na nossa "pessoa", nosso egoísmo ouve o canto dessa sereia enganosa que nos distancia da compaixão com a vida dos nossos semelhantes e nos mantem salvos dentro da nossa "tendinha". Não é nada disso. Quanto as histórias, são tantas, tantas vidas perto e longe da gente, são muito mais que dez, mil, milhões, são bilhões de histórias, cada cabeça uma sentença. E no teatro isso emociona tanto porque o teatro ama o homem, ama os seres, as coisas, a vida. Teatro não tem nada a ver com esse desprezo que trata gente como conta ou porcentagem ou como mercadoria. Não dá nem pra explicar esse tipo de coisa, que não é de se explicar.
4. Como é interpretar o DaDá?
O Dadá somos nós: os sobreviventes, sobreviventes dos horrores da vida, da ditadura militar brasileira, da bomba de Hiroschima, do massacre da Candelária, dos milhões que morrem assassinados, dos venenos da poluição, dos nossos desesperos, a lista não tem fim, mas ser sobrevivente é mais que tudo ser testemunha para todas as gerações da vitória da vida sobre a morte e aceitar a obrigação humana de expressar isso através dos meios que tiver a seu alcance. É não trair nunca a expectativa de vida dos que morreram antes de nós.
e o Veio Valdo, personagens tão distintos ?O Véio Valdo é o mais velho personagem preso no cárcere chamado Terra. Está preso aqui enquanto as estrelas dos puteiros estelares rrrrrrrrebolam suas bundas de parar a feira. É personagem mítico, interno, enclausurado, solitário da solitária, passou pelos 120 dias de Sodoma e Gomorra oferecidos pela crueldade dos "home", que ele levou no bico comendo sua própria merda. É o Sem-Nada. Sem-Ceu, Sem-Sol, Sem-Ar, Sem-Luz, Sem-Deus-Nem-Satanás. é um Sem-Nada.
Quais as principais diferenças entre eles ? Dentro da prisão não temos diferenças. Afinal estamos todos sobre o mesmo denominador comum. Nada diferente do que estamos vivendo aqui no planeta.
Qual é mais complicado de interpretar ?
Lembrei duma musica do Jorge Mautner: "Na matemática do meu desejo eu sempre quero mais um, mais um, mais um beijo". Complicado como uma conta sem fim de interpretar e solucionar. Daria um teorema falar sobre isso. É como o desejo de mais um mais um beijo. Mas vai virar um livro esta entrevista...
E qual você gosta mais?Já responderam isso antes de mim: gosto de todos.
5. O que mais te impressionou na adaptação de Dib Carneiro ? A fluência e a ligação de uma coisa e outra que a peça tem. O Colar de pérolas que é a ligação de uma cena a outra. É um relógio, tudo ligado, entendido, funcionando. TRepare: Por exemplo, a briga estopim do massacre começou no beco lazarento da rua dez, a peça tem dez personagens, noves fora 1. E se fosse um? Cada celula que você quiser analisar, estudar, pode confiar, ir pro texto que a resposta está lá. Isso é o que se chama de dramaturgia ou a maquinaria, a máquina que faz a peça andar, muito próximo daquilo a que os alquimistas chamam de "moto perpétuo", a identificação com o movimento que mundo faz antes de tudo e de todos. Não é surpreendente?
E na direção de Gabriel Villlela?Já falei isso várias vezes e vou repetir: me impressiona a inteligência, a cultura e a sutileza que com toda firmeza o Gabriel imprime no trabalho. Algumas vezes resisti, duvidei mas tive que ceder às evidências científicas prodigiosas da sua intuição. Ele não é besta nem nada, não fica a dever pra ninguém, a nenhum criador teatral do planeta e nos fez grandes junto com a sua arte. Ele nos elogia muito, decerto fizemos por receber esses elogios mas o fermento veio dele, apodrecemos, fermentamos e saímos vinho desse trabalho como uvas pisadas pelos pés barrocos e cheios de sangue de Gabriel Villela
6. Já tinha trabalhado com eles antes ? Se não , como foi trabalhar ?Eu acho que respondi essa pergunta antes mas vou falar e completar com coisas que escrevi no blog da peça lá também pode-se visitar a polêmica que rodeou a existência do espetáculo e também descobrir entre outros o trabalho luxuoso feito pela categoria de dois artistas, atores, assistentes, Cacá e Guga, sem contar o brilho do produtor ator artista Claudio Fontana. Foi um trabalho muito iluminado pelas luzes dessas estrelas todas. Sem esquecer a nossa Miss Venezuela Renata Alvim, mas isso vai pro livro. Porém, voltando a sua pergunta esclareço:
Logo após as primeiras apresentações, a peça parece que vai empenar, então o diretor retoma o espetáculo, redirige, aprova o que caminha bem e põe no eixo o que se desvia. Gabriel, depois da primeira semana, fez uma reunião em que martelou mais uma vez os cinco pontos de sua direção, que considero primorosos e que são seu sistema de trabalho que tanto admiro. Transcrevo abaixo os cinco pontos deste bate papo com os atores.
“Primeiro ponto: o ator tem que ter a consciência de estar trabalhando com uma dimensão épica do relato e não deve deixar que a máscara tome conta do seu rosto, ou seja, colocar o personagem, a máscara, entre a sua consciência de estar em cena e a lucidez da platéia de estar assistindo.
O segundo ponto é o ponto de contado dessas máscaras, a relação desses pontos de contato. Ou seja, todos, todo mundo precisa ter a consciência de que é responsável por aquela máscara naquele instante e por toda a idéia, ao invés de tornar solitária a sua experiência em cena e com isso abandonar a relação com a idéia maior perdendo o distanciamento acordado inicialmente e permitindo que a máscara grude no rosto, fora de uma vivência crítica.
O terceiro ponto é a dinâmica física do espetáculo. O ator deve saber que o tempo inteiro de circulação, dentro ou fora, ele continua com responsabilidade sobre a cena. Não é porque ele vai pra coxia, pro chuveiro, pra qualquer lugar, enfim, ele pode se permitir desligar. É um coletivo, o ator que está em cena tem a percepção, por não estar grudado à máscara, que ele está ligado a toda contra-regragem, irmanado ao coletivo e não deve abandonar nem ser abandonado pelo todo.
Quanto a contra-regragem, a relação com os objetos de cena, atenção: ator não é um contra-regra, ele exercita a contra-regragem, porque tem uma consciência gigante dos objetos: sabe como foram descobertos, construídos, acompanhou como cada um foi pra cena, tem uma consciência afetiva desses objetos, uma relação inteligente, acima de tudo a inteligência.
O penúltimo ponto é o conceito da qualidade do verbo, presente o tempo inteiro como relato trágico, mesmo que no nosso caso específico, ele venha a fundir gêneros, melodrama, trágico, patético, bizzaro, barra pesada: é preciso manter a consciência de tudo isso no verbo, na musculatura verbal. Uma musculatura que não se afrouxa, se vitaliza.
Na vida cotidiana, a musculatura verbal não é tão exigida como no teatro, e muito dessa musculatura, em repouso, fica esquecida. A boca que fala a fala, o que precisa ser dito, refletido, levado adiante, a boca que fala o verbo deste espetáculo tem que ter seus músculos acionados e exigidos com saúde. Coisa que o cotidiano ditado pelo estatuto burguês, não pede pra ninguém, aliás, se você entra e fala com essa musculatura em qualquer ambiente, você derruba esse lugar.
O quinto ponto é o ponto do futebol que linka tudo. Eu quero atores em continuidade, em estado contínuo de elaboração. Que ajam como atores de coletivo. Tem aquele corredor, atrás do palco, lá onde fica a mesa do lanche e do café. Tirem a mesa, façam dois gols e disputem um futebol entre vocês todo dia. Daí vocês vão ver que o futebol, que nós achamos intuitivamente lá atrás, no nosso passado de ensaios, como preparação do corpo do ator, como forma de tomarmos conta do espaço, quando nem nos conhecíamos direito, quando éramos estrangeiros vindo de mundos diferentes, o futebol que nos ligou é o meio da gente inaugurar a noite de prodígios, que é a noite do espetáculo, uma noite de prodígios que tem a mágica do futebol para resgatar brasileiramente essa unidade.
Joguem o jogo, com bola ou sem, exercitem o passe, a disputa, a reação. Esse nosso teatro e futebol, é ele que unifica os cinco atores em torno de uma bola, a competição entre os times de atores, é bacana, porque estabelece concretamente um vai e vem de trocas de adrenalina, hormônio, suores, contatos, e quando pára esse futebol da preparação corporal diária, ele não acaba, você vai pra sua concentração pessoal, tua maquiagem, passar teu texto, aquecer tua voz mas ele já editou vocês, atores, ele já rompeu a relação de todos com o cotidiano, enfim, já espatifou esse corpo domesticado da relação automatizada com a vida, trazendo outro corpo para a nova relação que se apresenta, o jogo daquele dia.
Ainda, esse futebol diário traz a memória de nossos ensaios, a memória de nosso primeiros momentos, memória afetiva, de coletivo, que restabelece dia a dia o vínculo de continuidade. A pelada que hoje foi 5 a 2, um ganhou outro perdeu, mas amanhã pode virar e isso é muito saudável, é uma forma de impedir que a inércia tome conta da rotina do ator.
Acho que é isso.”
7. Como é dividir o palco com atores tão gabaritados como Rodrigo Fregnan, Pedro Moutinho, Ando Camargo e Rodolfo Vaz? Já tinha trabalhado com algum deles antes ?
Rodrigo Fregnan, pelo que eu sei, passou pelo diretor Antunes Filho, com ele realizou grandes criações e forjou sua seriedade para encarar os personagens. È obssessivo, entra com dois isqueiros na cena pra vencer a hipótese de um dos isqueiros falhar quando acender o baseado e por incrível que pareça, um dia falhou e ele estava lá com o outro. De vez em quando nos estranhamos porque ele é do tipo que apóia mesmo, camaradão, companheiro que vive apoiando e manifestando esse apoio e não hesitava e me dizer coisas como "tamo com você", "agora é contigo", e eu ficava mais inseguro porque isso ele dizia sempre depois de ter feito grandes apresentações. É um poeta, não me esqueço dele falando Fernando Pessoa no camarim, antes de começar o espetáculo, fez-se um silêncio especial e ele mandou inspirado: NUNCA CONHECI QUEM TIVESSE LEVADO PORRADA. Maravilhoso. Naquele dia, nós atores, entramos em cena umidecidos pela seu talento. Foi um belíssimo espetáculo, pelo que me lembro.
Pedro Moutinho. Repare na aura do Pedro. Lembre dele como uma brasa que esquenta, refresca, ilumina qualquer amizade. É pintor. Dele são o Jesus Cristo da peça e o cenário de Veronique de Milus, o sangue dos nossos pés, um luxo. A sua execução da partitura do seu papel, nos dias em que faz pra lá de bem, é de babar. Uma surpresa pra mim que nem sempre tenho oportunidade de conhecer jovens atores assim tão talentosos. Uma curiosidade: é o que mais tem espaço entre os personagens, no entanto você não enxerga ele desconcentrado, andando pela coxia, pra lá e pra cá, ele desaparece, feito anjo e se você precisar ele está lá. Tem uma intuição teatral que é muito rara de se ver. É nosso príncipe da paz.
Ando Camargo é um rio. Um corrimento de ator. Como todos nós tem defeitos mas suas qualidades são maiores. Aliás, pra não ficar uma falação chapa branca, podes crer que trabalhamos muito pras coisas ficarem bem. Mas voltando ao Ando lembro de dias que interpretava tão bem a Zizi Marli que eu me despedia da personagem na coxia e pedia para ela voltar no outro dia. É o nosso fio terra, nossa antena, por isso é que fica lá no alto. É o ator amando o público, tesudo se abrindo e se entregando, molhadinha, queridinha, não nega carinho para o público e isso é uma qualidade dos elegantes. No Edelso teve dias tão felizes com a platéia que os aplausos eram como se pedissem bis, com ele se esquecia tudo, a gente ria e chorava com aquele final NÃO VEJO A HORA!
Rodolfo Vaz. Galpão. Esse é o cara, é o sangue bom! está escrito lá no programa “convidado especial”. Um acepipe, um plus de especialidade dado de bandeja para São Paulo. O publico de São Paulo tem sempre pra ver ótimos atores, mas internacional de Minas Gerais, esse tempão todo com a gente, mais de cinco meses, é raro. não tem ator como ele todo dia não, parabéns principalmente para a produção que nos apresentou essa excelência de criador gerado no útero do galpão mineiro. Eu não pude conhecê-lo tão profundamente antes porque as duas vezes em que nos cruzamos, uma no Romeu e Julieta eu me dissolvi naquela maravilha e me perdi no todo, depois quando fui ver Doente Imaginário, devia ter ido ao hospital pois ele ficou doente nessa apresentação lá na terra do doutor Blumenau. É isso.
8. É mais difícil trabalhar com monólogos ?
É dificil. Mas nesse espetáculo sinceramente nem senti. Nos dias de bons espetáculos, como o Gabriel chamou a atenção, a coxia estava dentro de cena e a cena estava dentro da coxia. Essa peça não é um monólogo. São muitas vozes, muitos timbres juntos.
Qual “estilo” você prefere?
Estilo de verdade.
9. Como foi a última apresentação no Teatro Oficina ?
Não tivemos ainda a última apresentação. Teve sim essa coisa de fazer no teatro Oficina, que é um teatro que agrega valor ao nosso trabalho pelo que significa a sua história na história do teatro do mundo. E isso dá muita responsabilidade. Pedro Moutinho falou muitas vezes disso, da dor de barriga de fazer lá naquele templo. Mas se entendo sua pergunta a última apresentação foi aquele especialidade pelas presenças todas, desde Drausio Varella até você e eu, pelo calor da noite, pela lua cheia no céu, aquele teto se abrindo trazendo aquele fresquinho da noite, as sirenes da polícia, a música brega dos botecos, as luzes das celas dos apartamentos, acendendo e apagando, árvores, estrelas. Numa das nossas primeiras apresentações choveu, choveu muito, depois de muitos dias. Parecia o céu chorando, triste, mas a gente precisava tanto daquelas lágrimas, tava tudo tão seco.
É uma sensação diferente das outras apresentações?
A sensação é diferente sim. Gabriel me contou que na Alemanha, onde a grande maioria das cidades foi construída ao longo dos rios, as cidade não tinham prisões nem manicômios, a loucura ainda não estava catalogado como tal. Mas para os marginais, aqueles inadaptados, inconformados, criaram uns navios-prisões-hospícios que ficavam dia e noite circulando e parando nos portos para abastecimento ou para receber mais um louco, delinquente, marginal, condenado. Era nessa hora que o povo curioso se ajuntava pra ver o espetáculo de degradação, de delírio, de grandeza e vileza que aquelas figuras ofereciam. E isso durou por muitos anos, mais de século! Vindo do SESC CARANDIRU SANTANA nossa nau de loucos aporta no porto do Oficina, vai pro porto de Santo André, Presidente Prudente, um dia pra Brasília, outro em Belo Horizonte. Navegar é preciso.
10. De onde vem a sua inspiração para interpretar tão bem?V
em de muitas paixões: pela vida, pela alegria, pelas crianças, pelo público, os passarinhos, as flores, meus amigos, minhas tristezas, vem das uvas todas que apodrecem dentro de mim, me apertando, socando, sovando, amando. Principalmente amando.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Um resumo de nossa 'fortuna crítica' até agora
NA LINHA DOS MELHORES MOMENTOS, AQUI VÃO TRECHOS DAS CRÍTICAS DE SALMO 91 ATÉ AGORA:
Gabriel Villela despoja a cena, com os cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho e Rodolfo Vaz - cara a cara com a platéia, desfiando a crueza de uma humanidade que procura, desesperadamente, se manter sobrevivente. Com citações bíblicas e rituais religiosos, permeados por referências futebolísticas, o diretor cria atmosfera de pungente finitude que, sem maiores artifícios cênicos, deixa o real exposto. Aí é até possível encontrar poesia na miséria existencial."
Macksen Luiz
Jornal do Brasil, 26-7-2007
O espetáculo dirigido com rara sutileza por Gabriel Villela radiografa em dez personagens o universo de mais de uma centena deles. Costuradas por analogias com o futebol, as histórias comovem a platéia pelo tom confessional. Em um dos grandes momentos, Pascoal da Conceição incorpora o sofrimento do filho que não seguiu os conselhos da mãe e morrerá sem ler o salmo citado no título da peça. Longe do estereótipo, o ator se destaca no eficiente elenco. Villela dispensa os excessos habituais de suas direções em nome de um bom texto e bons intérpretes.
Dirceu Alves Jr.,
Veja São Paulo
A suspeita de que o potencial do livro Estação Carandiru estivesse esgotado cai por terra com a peça Salmo 91, em cartaz em São Paulo. Primeiro porque o texto de Dib Carneiro Neto parece ser o que melhor reproduz o grande trunfo da obra: as histórias pessoais, narradas pelos criminosos em tom humanista. A direção madura de Gabriel Villela reduziu esses quadros à sua essência: o ator entra, dirige-se à frente do palco e conta sua vida. Com roupas comuns, algumas manchas de sangue nas pernas e simbólicos objetos de cena, os atores Pascoal da Conceição, Ando Camargo, Rodolfo Vaz, Pedro Moutinho e Rodrigo Fregnan transformam os monólogos em pequenas peças de "canto-falado". É de arrepiar.
Ivan Cláudio,
revista Isto É Gente
Salmo 91 é um espetáculo de dureza total que consegue ser compassivo. Quando a luz do palco se acende em azul tênue e a voz dolorida de Elza Soares inicia O Meu Guri, de Chico Buarque, algo começa a prender a atenção do público; e assim será até o fim. São dez monólogos, dez situações, dez "des-humanidades". O espetáculo não começa: explode pelo talento de Pascoal da Conceição que, amarrado e imóvel, descreve o que foi o massacre e, furioso com o salmo pregado pela mãe, abre as portas do desespero de outros personagens. O equilíbrio com tensão contagia um elenco exemplar. Alternando os monólogos com Pascoal da Conceição, os atores Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz (Grupo Galpão), Rodrigo Fregnan e Ando Camargo são, no momento, parte do melhor da nova geração dos palcos. Criam um clima de fornalha com uma brecha para a autocrítica da platéia. Serão apenas aqueles indivíduos os únicos cruéis?
Jefferson Del Rios
(Caderno 2, do Estadão)
A necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer. E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana. Gabriel foi na veia - menos é mais, mas o menos dele inclui uma visualização tão forte que aqueles cinco atores, vivendo dez papéis, tornam-se antológicos. Toda tragédia passa pela palavra.
Luiz Carlos Merten,
no site do Estadão
A peça consegue preservar o talento, o frescor e a humanidade com que Drauzio Varella observa o universo sombrio da prisão. Preste atenção em como o espetáculo se diferencia do livro e do filme de Hector Babenco ao apostar no formato de monólogos.
Gabriela Mellão,
revista Bravo!
É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma "pedrada". Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto,
Dicas Culturais (www.menabarreto.com.br)
Cada ator faz dois monólogos e um dos mais tocantes é o do travesti Veronique, interpretado por Rodolfo Vaz.
Gisela Anauate,
revista Época
Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo. Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.
Deolinda Vilhena
(site Terra Magazine)
O trabalho do adaptador Dib Carneiro Neto é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro de Drauzio Varella. Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita. A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas. Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!
Afonso Gentil,
no site Aplauso Brasil
Salmo 91 é uma obra-prima justamente por apresentar fatos sem apontar culpados ou vítimas. Apenas fatos! Afinal, quem é mais assassino: O homem com um revólver ou os homens omissos que brincam com aviões?"
Célia Regina Forte
jornalista e dramaturga
Assisti à peça e o elenco deu um show. O time está tinindo. A adaptação do Dib, por incrível que pareça, trouxe novidade até para mim, que tinha pouca esperança de deparar-me com alguma novidade. Afinal, depois de ler o livro 2 vezes e ver o filme por 5!!!!... Mas, surpresa, Dib fez um trabalho que mostra o quão fértil é o livro do Drauzio. Misturou histórias/personagens, tirou o médico de cena, foi mais "bárbaro" que o médico-humanista que é Dr. Drauzio, abriu espaço nobre para duas travestis com palavreado riquíssimo-barra pesada, etc, etc. Gabriel Villela nadou de braçada.
Maria do Rosário Caetano
(fanzine Almanaquito)
O texto do adaptador Dib Carneiro Neto - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal - encanta o público e flui na boca dos excelentes atores , mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos. Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.
Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação. Um dos personagens chama minha atenção - "O Velho Valdo" que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.
Pamela Duncan,
jornal Ponto de Vista
Neste espetáculo, não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... É um texto com poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
Alcides Nogueira
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries
"Foi uma surpresa contundente, para mim que sou gato escaldado nas águas do livro do dr. Drauzio Varella, ter assistido à montagem que o Gabriel Villela fez do texto do jornalista Dib Carneiro Neto. Encontrei na minha experiência de espectador uma leitura nova, dinâmica e profunda, que me fez em todo instante me esquecer que um dia, há não muitos anos, eu adaptei da mesma fonte um filme chamado Carandiru."
HECTOR BABENCO, cineasta
(Caderno 2, do Estadão)
"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático."
DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru
(em depoimento para o Caderno 2, do Estadão)
Gabriel Villela despoja a cena, com os cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Ando Camargo, Pedro Henrique Moutinho e Rodolfo Vaz - cara a cara com a platéia, desfiando a crueza de uma humanidade que procura, desesperadamente, se manter sobrevivente. Com citações bíblicas e rituais religiosos, permeados por referências futebolísticas, o diretor cria atmosfera de pungente finitude que, sem maiores artifícios cênicos, deixa o real exposto. Aí é até possível encontrar poesia na miséria existencial."
Macksen Luiz
Jornal do Brasil, 26-7-2007
O espetáculo dirigido com rara sutileza por Gabriel Villela radiografa em dez personagens o universo de mais de uma centena deles. Costuradas por analogias com o futebol, as histórias comovem a platéia pelo tom confessional. Em um dos grandes momentos, Pascoal da Conceição incorpora o sofrimento do filho que não seguiu os conselhos da mãe e morrerá sem ler o salmo citado no título da peça. Longe do estereótipo, o ator se destaca no eficiente elenco. Villela dispensa os excessos habituais de suas direções em nome de um bom texto e bons intérpretes.
Dirceu Alves Jr.,
Veja São Paulo
A suspeita de que o potencial do livro Estação Carandiru estivesse esgotado cai por terra com a peça Salmo 91, em cartaz em São Paulo. Primeiro porque o texto de Dib Carneiro Neto parece ser o que melhor reproduz o grande trunfo da obra: as histórias pessoais, narradas pelos criminosos em tom humanista. A direção madura de Gabriel Villela reduziu esses quadros à sua essência: o ator entra, dirige-se à frente do palco e conta sua vida. Com roupas comuns, algumas manchas de sangue nas pernas e simbólicos objetos de cena, os atores Pascoal da Conceição, Ando Camargo, Rodolfo Vaz, Pedro Moutinho e Rodrigo Fregnan transformam os monólogos em pequenas peças de "canto-falado". É de arrepiar.
Ivan Cláudio,
revista Isto É Gente
Salmo 91 é um espetáculo de dureza total que consegue ser compassivo. Quando a luz do palco se acende em azul tênue e a voz dolorida de Elza Soares inicia O Meu Guri, de Chico Buarque, algo começa a prender a atenção do público; e assim será até o fim. São dez monólogos, dez situações, dez "des-humanidades". O espetáculo não começa: explode pelo talento de Pascoal da Conceição que, amarrado e imóvel, descreve o que foi o massacre e, furioso com o salmo pregado pela mãe, abre as portas do desespero de outros personagens. O equilíbrio com tensão contagia um elenco exemplar. Alternando os monólogos com Pascoal da Conceição, os atores Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz (Grupo Galpão), Rodrigo Fregnan e Ando Camargo são, no momento, parte do melhor da nova geração dos palcos. Criam um clima de fornalha com uma brecha para a autocrítica da platéia. Serão apenas aqueles indivíduos os únicos cruéis?
Jefferson Del Rios
(Caderno 2, do Estadão)
A necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer. E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana. Gabriel foi na veia - menos é mais, mas o menos dele inclui uma visualização tão forte que aqueles cinco atores, vivendo dez papéis, tornam-se antológicos. Toda tragédia passa pela palavra.
Luiz Carlos Merten,
no site do Estadão
A peça consegue preservar o talento, o frescor e a humanidade com que Drauzio Varella observa o universo sombrio da prisão. Preste atenção em como o espetáculo se diferencia do livro e do filme de Hector Babenco ao apostar no formato de monólogos.
Gabriela Mellão,
revista Bravo!
É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma "pedrada". Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto,
Dicas Culturais (www.menabarreto.com.br)
Cada ator faz dois monólogos e um dos mais tocantes é o do travesti Veronique, interpretado por Rodolfo Vaz.
Gisela Anauate,
revista Época
Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo. Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.
Deolinda Vilhena
(site Terra Magazine)
O trabalho do adaptador Dib Carneiro Neto é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro de Drauzio Varella. Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita. A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas. Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!
Afonso Gentil,
no site Aplauso Brasil
Salmo 91 é uma obra-prima justamente por apresentar fatos sem apontar culpados ou vítimas. Apenas fatos! Afinal, quem é mais assassino: O homem com um revólver ou os homens omissos que brincam com aviões?"
Célia Regina Forte
jornalista e dramaturga
Assisti à peça e o elenco deu um show. O time está tinindo. A adaptação do Dib, por incrível que pareça, trouxe novidade até para mim, que tinha pouca esperança de deparar-me com alguma novidade. Afinal, depois de ler o livro 2 vezes e ver o filme por 5!!!!... Mas, surpresa, Dib fez um trabalho que mostra o quão fértil é o livro do Drauzio. Misturou histórias/personagens, tirou o médico de cena, foi mais "bárbaro" que o médico-humanista que é Dr. Drauzio, abriu espaço nobre para duas travestis com palavreado riquíssimo-barra pesada, etc, etc. Gabriel Villela nadou de braçada.
Maria do Rosário Caetano
(fanzine Almanaquito)
O texto do adaptador Dib Carneiro Neto - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal - encanta o público e flui na boca dos excelentes atores , mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos. Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.
Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação. Um dos personagens chama minha atenção - "O Velho Valdo" que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.
Pamela Duncan,
jornal Ponto de Vista
Neste espetáculo, não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... É um texto com poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
Alcides Nogueira
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries
"Foi uma surpresa contundente, para mim que sou gato escaldado nas águas do livro do dr. Drauzio Varella, ter assistido à montagem que o Gabriel Villela fez do texto do jornalista Dib Carneiro Neto. Encontrei na minha experiência de espectador uma leitura nova, dinâmica e profunda, que me fez em todo instante me esquecer que um dia, há não muitos anos, eu adaptei da mesma fonte um filme chamado Carandiru."
HECTOR BABENCO, cineasta
(Caderno 2, do Estadão)
"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático."
DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru
(em depoimento para o Caderno 2, do Estadão)
Carta a um adaptador, por Alcides Nogueira
Caro adaptador,
Você me disse no saguão do teatro do Sesc Santana: a matriz é muito boa! Não... A matriz, realmente, é muito boa, é semente fértil, mas o seu texto é outra obra! Você encontrou a maneira de contar aquela história tão dolorosa, tão horrenda, tão cruel, sem explicitar a dor, nem o horror, nem a crueldade. Para quê? Ela já é um corte fundo. Para quê bolas de fogo, rajadas de metralhadoras, banhos de sangue, ninjas correndo? Para quê? Para quê? para nada... Seu texto, tão sábio e vigoroso, é um cipó que vai nos amarrando àquelas pessoas – nem melhores nem piores que nós – miseravelmente condenadas ao ralo por nossos atos e omissões... Mais que qualquer outra coisa, é essa fratura assepticamente exposta que me detona. Mesmo que eu quisesse, não havia mais como cortar o cipó e me livrar de tudo aquilo. Sou cúmplice! Você armou a peça de tal forma, que não permite essa fuga, não mostra a porta de saída, não fornece um manual de sobrevivência! Você não deixa clarabóia alguma para que surja um pouco de ar, ou um buraco para o sol entrar. Tudo é contado como uma verdade em si, sem maquiagem, sem nada que se possa questionar... Não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... Você não coloca moldura! Você deixa que os relatos entrem em nossas cabeças, de maneira abrupta... não há como barrar suas palavras. Elas têm o mesmo poder do salmo... Mas é um poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... todas as que, com meu medo e conivência, continuarão a existir! Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
ALCIDES NOGUEIRA
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries
Você me disse no saguão do teatro do Sesc Santana: a matriz é muito boa! Não... A matriz, realmente, é muito boa, é semente fértil, mas o seu texto é outra obra! Você encontrou a maneira de contar aquela história tão dolorosa, tão horrenda, tão cruel, sem explicitar a dor, nem o horror, nem a crueldade. Para quê? Ela já é um corte fundo. Para quê bolas de fogo, rajadas de metralhadoras, banhos de sangue, ninjas correndo? Para quê? Para quê? para nada... Seu texto, tão sábio e vigoroso, é um cipó que vai nos amarrando àquelas pessoas – nem melhores nem piores que nós – miseravelmente condenadas ao ralo por nossos atos e omissões... Mais que qualquer outra coisa, é essa fratura assepticamente exposta que me detona. Mesmo que eu quisesse, não havia mais como cortar o cipó e me livrar de tudo aquilo. Sou cúmplice! Você armou a peça de tal forma, que não permite essa fuga, não mostra a porta de saída, não fornece um manual de sobrevivência! Você não deixa clarabóia alguma para que surja um pouco de ar, ou um buraco para o sol entrar. Tudo é contado como uma verdade em si, sem maquiagem, sem nada que se possa questionar... Não há moralismo, julgamento, questionamento... É a dor escorrendo pelas palavras de uma forma tão caudalosa, que não há como ser rotulada... Mais dor? Menos dor? Qual a condição daqueles seres humanos? Ratazanas de um bueiro? Não... não cabe nada disso... Você não coloca moldura! Você deixa que os relatos entrem em nossas cabeças, de maneira abrupta... não há como barrar suas palavras. Elas têm o mesmo poder do salmo... Mas é um poder invertido, que, em vez de invocar graças, revela as desgraças... todas as que, com meu medo e conivência, continuarão a existir! Salmo 91 nos leva novamente para o teatro em sua plenitude: o elo com o sagrado... que não se rompe... o fio de prata que nos liga ao conhecimento.
ALCIDES NOGUEIRA
escritor, dramaturgo e autor de novelas e minisséries
Crítica no jornal Ponto de Vista
Salmo 91 – Um convite Humanista -Para não Esquecer.
Depois da carreira bem-sucedida na literatura (Estação Carandiru,) cinema e na televisão, a obra do médico e escritor Drauzio Varela chega ao teatro. Adaptada por Dib Carneiro Neto, a história é encenada pelo diretor Gabriel Villela.
A obra de Dráuzio Varela é rica em detalhes e sentimentos ocultos, explosivos e comoventes
Segundo texto montado do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, SALMO 91 traz de volta personagens como o malandro Dadá, Nego-Preto, o romântico Charuto, o travesti Zizi Marli, o Bolacha (Sem-Chance), o Véio Valdo, o enfermeiro Edelso, o Zé da Casa Verde e suas duas mulheres, o travesti Veronique, Valente entre outros.Todos sujeitos às normas de controle de comportamento vigentes na instituição na época e a um rígido código penal não escrito, criado pela própria população carcerária. SALMO 91 traz para o teatro essas pessoas tão diferentes de nós, tão iguais a nós: “cidadãos livres”. A peça leva para os palcos crônicas fascinantes sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento. Desvenda também os mistérios da vida no cárcere, a forma de os presos se organizarem, os códigos de conduta, a hierarquia dentro da cadeia.
A obra de Dib Carneiro marca a paixão que o adaptador sentiu ao ler a obra de Varella.
O texto de Carneiro - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal encanta o público e flui na boca dos excelentes atores mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos.
Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.
Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação.
Um dos personagens chama minha atenção - “O Velho Valdo” que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.
Vale a pena assistir a este espetáculo por inúmeras razões:
- Para não nos esquecermos do que aconteceu;
- Para sentir que as pessoas que por alguma razão estão confinadas, são tão iguais e humanas com qualquer ser a quem amamos;
- Pela montagem despretensiosa, baseada simplesmente na arte da representação.
- E pela feliz conjunção de atores técnicos ,diretores e profissionais envolvidos.
Cotação: Bom
Pamela Duncan-
Ponto de vista-jornais associados
www.jbajornaisassociados.com.br- pameladuncan_@hotmail.com
www.duncan-puebla.ato.br
Temporadas
Teatro Oficina
Estréia dia 30/08 até 23/9 sexta e sábado, 21h30, domingo 19 h. R$ 20.
Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista;
Sesc Santo André
Rua Tamarutaca, 302, Santo André
Dias 29 e 30/09. Sábado, às 20hs. Domingo, às 19hs;
Depois da carreira bem-sucedida na literatura (Estação Carandiru,) cinema e na televisão, a obra do médico e escritor Drauzio Varela chega ao teatro. Adaptada por Dib Carneiro Neto, a história é encenada pelo diretor Gabriel Villela.
A obra de Dráuzio Varela é rica em detalhes e sentimentos ocultos, explosivos e comoventes
Segundo texto montado do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, SALMO 91 traz de volta personagens como o malandro Dadá, Nego-Preto, o romântico Charuto, o travesti Zizi Marli, o Bolacha (Sem-Chance), o Véio Valdo, o enfermeiro Edelso, o Zé da Casa Verde e suas duas mulheres, o travesti Veronique, Valente entre outros.Todos sujeitos às normas de controle de comportamento vigentes na instituição na época e a um rígido código penal não escrito, criado pela própria população carcerária. SALMO 91 traz para o teatro essas pessoas tão diferentes de nós, tão iguais a nós: “cidadãos livres”. A peça leva para os palcos crônicas fascinantes sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento. Desvenda também os mistérios da vida no cárcere, a forma de os presos se organizarem, os códigos de conduta, a hierarquia dentro da cadeia.
A obra de Dib Carneiro marca a paixão que o adaptador sentiu ao ler a obra de Varella.
O texto de Carneiro - maduro, consciente, e desprovido de qualquer sentimentalismo banal encanta o público e flui na boca dos excelentes atores mostrando riqueza idiomática e conhecimento da gíria pertinente de cada personagem, que valoriza ainda mais cada cena e palavra dos monólogos.
Gabriel Villela, diretor inteligente, experiente, concebe uma montagem despojada, nua, emocional - feliz parceria desses artistas que envolvem a platéia no sentimento de cumplicidade com aqueles já condenados em vida.
Meu destaque na peça é para os atores - em especial Pascoal da Conceição, que recebe como presente dois personagens fascinantes e nos presenteia, a cada cena, com uma aula de interpretação.
Um dos personagens chama minha atenção - “O Velho Valdo” que, no melhor estilo de Grotowsky, exigiu do ator a sua entrega incondicional, transformando-se num velho de 70 anos, despido de maquiagem, figurinos, munido unicamente de sua arte para nos deliciar.
Vale a pena assistir a este espetáculo por inúmeras razões:
- Para não nos esquecermos do que aconteceu;
- Para sentir que as pessoas que por alguma razão estão confinadas, são tão iguais e humanas com qualquer ser a quem amamos;
- Pela montagem despretensiosa, baseada simplesmente na arte da representação.
- E pela feliz conjunção de atores técnicos ,diretores e profissionais envolvidos.
Cotação: Bom
Pamela Duncan-
Ponto de vista-jornais associados
www.jbajornaisassociados.com.br- pameladuncan_@hotmail.com
www.duncan-puebla.ato.br
Temporadas
Teatro Oficina
Estréia dia 30/08 até 23/9 sexta e sábado, 21h30, domingo 19 h. R$ 20.
Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista;
Sesc Santo André
Rua Tamarutaca, 302, Santo André
Dias 29 e 30/09. Sábado, às 20hs. Domingo, às 19hs;
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Recomendada no site Dicas Culturais
Salmo 91, recomendada no site Dicas Culturais
O massacre do Carandiru, onde morreram 111 presos em 1992, já virou filme, peças e outras instalações culturais. Quando parecia que não cabia mais nada a respeito, eis que nos aparece Salmo 91, de Dib Carneiro Neto, que também se baseia no livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru. É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma “pedrada”. Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto (Brasileiro, executivo e consultor de empresas, residente em
São Paulo) e Ana Luisa Oliveira (Brasileira, jornalista, residente em São Paulo).
Serviço: Teatro Oficina (350 lugares) Tel. 3106-2818 - Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista - Centro - Sexta e sábado, 21h30; domingo, 19h.. R$ 20,00. Até 23 de Setembro.
O massacre do Carandiru, onde morreram 111 presos em 1992, já virou filme, peças e outras instalações culturais. Quando parecia que não cabia mais nada a respeito, eis que nos aparece Salmo 91, de Dib Carneiro Neto, que também se baseia no livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru. É simplesmente espetacular. A peça é dirigida por Gabriel Villela e nos apresenta um elenco afiadíssimo. As histórias comovem a platéia pelo tom confessional e são, como costumo dizer, uma “pedrada”. Num palco praticamente limpo, com os próprios atores carregando os poucos elementos cênicos, vê-se em dez personagens, um pouco do universo de dezenas de histórias reais que aparecem no livro. Imperdível.
Por Sérgio Mena Barreto (Brasileiro, executivo e consultor de empresas, residente em
São Paulo) e Ana Luisa Oliveira (Brasileira, jornalista, residente em São Paulo).
Serviço: Teatro Oficina (350 lugares) Tel. 3106-2818 - Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista - Centro - Sexta e sábado, 21h30; domingo, 19h.. R$ 20,00. Até 23 de Setembro.
5 perguntas de Drauzio Varella para o diretor Gabriel Villela
DE VARELLA PARA VILLELA
Drauzio Varella - Você montou espetáculos com detalhes cênicos minuciosos, com cenários e detalhes distribuídos pelo palco com o requinte do barroco das igrejas mineiras, como elogiam seus colegas. O que o levou a criar pela primeira vez um espetáculo tão despojado?
Gabriel Villela - Acho que a gravidade do tema, a proximidade histórica da chacina, a minha dificuldade pessoal em lidar estritamente com fatos reais, levaram-me a um reposicionamento estético. Assim estou eu; meio contrário de mim.
Drauzio - Quando li o texto do Dib pela primeira vez, confesso que tive dificuldade de ver uma montagem teatral a partir daqueles monólogos. Já na primeira leitura você teve a impressão contrária?Gabriel - Tive. Inicialmente o que me chamou a atenção foi esta peculiaridade dramática: um monólogo não é tarefa fácil para nenhuma pessoa de teatro encarar. Imagina então dez!? É uma provocação fascinante e irresistível.Tive dificuldade em lidar com um texto realista.
Drauzio - Nenhuma de suas peças anteriores abordou a questão da violência urbana. O que o levou a aceitar o desafio de dirigir um espetáculo com temática tão diversa de seu repertório artístico anterior?Gabriel - Quando o texto do Dib chegou às minhas mãos, eu tinha acabado de ler dois livros de Imre Kertész: A Língua Exilada e Liquidação. Encontrava-me arrebatado, por suas considerações e idéias sobre Auschwitz. No livro Liquidação, lá pelas tantas, uma personagem diz (gritado!) para outra: ''''Auschwitz nunca existiu! Eu estava lá! Eu vi.'''' Lembrei de imediato, embora as circunstâncias fossem outras, do impressionante desespero do presidiário Dadá, que abre e fecha a peça, tentando encontrar palavras para traduzir a Chacina do Carandiru. Em quase toda peça de teatro há uma dose de violência (urbana, ou não), que caracteriza o gênero. Tratei desse assunto, até então, sempre de forma tão metafórica, alegórica. Compreendi que era a minha hora de tocar no tema concretamente. Imre Kertész impressionou-me pela violência em Auschwitz. Drauzio Varella, Hector Babenco e Dib Carneiro Neto, pela violência do sistema carcerário brasileiro. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Ando Camargo, Rodrigo Fregnan e Rodolfo Vaz (o elenco) comoveram-me às lágrimas, pela visceralidade dramática e delicadeza d''''alma com que interpretam os personagens tão violentos, nervosos, cômicos, trágicos que compõem essas dez crônicas de confinamento.
Drauzio - Na cena inicial, o prisioneiro aparece atado com tiras de pano. Nos painéis laterais do cenário é possível ver a imagem de Prometeu acorrentado. Qual a analogia?
Gabriel - Ésquilo reinterpretou alguns mitos gregos para legitimar uma nova ordem social. Através de seus personagens, tratou de destinos coletivos, mas buscou ênfase e relevo para o indivíduo. Fez de Prometeu um símbolo da condição humana. Agrilhoado, condenado à imobilidade e à dor, seu verbo se sobrepõe à ação. Dadá, o nosso protagonista/sobrevivente, que relata o massacre no Salmo 91, brada sua cólera e indignação amarrado por uma ''''tereza''''(corda tradicionalmente usada em cadeias para fugas e enforcamentos) aproximando épocas, combinando estilos, irmanando seu solilóquio dramático ao canto trágico de Prometeu acorrentado.
Drauzio - Em que medida Salmo 91 se transforma com a mudança do Sesc Santana para o Oficina?Gabriel - O espetáculo foi concebido para palco italiano. Ao transportá-lo para a geografia interna do Oficina, uma enorme passarela com duas platéias margeando a pista, ele ganha contornos míticos, delicados. Fica lá, assim, no meio do desfile, como um carro alegórico quebrado. O que evolui é a voz do ator-mestre-sala e o verbo da personagem-porta-bandeira.
Salmo 91. 100 min. 14 anos. Teatro Oficina (350 lug.). Rua Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 3106-2818. 6ª e sáb., 21h30; dom., 19h. R$ 20. Até 23/9
Drauzio Varella - Você montou espetáculos com detalhes cênicos minuciosos, com cenários e detalhes distribuídos pelo palco com o requinte do barroco das igrejas mineiras, como elogiam seus colegas. O que o levou a criar pela primeira vez um espetáculo tão despojado?
Gabriel Villela - Acho que a gravidade do tema, a proximidade histórica da chacina, a minha dificuldade pessoal em lidar estritamente com fatos reais, levaram-me a um reposicionamento estético. Assim estou eu; meio contrário de mim.
Drauzio - Quando li o texto do Dib pela primeira vez, confesso que tive dificuldade de ver uma montagem teatral a partir daqueles monólogos. Já na primeira leitura você teve a impressão contrária?Gabriel - Tive. Inicialmente o que me chamou a atenção foi esta peculiaridade dramática: um monólogo não é tarefa fácil para nenhuma pessoa de teatro encarar. Imagina então dez!? É uma provocação fascinante e irresistível.Tive dificuldade em lidar com um texto realista.
Drauzio - Nenhuma de suas peças anteriores abordou a questão da violência urbana. O que o levou a aceitar o desafio de dirigir um espetáculo com temática tão diversa de seu repertório artístico anterior?Gabriel - Quando o texto do Dib chegou às minhas mãos, eu tinha acabado de ler dois livros de Imre Kertész: A Língua Exilada e Liquidação. Encontrava-me arrebatado, por suas considerações e idéias sobre Auschwitz. No livro Liquidação, lá pelas tantas, uma personagem diz (gritado!) para outra: ''''Auschwitz nunca existiu! Eu estava lá! Eu vi.'''' Lembrei de imediato, embora as circunstâncias fossem outras, do impressionante desespero do presidiário Dadá, que abre e fecha a peça, tentando encontrar palavras para traduzir a Chacina do Carandiru. Em quase toda peça de teatro há uma dose de violência (urbana, ou não), que caracteriza o gênero. Tratei desse assunto, até então, sempre de forma tão metafórica, alegórica. Compreendi que era a minha hora de tocar no tema concretamente. Imre Kertész impressionou-me pela violência em Auschwitz. Drauzio Varella, Hector Babenco e Dib Carneiro Neto, pela violência do sistema carcerário brasileiro. Pascoal da Conceição, Pedro Henrique Moutinho, Ando Camargo, Rodrigo Fregnan e Rodolfo Vaz (o elenco) comoveram-me às lágrimas, pela visceralidade dramática e delicadeza d''''alma com que interpretam os personagens tão violentos, nervosos, cômicos, trágicos que compõem essas dez crônicas de confinamento.
Drauzio - Na cena inicial, o prisioneiro aparece atado com tiras de pano. Nos painéis laterais do cenário é possível ver a imagem de Prometeu acorrentado. Qual a analogia?
Gabriel - Ésquilo reinterpretou alguns mitos gregos para legitimar uma nova ordem social. Através de seus personagens, tratou de destinos coletivos, mas buscou ênfase e relevo para o indivíduo. Fez de Prometeu um símbolo da condição humana. Agrilhoado, condenado à imobilidade e à dor, seu verbo se sobrepõe à ação. Dadá, o nosso protagonista/sobrevivente, que relata o massacre no Salmo 91, brada sua cólera e indignação amarrado por uma ''''tereza''''(corda tradicionalmente usada em cadeias para fugas e enforcamentos) aproximando épocas, combinando estilos, irmanando seu solilóquio dramático ao canto trágico de Prometeu acorrentado.
Drauzio - Em que medida Salmo 91 se transforma com a mudança do Sesc Santana para o Oficina?Gabriel - O espetáculo foi concebido para palco italiano. Ao transportá-lo para a geografia interna do Oficina, uma enorme passarela com duas platéias margeando a pista, ele ganha contornos míticos, delicados. Fica lá, assim, no meio do desfile, como um carro alegórico quebrado. O que evolui é a voz do ator-mestre-sala e o verbo da personagem-porta-bandeira.
Salmo 91. 100 min. 14 anos. Teatro Oficina (350 lug.). Rua Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 3106-2818. 6ª e sáb., 21h30; dom., 19h. R$ 20. Até 23/9
5 perguntas de Gabriel Villela para Drauzio Varella
DE VILLELA PARA VARELLA
Gabriel Villela - Bem poucos livros brasileiros recentes atraíram tanto e tão imediatamente o interesse de adaptadores. Estação Carandiru já foi para a TV, o cinema e o teatro. Por que esse tema da clausura atrai tanto as artes? E de que forma cada uma dessas adaptações contribuiu para a difusão das idéias do livro?Drauzio Varella - A Casa de Detenção era um sistema fechado em que viviam mais de 7 mil prisioneiros, visíveis apenas nas tragédias das grandes rebeliões. Se esse caldeirão sujeito a explosões periódicas assustava a cidade, contraditoriamente despertava a curiosidade de todos. Quem seriam aqueles homens?Que leis regeriam seu comportamento? No livro, procurei descrever o ambiente da cadeia, seus personagens, o código penal não-escrito, a rigidez das leis internas e as paixões humanas daquele universo. Tenho a impressão de que o interesse em levar o texto para cinema, teatro e TV veio da ausência de juízo de valores que conferiu dramaticidade ao relato.
Gabriel - Você está há quase um ano trabalhando na penitenciária feminina de São Paulo. É possível estabelecer diferenças no seu trabalho em relação ao presídio masculino?
Drauzio - Um ano é período insignificante para penetrar o universo de um presídio. Ainda mais quando se trata de uma cadeia com cerca de 3 mil mulheres. As leis que regem a conduta parecem semelhantes, mas são muito diferentes das masculinas. Como ao homem é cara a obediência à hierarquia, fica fácil entender as relações de domínio e submissão, a estrutura das coalizões e da organização dos grupos na disputa pelo poder. Embora também exista hierarquia entre as mulheres prisioneiras, não se percebe a mesma linearidade. As relações são mais complexas porque as mulheres funcionam em rede. Apesar de muitas vezes dar a impressão contrária, a mulher é sobretudo contestadora e avessa à submissão hierárquica. Para complicar ainda mais, há a questão sexual: enquanto a homossexualidade masculina denigre socialmente a imagem do homem, a feminina é adotada com naturalidade pelas presas.
Gabriel - Salmo 91 concentra, em seus dez monólogos, muito mais do que apenas dez personagens do seu livro. Como você convive com essa síntese? E de qual dos personagens da peça, você sente mais saudades?
Drauzio - O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático. Ao assistir o espetáculo fiquei com a impressão esquizofrênica de que estava vendo um texto meu e, ao mesmo tempo, outro muito melhor. Quanto ao personagem de que mais me emocionou foi o do Velho Valdo. Primeiro porque lembrei do homem, depois porque a interpretação do Pascoal da Conceição é das mais tocantes que já vi nos palcos.
Gabriel - Como escreveu Dostoievski, em Recordação da Casa dos Mortos, ''''os médicos representam, para os prisioneiros, autênticos refúgios, e nunca estabelecem diferença alguma entre um condenado e um civil''''. Como você avalia hoje, passados tantos anos, a sua atuação/missão/contribuição de médico voluntário dentro do Carandiru? Houve momentos de preconceito seu, na relação com os criminosos?Drauzio - É sempre difícil avaliar experiências que mudam o destino de quem as viveu. Cheguei à Casa de Detenção em 1989, e nunca mais consegui sair das cadeias. É lógico que poderia parar com esse trabalho - talvez fosse até mais sensato -, mas acho que não suportaria a falta de convivência com o barulho das portas de ferro, com os doentes atendidos à moda antiga só com um estetoscópio e me afastar dos agentes penitenciários com os quais me reúno a cada 15 dias para tomar cerveja e contar histórias de cadeia. Se o fizesse, meus horizontes se tornariam mais previsíveis, minha existência mais medíocre. Quanto à frase de Dostoievski, acho que ele foi ingênuo ou deve ter conhecido na Sibéria médicos mais altruístas do que eu. Mais de uma vez tive preconceito contra um preso e fiquei chocado com as perversidades cometidas entre eles. Diante de um corpo esfaqueado mais de 50 vezes, nunca deixei de me revoltar contra a sanha assassina dos que praticaram tal ato.
Gabriel - Houve um período, durante a temporada de Salmo 91 no Sesc, em que uma polêmica se instalou, porque certos setores da sociedade temem o que chamam de ''''apologia do crime'''' no mundo das artes. Em outros momentos da história do País, geralmente diante de algum crime hediondo, até intelectuais de esquerda repensam a pena de morte. Na sua avaliação, qual foi a contribuição de Estação Carandiru para esse debate? E por que o Brasil ainda repete, em tantos outros presídios, os mesmos erros e a mesma falta de humanismo do Carandiru?Drauzio - Mesmo o mais despreparado espectador notará que a peça mostra ladrões, estelionatários e assassinos contando histórias pessoais no centro do palco. Em nenhum momento pretende defender ninguém ou fazer apologia do crime. Acho que essas reações acontecem porque o tema toca no cerne da questão da violência urbana. Gostemos ou não, o pior assassino sente medo, amor pela mãe, alegria, tristeza, tédio, saudades. O fato de o escritor descrever e o ator interpretar as agruras vividas por esse homem não significa justificar seus crimes, muito menos defender a impunidade. No Brasil, o sistema penitenciário continua desumano e repete os erros do Carandiru, por uma simples razão: quem tem dinheiro não vai preso. Quando motoristas bêbados, estelionatários do sistema financeiro, empresários corruptos forem para a cadeia em companhia de deputados, senadores, ministros e juízes ladrões, o sistema se humanizará.
Gabriel Villela - Bem poucos livros brasileiros recentes atraíram tanto e tão imediatamente o interesse de adaptadores. Estação Carandiru já foi para a TV, o cinema e o teatro. Por que esse tema da clausura atrai tanto as artes? E de que forma cada uma dessas adaptações contribuiu para a difusão das idéias do livro?Drauzio Varella - A Casa de Detenção era um sistema fechado em que viviam mais de 7 mil prisioneiros, visíveis apenas nas tragédias das grandes rebeliões. Se esse caldeirão sujeito a explosões periódicas assustava a cidade, contraditoriamente despertava a curiosidade de todos. Quem seriam aqueles homens?Que leis regeriam seu comportamento? No livro, procurei descrever o ambiente da cadeia, seus personagens, o código penal não-escrito, a rigidez das leis internas e as paixões humanas daquele universo. Tenho a impressão de que o interesse em levar o texto para cinema, teatro e TV veio da ausência de juízo de valores que conferiu dramaticidade ao relato.
Gabriel - Você está há quase um ano trabalhando na penitenciária feminina de São Paulo. É possível estabelecer diferenças no seu trabalho em relação ao presídio masculino?
Drauzio - Um ano é período insignificante para penetrar o universo de um presídio. Ainda mais quando se trata de uma cadeia com cerca de 3 mil mulheres. As leis que regem a conduta parecem semelhantes, mas são muito diferentes das masculinas. Como ao homem é cara a obediência à hierarquia, fica fácil entender as relações de domínio e submissão, a estrutura das coalizões e da organização dos grupos na disputa pelo poder. Embora também exista hierarquia entre as mulheres prisioneiras, não se percebe a mesma linearidade. As relações são mais complexas porque as mulheres funcionam em rede. Apesar de muitas vezes dar a impressão contrária, a mulher é sobretudo contestadora e avessa à submissão hierárquica. Para complicar ainda mais, há a questão sexual: enquanto a homossexualidade masculina denigre socialmente a imagem do homem, a feminina é adotada com naturalidade pelas presas.
Gabriel - Salmo 91 concentra, em seus dez monólogos, muito mais do que apenas dez personagens do seu livro. Como você convive com essa síntese? E de qual dos personagens da peça, você sente mais saudades?
Drauzio - O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático. Ao assistir o espetáculo fiquei com a impressão esquizofrênica de que estava vendo um texto meu e, ao mesmo tempo, outro muito melhor. Quanto ao personagem de que mais me emocionou foi o do Velho Valdo. Primeiro porque lembrei do homem, depois porque a interpretação do Pascoal da Conceição é das mais tocantes que já vi nos palcos.
Gabriel - Como escreveu Dostoievski, em Recordação da Casa dos Mortos, ''''os médicos representam, para os prisioneiros, autênticos refúgios, e nunca estabelecem diferença alguma entre um condenado e um civil''''. Como você avalia hoje, passados tantos anos, a sua atuação/missão/contribuição de médico voluntário dentro do Carandiru? Houve momentos de preconceito seu, na relação com os criminosos?Drauzio - É sempre difícil avaliar experiências que mudam o destino de quem as viveu. Cheguei à Casa de Detenção em 1989, e nunca mais consegui sair das cadeias. É lógico que poderia parar com esse trabalho - talvez fosse até mais sensato -, mas acho que não suportaria a falta de convivência com o barulho das portas de ferro, com os doentes atendidos à moda antiga só com um estetoscópio e me afastar dos agentes penitenciários com os quais me reúno a cada 15 dias para tomar cerveja e contar histórias de cadeia. Se o fizesse, meus horizontes se tornariam mais previsíveis, minha existência mais medíocre. Quanto à frase de Dostoievski, acho que ele foi ingênuo ou deve ter conhecido na Sibéria médicos mais altruístas do que eu. Mais de uma vez tive preconceito contra um preso e fiquei chocado com as perversidades cometidas entre eles. Diante de um corpo esfaqueado mais de 50 vezes, nunca deixei de me revoltar contra a sanha assassina dos que praticaram tal ato.
Gabriel - Houve um período, durante a temporada de Salmo 91 no Sesc, em que uma polêmica se instalou, porque certos setores da sociedade temem o que chamam de ''''apologia do crime'''' no mundo das artes. Em outros momentos da história do País, geralmente diante de algum crime hediondo, até intelectuais de esquerda repensam a pena de morte. Na sua avaliação, qual foi a contribuição de Estação Carandiru para esse debate? E por que o Brasil ainda repete, em tantos outros presídios, os mesmos erros e a mesma falta de humanismo do Carandiru?Drauzio - Mesmo o mais despreparado espectador notará que a peça mostra ladrões, estelionatários e assassinos contando histórias pessoais no centro do palco. Em nenhum momento pretende defender ninguém ou fazer apologia do crime. Acho que essas reações acontecem porque o tema toca no cerne da questão da violência urbana. Gostemos ou não, o pior assassino sente medo, amor pela mãe, alegria, tristeza, tédio, saudades. O fato de o escritor descrever e o ator interpretar as agruras vividas por esse homem não significa justificar seus crimes, muito menos defender a impunidade. No Brasil, o sistema penitenciário continua desumano e repete os erros do Carandiru, por uma simples razão: quem tem dinheiro não vai preso. Quando motoristas bêbados, estelionatários do sistema financeiro, empresários corruptos forem para a cadeia em companhia de deputados, senadores, ministros e juízes ladrões, o sistema se humanizará.
Crítica de Deolinda Vilhena
Salmo 91, mais um espetáculo do "Anjo" Gabriel
Sexta, 27 de julho de 2007, 08h01
Deolinda Vilhena, para o site Terra Magazine
Gabriel Villela escolheu cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo - para interpretarem os dez personagens que através de dez monólogos contam a história das vidas vividas dentro daquela que foi a maior penitenciária desse país, o Carandiru.
Salmo 91, a adaptação de Dib Carneiro Neto, do best-seller de Drauzio Varella, Estação Carandiru, coloca diante de nós "crônicas sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento" que obrigaram Gabriel Villela, na direção e na criação dos cenários e dos figurinos, a abrir mão de sua natureza, mineiramente e deliciosamente, barroca.
Ainda que o cenário, composto por um palco nu transformado em corredor do Pavilhão 9 - onde foi deflagrada a briga que originou o massacre - com portas ao fundo, indique uma estética realista, a peça parece fugir do realismo. Algo parece avisar, o tempo todo, que estamos no teatro, o público ri muito, um riso nervoso e exala no ar a incômoda sensação de ser um espectador privilegiado da história e do cotidiano desses personagens, ou seria melhor dizer dessas pessoas?
Procuro e não encontro, o Gabriel Villela dos espetáculos anteriores. Desde que vi A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca, com Regina Duarte interpretando o príncipe Segismundo o elegi meu diretor predileto.
Um dos meus espetáculos inesquecíveis é a encenação de Gabriel da adaptação para a rua de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Marco dos anos 90 que tive a ocasião de assistir várias vezes em condições diferentes, no Teatro João Caetano e na Praia do Arpoador. Imaginem o que foi esse espetáculo num final de tarde de sol numa das mais bonitas praias cariocas.
O que dizer de A Rua da Amargura? A bela parceria do Gabriel com o Grupo Galpão fez desse texto de Eduardo Garrido, que explora os ritos da Semana Santa nos circos-teatros, um espetáculo deslumbrante. Assisti meu último Gabriel Villela, em 1995, no teatro do SESC Copacabana, A torre de Babel, de Fernando Arrabal com Marieta Severo.
Posso compreender que Dib Carneiro Neto se sinta honrado por ter sua peça dirigida por Gabriel Villela: "É um diretor que faz parte da minha paixão pelo teatro. Ele é um diretor expansivo, efervescente, fervilhante de idéias - e percebi logo que nada do que ele faz em cena é viagem inconseqüente e puramente delirante, tudo é resultado de muito estudo, muito afinco, muita leitura prévia com os atores, muito embasamento teórico. Por exemplo: de cara, ele conseguiu enxergar em meus monólogos, dez arquétipos, dez figuras-chave do universo das tragédias gregas. Fiquei fascinado por seu nível de compreensão do texto, pela qualidade de sua interpretação daquilo que escrevi. Ele sabe o que quer, ele sabe o que faz e usa sua criatividade com a segurança de um verdadeiro artista".
Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, normal, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo.
Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas continua sendo o meu diretor favorito, se os cenários e os figurinos mudaram, o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.
"Mil cairão à sua direita, e dez mil à sua esquerda, mas a ti nada acontecerá, nada te atingirá", diz o sobrevivente Dadá, citando o Salmo 91 que dá nome a peça e que, em meio a atual situação desse país, deveria ser o mantra do povo brasileiro. Afinal, Gabriel Villela não exagera ao dizer que "a bandeira do Brasil nasceu verde e está morrendo vermelha. O sangue e a barbárie são as imagens que traduzem o Brasil."
PS - Ao começar a escrever a coluna fui informada pela assessoria de imprensa do espetáculo dos problemas, ocorridos na sessão de sábado, decorrentes de uma acusação de que a peça faria apologia ao crime. Lamento a existência de pessoas incapazes de compreender que ao dar voz aos presos, ao humanizá-los, não é o crime que se defende, mas o direito de todo ser humano a uma segunda chance.
Registro aqui meu apoio a todo o elenco e a equipe técnica de Salmo 91. No blog do espetáculo www.salmocarandiru.blogspot.com há um texto de Maria Adelaide Amaral a respeito do ocorrido, que me faz pensar que nem tudo está perdido, "apesar de D. Karina e seus skinheads, achei muito legal o teatro voltar a mobilizar as pessoas. Significa que ele incomoda e subverte, dá conta da sua importância num momento em que o teatro deixou de ter a importância que teve nos anos 60 e 70. Salmo 91 teve seu momento de Roda-Viva, sem as agressões físicas e depredações, porque afinal o público se mobilizou e as instituições bem ou mal garantem o exercício da democracia".
Deolinda Vilhena é jornalista, produtora cultural, mestre em Artes pela ECA-USP, mestre e Doutora em Estudos Teatrais pela Sorbonne Nouvelle-Paris III
Sexta, 27 de julho de 2007, 08h01
Deolinda Vilhena, para o site Terra Magazine
Gabriel Villela escolheu cinco atores - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo - para interpretarem os dez personagens que através de dez monólogos contam a história das vidas vividas dentro daquela que foi a maior penitenciária desse país, o Carandiru.
Salmo 91, a adaptação de Dib Carneiro Neto, do best-seller de Drauzio Varella, Estação Carandiru, coloca diante de nós "crônicas sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento" que obrigaram Gabriel Villela, na direção e na criação dos cenários e dos figurinos, a abrir mão de sua natureza, mineiramente e deliciosamente, barroca.
Ainda que o cenário, composto por um palco nu transformado em corredor do Pavilhão 9 - onde foi deflagrada a briga que originou o massacre - com portas ao fundo, indique uma estética realista, a peça parece fugir do realismo. Algo parece avisar, o tempo todo, que estamos no teatro, o público ri muito, um riso nervoso e exala no ar a incômoda sensação de ser um espectador privilegiado da história e do cotidiano desses personagens, ou seria melhor dizer dessas pessoas?
Procuro e não encontro, o Gabriel Villela dos espetáculos anteriores. Desde que vi A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca, com Regina Duarte interpretando o príncipe Segismundo o elegi meu diretor predileto.
Um dos meus espetáculos inesquecíveis é a encenação de Gabriel da adaptação para a rua de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Marco dos anos 90 que tive a ocasião de assistir várias vezes em condições diferentes, no Teatro João Caetano e na Praia do Arpoador. Imaginem o que foi esse espetáculo num final de tarde de sol numa das mais bonitas praias cariocas.
O que dizer de A Rua da Amargura? A bela parceria do Gabriel com o Grupo Galpão fez desse texto de Eduardo Garrido, que explora os ritos da Semana Santa nos circos-teatros, um espetáculo deslumbrante. Assisti meu último Gabriel Villela, em 1995, no teatro do SESC Copacabana, A torre de Babel, de Fernando Arrabal com Marieta Severo.
Posso compreender que Dib Carneiro Neto se sinta honrado por ter sua peça dirigida por Gabriel Villela: "É um diretor que faz parte da minha paixão pelo teatro. Ele é um diretor expansivo, efervescente, fervilhante de idéias - e percebi logo que nada do que ele faz em cena é viagem inconseqüente e puramente delirante, tudo é resultado de muito estudo, muito afinco, muita leitura prévia com os atores, muito embasamento teórico. Por exemplo: de cara, ele conseguiu enxergar em meus monólogos, dez arquétipos, dez figuras-chave do universo das tragédias gregas. Fiquei fascinado por seu nível de compreensão do texto, pela qualidade de sua interpretação daquilo que escrevi. Ele sabe o que quer, ele sabe o que faz e usa sua criatividade com a segurança de um verdadeiro artista".
Ao sair do teatro tinha a sensação de ter visto teatro. Coisa rara nos dias de hoje. Uma peça da qual não se sai impune. Penso no Véio Valdo, momento sublime de Pascoal da Conceição, e dias depois repito sozinha "num tô louco, eu tô é oco". A frase não sai da minha cabeça, normal, posto que a palavra é a verdadeira arma do espetáculo.
Gabriel Villela enveredou por um caminho diferente daquele ao qual ele havia acostumado seus admiradores, mas continua sendo o meu diretor favorito, se os cenários e os figurinos mudaram, o trabalho realizado com os atores continua um dos pontos altos do seu trabalho. Um espetáculo surpreendente, digno de ser visto. E revisto.
"Mil cairão à sua direita, e dez mil à sua esquerda, mas a ti nada acontecerá, nada te atingirá", diz o sobrevivente Dadá, citando o Salmo 91 que dá nome a peça e que, em meio a atual situação desse país, deveria ser o mantra do povo brasileiro. Afinal, Gabriel Villela não exagera ao dizer que "a bandeira do Brasil nasceu verde e está morrendo vermelha. O sangue e a barbárie são as imagens que traduzem o Brasil."
PS - Ao começar a escrever a coluna fui informada pela assessoria de imprensa do espetáculo dos problemas, ocorridos na sessão de sábado, decorrentes de uma acusação de que a peça faria apologia ao crime. Lamento a existência de pessoas incapazes de compreender que ao dar voz aos presos, ao humanizá-los, não é o crime que se defende, mas o direito de todo ser humano a uma segunda chance.
Registro aqui meu apoio a todo o elenco e a equipe técnica de Salmo 91. No blog do espetáculo www.salmocarandiru.blogspot.com há um texto de Maria Adelaide Amaral a respeito do ocorrido, que me faz pensar que nem tudo está perdido, "apesar de D. Karina e seus skinheads, achei muito legal o teatro voltar a mobilizar as pessoas. Significa que ele incomoda e subverte, dá conta da sua importância num momento em que o teatro deixou de ter a importância que teve nos anos 60 e 70. Salmo 91 teve seu momento de Roda-Viva, sem as agressões físicas e depredações, porque afinal o público se mobilizou e as instituições bem ou mal garantem o exercício da democracia".
Deolinda Vilhena é jornalista, produtora cultural, mestre em Artes pela ECA-USP, mestre e Doutora em Estudos Teatrais pela Sorbonne Nouvelle-Paris III
ORIENTE-SE PARA IR VER 'SALMO 91' NO OFICINA
SALMO 91
Teatro Oficina - Rua Jaceguai, 520.
De 31 de agosto a 23 de setembro de 2007, sextas às 21h30, sábados, às 21h30; domingos às 19h. . Bilheteria - 3106.2818. Abre uma hora antes do espetáculo. Não aceita cartão Administração - 3106.5300.
Autor - Dib Carneiro Neto, adaptador da obra de Drauzio Varella.
Elenco - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo.
Direção - Gabriel Villela. Cenografia - Gabriel Villela. Figurinos - Gabriel Villela. Assistentes de direção - Gustavo Wabner e o Cacá Toledo. Trilha Sonora - Tunica. Desenho de Luz - Domingos Quintiliano. Produção - Claudio Fontana.
Ingressos - R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (+ 60 anos / estudante / prof. rede pública) Duração: 100 minutos. Censura - 14 anos. Capacidade do teatro - 230 lugares. Assessoria de Imprensa : ARTEPLURAL - Fernanda Teixeira (11) 3885-3671 - 9948-5355 arteplu@uol.com.br www.artepluralweb.com.br
Teatro Oficina - Rua Jaceguai, 520.
De 31 de agosto a 23 de setembro de 2007, sextas às 21h30, sábados, às 21h30; domingos às 19h. . Bilheteria - 3106.2818. Abre uma hora antes do espetáculo. Não aceita cartão Administração - 3106.5300.
Autor - Dib Carneiro Neto, adaptador da obra de Drauzio Varella.
Elenco - Pascoal da Conceição, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo.
Direção - Gabriel Villela. Cenografia - Gabriel Villela. Figurinos - Gabriel Villela. Assistentes de direção - Gustavo Wabner e o Cacá Toledo. Trilha Sonora - Tunica. Desenho de Luz - Domingos Quintiliano. Produção - Claudio Fontana.
Ingressos - R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (+ 60 anos / estudante / prof. rede pública) Duração: 100 minutos. Censura - 14 anos. Capacidade do teatro - 230 lugares. Assessoria de Imprensa : ARTEPLURAL - Fernanda Teixeira (11) 3885-3671 - 9948-5355 arteplu@uol.com.br www.artepluralweb.com.br
Três depoimentos de peso sobre o Salmo 91
"Foi uma surpresa contundente, para mim que sou gato escaldado nas águas do livro do dr. Drauzio Varella, ter assistido à montagem que o Gabriel Villela fez do texto do jornalista Dib Carneiro Neto. Encontrei na minha experiência de espectador uma leitura nova, dinâmica e profunda, que me fez em todo instante me esquecer que um dia, há não muitos anos, eu adaptei da mesma fonte um filme chamado Carandiru." HECTOR BABENCO, CINEASTA
"Ter um espetáculo concebido por mim no Teatro Oficina é uma grande honra. O Oficina é para mim um dos templos sagrados do teatro universal e era um dos últimos lugares no Brasil onde sempre sonhei em estar. Já fui diretor artístico do inesquecível TBC, fui com o Grupo Galpão encenar um "Shakespeare brasileiro" no Globe Theatre, em Londres, e levei minha montagem de Fausto Zero, de Goethe, ao lendário Teatro Pushkin, em Moscou. Agora, outro sonho realiza-se: Salmo 91 cumprirá temporada no Oficina. Sinto-me realizando um sonho mais uma vez". (Gabriel Villela)
"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático." (DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru)
"Ter um espetáculo concebido por mim no Teatro Oficina é uma grande honra. O Oficina é para mim um dos templos sagrados do teatro universal e era um dos últimos lugares no Brasil onde sempre sonhei em estar. Já fui diretor artístico do inesquecível TBC, fui com o Grupo Galpão encenar um "Shakespeare brasileiro" no Globe Theatre, em Londres, e levei minha montagem de Fausto Zero, de Goethe, ao lendário Teatro Pushkin, em Moscou. Agora, outro sonho realiza-se: Salmo 91 cumprirá temporada no Oficina. Sinto-me realizando um sonho mais uma vez". (Gabriel Villela)
"O grande mérito do Dib Carneiro Neto foi escrever um texto que respeitou não apenas o conteúdo do meu livro, mas as características dos personagens, da prisão e, especialmente, a linguagem dos presos para criar uma polifonia de forte conteúdo dramático." (DRAUZIO VARELLA, autor do livro Estação Carandiru)
Crítica no site Aplauso Brasil!
Crítica: Salmo 91 impressiona pela humanidade pungente
por Afonso Gentil*, especial para o Aplauso Brasil (afonsogentil@aplausobrasil.com)
SÃO PAULO - Ali, na imensa solidão de um minúsculo espaço no centro do palco delimitado pela luz e cercado de paredes cenográficas que remetem à clausura dos condenados à purgação da culpa, frias e indiferentes a qualquer soluço, uivo ou imprecação, e como num “oratório” sem música, mas, de solos impregnados da tragicidade inerente à marginalidade e à morte sorrateira, justamente ali é dado ao público conhecer – sem ilações maniqueístas -, um após outro, um punhado de presos da extinta Casa de Detenção do Carandiru, flagrados na intimidade dos seus próprios sentimentos de revolta, aceitação, vingança, poder, medo ou ódio, denunciadores da, pungente e dolorida, condição existencial a que todos os seres humanos estão submetidos, independente da origem social.
Salmo 91 é de Dib Carneiro Neto, jovem, mas experiente jornalista d’ O Estado de São Paulo (editor do Caderno 2). Debutou no teatro com seu texto Adivinhe Quem Vem Para Rezar (com Paulo Autran e Cláudio Fontana), veículo, a partir daí, da sua irrefutável vocação dramatúrgica. Sobre Salmo 91 , Dib confessa no programa do espetáculo que, ao ler o relato (para nós caudaloso e hipnótico), do médico-escritor Drauzio Varella, Estação Carandiru, ficou “absolutamente fascinado” pelo que lera, decidindo-se pela adaptação ao palco. Ainda era l999, o livro ainda longe do êxito nas carreiras literária, cinematográfica e televisiva.
O trabalho de Dib, agrupando depoimentos e considerações pessoais dos presos ao Dr. Drauzio, ao longo dos anos deste no ambulatório da Casa de Detenção, é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro.
Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita.
A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo, mesmo quando na pele de travesti, por perseguirem com êxito, junto com Villela, a sinceridade dos solilóquios.
Difícil imaginar – até algum tempo atrás- que Gabriel Villela partisse para o outro extremo do estilo barroco a que nos acostumara e incomodara.
Pascoal da Conceição, Pedro Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas.
Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!
* Afonso Gentil é crítico filiado à APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)
por Afonso Gentil*, especial para o Aplauso Brasil (afonsogentil@aplausobrasil.com)
SÃO PAULO - Ali, na imensa solidão de um minúsculo espaço no centro do palco delimitado pela luz e cercado de paredes cenográficas que remetem à clausura dos condenados à purgação da culpa, frias e indiferentes a qualquer soluço, uivo ou imprecação, e como num “oratório” sem música, mas, de solos impregnados da tragicidade inerente à marginalidade e à morte sorrateira, justamente ali é dado ao público conhecer – sem ilações maniqueístas -, um após outro, um punhado de presos da extinta Casa de Detenção do Carandiru, flagrados na intimidade dos seus próprios sentimentos de revolta, aceitação, vingança, poder, medo ou ódio, denunciadores da, pungente e dolorida, condição existencial a que todos os seres humanos estão submetidos, independente da origem social.
Salmo 91 é de Dib Carneiro Neto, jovem, mas experiente jornalista d’ O Estado de São Paulo (editor do Caderno 2). Debutou no teatro com seu texto Adivinhe Quem Vem Para Rezar (com Paulo Autran e Cláudio Fontana), veículo, a partir daí, da sua irrefutável vocação dramatúrgica. Sobre Salmo 91 , Dib confessa no programa do espetáculo que, ao ler o relato (para nós caudaloso e hipnótico), do médico-escritor Drauzio Varella, Estação Carandiru, ficou “absolutamente fascinado” pelo que lera, decidindo-se pela adaptação ao palco. Ainda era l999, o livro ainda longe do êxito nas carreiras literária, cinematográfica e televisiva.
O trabalho de Dib, agrupando depoimentos e considerações pessoais dos presos ao Dr. Drauzio, ao longo dos anos deste no ambulatório da Casa de Detenção, é de extrema perícia e de impressionante síntese dramatúrgica, criando no espectador o mesmo fascínio provocado pela candência verbal espalhada pelas páginas do livro.
Pode-se falar que tanto um, no livro, como o outro, no palco, nasceram antológicos, pela sinceridade da escrita.
A boa (ou grande?) surpresa da encenação veio do tratamento austero, minimalista dado pelo diretor Gabriel Villela a todos os setores da montagem, notadamente na condução do elenco, todos os cinco atores longe da tentação do maneirismo, mesmo quando na pele de travesti, por perseguirem com êxito, junto com Villela, a sinceridade dos solilóquios.
Difícil imaginar – até algum tempo atrás- que Gabriel Villela partisse para o outro extremo do estilo barroco a que nos acostumara e incomodara.
Pascoal da Conceição, Pedro Moutinho, Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Ando Camargo, todos duplamente convincentes, dominando solitariamente o palco, dosando sabiamente ironia, compreensão e o humor subjacente de algumas situações inusitadas.
Um indiscutível e paradoxalmente belo momento da superação da arte sobre a vida!
* Afonso Gentil é crítico filiado à APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)
Blog do Merten: Reestréia no Oficina
está no blog do Luiz Carlos Merten, em www.estadao.com.br:
01.09.07
Salmo 91
por Luiz Carlos Merten, 16:49:12.
Fui ver ontem a reestréia da peça Salmo 91, que meu editor, Dib Carneiro Neto, adaptou do livro de Drauzio Varella e agora está no Teatro Oficina. Será que o Dib, crítico de teatro infantil, algum dia imaginou ter uma peça montada no templo de Zé Celso Martinez Correia? Quando estava em cartaz no Sesc Santana, Salmo 91 desencadeou uma polêmica que se estendeu por dias, semanas, no blog do Zanin (meu colega Luiz Zanin Oricchio). Não quero polemizar com ninguém, mas quero dizer que ontem quase me acabei de chorar revendo Salmo 91. Não sabia que mudanças o diretor Gabriel Villela ia fazer em sua montagem para adaptá-la ao novo espaço. Afinal, o palco do Sesc Santana era italiano e Oficina tem aquele imenso corredor central - não é uma arena -, no qual o Zé encena seus happenings.
Eu sei o quanto aquilo é longo porque numa das partes de Os Sertões, acho que na Terra, aquela valquíria imensa que integra o elenco do Oficina me catou lá em cima, onde eu me escondia - tenho horror de interação - e me fez cavalgar por todos os pisos daquele teatro, que me pareceram não ter fim.
De volta ao Salmo 91, Gabriel Villela mudou um pouco o espaço, mas não sua concepção, que continua baseada na palavra. Acho que o teatro, no limite, está se revelando um espaço mais adequado (ou privilegiado)para investigar o universo do Carandiru, mas quero dizer que, se a humanidade dos presos já era o tema do Dr.Drauzio no livro e de Hector Babenco em seu filme recordista de público - é a segunda maior bilheteria da Retomada, após 2 Filhos de Francisco -, eles (os personagens) nunca me pareceram tão dolorosamente humanos como desta vez.
Sem o entrave do palco italiano, a peça ficou mais intimista, estabelecendo uma ponte que aproxima mais a gente daquelas figuras. Claro - não é para quem pensa que preso bom é preso morto, mas é para quem acredita, como o Dr. Drauzio, como o Dostoievski de Recordações da Casa dos Mortos - com seu outro médico -, que a necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer.
E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana.
Luiz Carlos Merten
01.09.07
Salmo 91
por Luiz Carlos Merten, 16:49:12.
Fui ver ontem a reestréia da peça Salmo 91, que meu editor, Dib Carneiro Neto, adaptou do livro de Drauzio Varella e agora está no Teatro Oficina. Será que o Dib, crítico de teatro infantil, algum dia imaginou ter uma peça montada no templo de Zé Celso Martinez Correia? Quando estava em cartaz no Sesc Santana, Salmo 91 desencadeou uma polêmica que se estendeu por dias, semanas, no blog do Zanin (meu colega Luiz Zanin Oricchio). Não quero polemizar com ninguém, mas quero dizer que ontem quase me acabei de chorar revendo Salmo 91. Não sabia que mudanças o diretor Gabriel Villela ia fazer em sua montagem para adaptá-la ao novo espaço. Afinal, o palco do Sesc Santana era italiano e Oficina tem aquele imenso corredor central - não é uma arena -, no qual o Zé encena seus happenings.
Eu sei o quanto aquilo é longo porque numa das partes de Os Sertões, acho que na Terra, aquela valquíria imensa que integra o elenco do Oficina me catou lá em cima, onde eu me escondia - tenho horror de interação - e me fez cavalgar por todos os pisos daquele teatro, que me pareceram não ter fim.
De volta ao Salmo 91, Gabriel Villela mudou um pouco o espaço, mas não sua concepção, que continua baseada na palavra. Acho que o teatro, no limite, está se revelando um espaço mais adequado (ou privilegiado)para investigar o universo do Carandiru, mas quero dizer que, se a humanidade dos presos já era o tema do Dr.Drauzio no livro e de Hector Babenco em seu filme recordista de público - é a segunda maior bilheteria da Retomada, após 2 Filhos de Francisco -, eles (os personagens) nunca me pareceram tão dolorosamente humanos como desta vez.
Sem o entrave do palco italiano, a peça ficou mais intimista, estabelecendo uma ponte que aproxima mais a gente daquelas figuras. Claro - não é para quem pensa que preso bom é preso morto, mas é para quem acredita, como o Dr. Drauzio, como o Dostoievski de Recordações da Casa dos Mortos - com seu outro médico -, que a necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O monólogo do preto velho (Rodrigo Fregnan) me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que eu ia morrer.
E que ator maravilhoso é Pascoal da Conceição! Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Pascoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana.
Luiz Carlos Merten
domingo, 2 de setembro de 2007
Pequenos takes do debate com Karina Florido Rodrigues no dia 21/07/07 no SESC Santana.
No dia 21/07 em meio à confusão, produzi pequenos trechos com câmera de celular do tumultuado debate entre artistas, público e a ex-assessora do Cel Ubiratan, Karina Florido Rodrigues, no teatro do SESC Santana, onde o espetáculo cumpriu temporada de estréia. Acabei de publicar os trechos e quero compartilhá-los aqui com vocês:
Cacá Toledo.
Cacá Toledo.
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