domingo, 25 de novembro de 2007
SERTÕES
vejam essa:
Outro dia li e ouvi uma notícia que envolvia três jovens: dois irmãos que se amavam, seqüestram e matam o irmão mais novo, pedindo resgate pro pai.
Estávamos em Presidente Prudente pra apresentar SALMO 91, o nome é pra homenagear Prudente de Morais, primeiro presidente civil do Brasil, o homem que fez o papel de mandar tropa do exército executar o crime, na significação integral da palavra, do massacre de Canudos, como conta Euclides da Cunha.
Então, li a notícia no jornal do café da manha e fiquei ali meio parado, pensando, fracote, claro chocado pela violência da notícia, mas muito mais pela pobreza do imagiário destas crianças: amar, mudar de vida, crescer, fazer virar ouro as merdas que nos apresentam, sonhar outras possibilidades pra tudo que nos pode acontecer, isso todo mundo quer. Está fácil, filosofada e transmutada na poesia do Sheakespeare, Machado de Assim, Cervantes, Dostoiewisky. Mas uma noticia assim me debilita porque sinto de que quando coisas assim acontecem, e elas tem acontecido tanto, é sinal da cada vez mais urgente necessidade do nosso trabalho, tem muito que se fazer pra fermentar e ampliar os alcances desse imagiário, tendo POESIA e não o crime como fonte inspiradora da ação.
Como ator desejo sempre trabalhos que signifiquem ações nesta direção.
Terra Ignota: Ação
Sob a luz desta lua cheia, 110 anos depois, a companhia de teatro oficina vai encenar num campo de futebol da cidade de Canudos, no sertão da Bahia, do entardecer até a boca da madrugada, durante cinco dias, no mesmo território que recebeu os corpos e o sangue de guerreiros e civis de todos os lados, mortos nesta luta fratricida que foi a Guerra de Canudos, vai encenar os SERTÕES de Euclides da Cunha, cuja grandeza e importância eu nem preciso me esforçar pra lembrar.
Estarei presente para reportar, ‘in loco’, no sertão de Canudos, Bahia, ao JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, as apresentações que fará o TEATRO OFICINA UZYNA UZONA, sob a direção de José Celso Martinez Correia, dias 28, 29 e 30 de novembro e 1 e 2 de dezembro, da encenação em 26 horas que compõem o espetáculo SERTÕES, ensaiado estudado trabalhado ao longo de anos dentro da história do teatro oficina.
A TRÓIA DE TAIPAS,
Nos seus três capítulos do livro, A TERRA, O HOMEM, A LUTA, em mais de 600 páginas, Euclides nos apresenta aquela terra ignota, rememora pra gente a gênese que fez nascer o homem, o seu palco e a luta que foi lá travada, e a ignorância fez brasileiros mandarem pra lá um exército de vinte mil homens armados pra dar um fim em outros brasileiros, nossos irmãos, UM CRIME, NO SENTIDO INTEGRAL DA PALAVRA, como fala Euclides da Cunha.
Euclides esteve lá no Sertão como jornalista, CORRESPONDENTE DE GUERRA DO JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, há 110 anos atrás, enviado por Julio de Mesquita para "'in loco' observar e cobrir as operações militares em Canudos, junto a quarta e última expedição enviada contra o Conselheiro".
Inspirado por isso, e principalmente pelo nosso SALMO 91, escrevi ao jornal e propus pra ser o enviado do jornal pra ser O CORRESPONDENTE DE CULTURA E PAZ desse momento tão fantástico para o teatro do mundo todo. Pedi pra fazer o papel de mensageiro dessa transmutação e pra trazer pras gentes a graça das ações impensáveis, sonhadas pelos artistas, no tesão da imaginação criadora. E pra nossa felicidade guerreira a direção do jornal topou.
Ai, mãe!!!
Nesta segunda feira, pela manhã, embarco para o Sertão. Chego à tardinha e mandarei notícias dessa vitória da transmutação positiva das coisas, que é o nosso trabalho no teatro. Mandarei notícias da minha emoção em presenciar a arte mais uma vez oferecendo ao mundo a generosidade do seu poder criador a serviço da vida. Pensando no quanto isso pode contribuir para fazer crescer a consciência da necessidade da nossa arte, mandarei notícias, espero, do grande significado desse acontecimento que enobrece e honra a luta de todos que acreditam como é maravilhoso este mundo em que vivemos.
Evoé!
sábado, 10 de novembro de 2007
PIRACICABA
LUA NOVA
já são muitas horas principalmente dentro do ônibus conversando o tempo inteiro refletindo sobre teatro e suas ramificações e coincidências.
já passamos por presidente prudente a terra do presidente que ordenou o massacre final de canudos, uma espécie semelhante ao sérgio cabral do rio de janeiro que manda o bope resolver as questões socias.
em presidente prudente como não havia espaço para ensaiar no teatro (estávamos há quase 40 dias sem fazer a peça) a renata alvim achou para nós a casa da palavra: um templo batista vizinho do teatro. o pastor nos deu a sala em que se ensina a palavra de Deus através da bíblia, na lousa estavam escritas algumas frases estudadas pelos presbíteros: o homem de coração puro, de ações dignas verá a Deus.
Em campinas estávamos numa fábrica de balas, não de fuzil, mas doces para cosme damião e doum. a impressão minha é que éramos um recorte naqueles galpões gigantes que faziam a antiga fábrica das balas de campinas. disparamos nossas balas para chegar aos corações daquelas caras que lembravam alunos universitários, professores, mães, gente que eu não conheço ou conheço e não sei. balas, balas, doces balas.
Terceiro espetáculo, o da lua nova, com a chegada do autor, o dib. oferecemos o espetáculo para ele. ele merece. foi o mais visceral, o mais bonito dos nossos espetáculos. noite de platéia cheia, quase lotada, toda de gente de teatro, recebendo e mamando na mão da mamaezinha veronique de milus, aplaudindo zizi marli, quase gozando com o pau do charuto, cheios de espanto da força do nego preto, abençoados pelo véio valdo. merda!
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
FALA ARTAUD
"MAIS URGENTE NÃO ME PARECE TANTO DEFENDER UMA CULTURA CUJA EXISTÊNCIA NUNCA SALVOU UMA PESSOA DE TER FOME E DA PREOCUPAÇÃO DE VIVER MELHOR, QUANTO EXTRAIR DAQUILO QUE SE CHAMA CULTURA IDÉIAS CUJA FORÇA VIVA SEJA IDÊNTICA A DA FOME."
extrair daquilo que se chama cultura idéias cuja força viva seja idêntica a da fome, fome de fazer cada vez mais mais. fico triste, deprimido, desanimado, mas reparo que a fome não me abandona, mais cedo ou mais tarde ela desperta e me incomoda e surpreende e de repente me vejo me virando e revirando para viver: viva a força da idéia que dá fome de viver1
"TODAS AS NOSSAS IDÉIAS SOBRE A VIDA TÊM DE SER REVISTAS NUMA ÉPOCA EM QUE NADA MAIS ADERE À VIDA.E ESTA PENOSA CISÃO É MOTIVO PARA AS COISAS SE VINGAREM, E A POESIA QUE NÃO ESTÁ MAIS EM NÓS, E QUE NÃO CONSEGUIRMOS ENCONTRAR MAIS NAS COISAS, REAPARECE DE REPENTE PELO LADO MAU DAS COISAS;E NUNCA SE VIRAM TANTOS CRIMES CUJA GRATUITA ESTRANHEZA SÓ SE EXPLICA POR NOSSA IMPOTÊNCIA EM POSSUIR A VIDA."
li nos jornais desta manhã que dois irmãos que se amavam mataram enforcado um irmão menor para pedir um resgate e fugir. que imaginação mais perversa! é nessa bosta de cultura, de criação fraca, que está o útero que gera estas idéias perversas que depois vão povoar os sonhos e alimentar a ambição que as pessoas tem de mudar suas vidas e viver seus amores. Compreendo voce artaud quando fala da gratuita estranheza dos crimes que só se explica por nossa impotência em possuir a vida. Varre de mim meus pensamentos essa fraqueza, esse nheco nheco sem musculatura, com musculatura burguesa, como diz o Gabriel, que não tem musculos no pensamento para sonhar sonhos de riqueza para a humanidade. Poesia na gente pra revisar nossas idéias com coragem, pra mudar, pra aderir a vida.
"SE O TEATRO EXISTE PARA PERMITIR QUE O RECALCADO VIVA, UMA ESPÉCIE DE ATROZ POESIA EXPRESSA-SE ATRAVÉS DE ATOS ESTRANHOS EM QUE AS ALTERAÇÕES DO FATO DE VIVER MOSTRAM QUE A INTENSIDADE DA VIDA ESTÁ INTACTA E QUE BASTARIA DIRIGI-LA MELHOR."
eu não entendo direito esta frase, mas intuo que está no teatro, no viver a estranheza da poesia do teatro a resposta para isso que me angustia e não entendo. Teatro espaço libertário, pra fazer viver o que mais de oculto, mais encoberto viva fora de mim, em cena e não obsceno.
merda
NA ESTRADA
Nos encontramos na porta do estádio muncipal do pacaembu, três da tarde, ontem 06 de novembro.
hoje recuperamos o futebol da cena. Logo mais tem ensaio.
Presidente Prudente foi fundada em 1917, este ano, em setembro, a cidade completou noventa anos...
domingo, 4 de novembro de 2007
111 NOMES OU "I.M.L.: VIAGEM AO INFERNO"
Eu Dadá, Euclides da Cunha, sobrevivente atormentado do massacre cantei/chorei/falei isso tantas e tontas vezes na abertura da peça SALMO 91.
Por isso, neste ano em que se completam 15 anos do massacre do carandiru, quando me perguntaram na entrevista para antologia pessoal do jornal Estado de São Paulo, mandei a relação que está no título ai embaixo com 111 nomes, mas não sei porque a lista foi limada na edição. São nomes de atores que conheço. Todos eu vi representar, todos acompanho, bem ou mal.
Me inspirei pra responder assim com essa lista de nomes, numa foto que vi, e vejo novamente, no jornal da Tarde (foto de Epitácio Pessoa/AE) de 5 de outubro de 1992, na matéria IML: VIAGEM AO INFERNO do jornalista Valdir Sanches. Está lá a foto: uma mãe corre o dedo pela lista de mortos no massacre, pregada com fita crepe nas paredes do IML. Uma lista enorme, datilografada com nomes, sobrenomes, filiação: dá pra ver dois ferreira, deve ter conceição também.
A mãe percorre com a identidade aquela lista interminável, de letrinhas pequinininhas, procurando um nome. Está com a boca arreganhada de choro desesperado, de grito, de dor, de dar dó. O editor ainda fez um recorte do dedo dela na foto passando por cima do papel datilografado. Ai, meu Deus, que dor!
Pegou o momento exato onde o medo vence a esperança.
"Bosta mãe, que porra é essa de SALMO 91?"
ANTOLOGIA PESSOAL
Antologia Pessoal - Teatro
Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
111 NOMES:
Paulo Autran, Marcelo Drummond, Renato Borghi, Ivam Cabral, Fransérgio Araujo, Leona Cavalli, Claudio Fontana, Gustavo Machado, Nilton Bicudo, Georgette Fadel, Eric Novinsck, Ziza Brizola, Ana Guilhermina, Luciana Domschke, Denise Weinberg, Angela Barros, Caca Carvalho, Jairo Matos, Marat Descartes, Flavio Rocha, Raul Barreto, Claudia Missura, Claudia Chapira, Magali Biff, Denise Assunção, Rosi Campos, Zeze Barbosa, Creusa Borges, Maria Alice Vergueiro, Riba Carlovich, André Ceccato, Vagner Luiz Alberto, Ando Carmargo, Emilio Aicua, Sergio Portela, Fabiana Serroni, Otavio Martins, Paula Cohen, Camila Motta, Silvia Prado, Roberto Audio, Luiz Damasceno, Helio Cícero, Lucia Romano, Edgar Castro, Luciano Chirolli, Eucir De Souza, Debora Duboc, Leo Pacheco, Beth Coelho, Ligia Cortez, Brian Penido, Celso Frateschi, Zé Carlos Machado, Haroldo Ferrari, Ney Piacentini, Ailton Graça, Ary França, Maria Do Carmo Soares, Jair Assunção, Emerson Caperbach, Walter Breda, José Rubens Chachá, Walmor Chagas, Juca De Oliveira, Bibi Ferreira, Iara Jamra, Rodrigo Fregnan, João Signorelli, Marilena Ansaldi, Renata Zaneta, Elsio Nogueira, Cassio Escapin, Romis Ferreira, Graça Bergman, Amazyles Almeida, Dan Stulbach, Adão Filho, Dulce Muniz, Marco Antonio Pâmio, Rubens Caribé, Rodolfo Vaz, Pedro Henrique Moutinho, Jave Monteiro, Eduardo Silva, Fernando Neves, Norival Rizzo, Edson Montenegro, Juliana Galdino, Roberto Leite, Flavia Pucci, Mauricio Abud, Patricia Gaspar, Plinio Soares, Olair Cohan, Mariana De Moraes, Fernanda D’umbra, Gero Camilo, Mirtes Nogueira, Caco Ciocler, Roberto Palma, Luáh Guimarães, Jidu Pinheiro, Grace Gianoukas, Beatriz Azevedo, Bel Teixeira, Chiquinho Cabreira, Petronio Gontijo, Eliana Fonseca, Tuna Duek, Celso Sim, Aury Porto,
(Um acompanhamento especial dos atores do Teatro Oficina Uzyna Uzonaque nestes 7 anos eu acompanhei na recriação do massacre dos sertanejos n’Os Sertões de Euclides Da Cunha.
E Tem Mais, Muito Mais.